13/05/2013

A CRUZ E A ESPADA/ CAPÍTULO 4


-Me deixa passar, eu tenho que salvar o Eric, me larga!
-Você não tem autorização pra entrar aqui!
-Com ou sem autorização, eu vou entrar- empurra o segurança e passa do portão.
Graziela vê que Eric já está desmaiado e se joga na piscina para resgatá-lo. Ela levanta a cabeça do jovem e o arrasta até o mais próximo da grama que consegue chegar. O segurança corre atrás da moça.
-Onde é que você estava? Vai ajudá-la a tirá-lo d’água, rápido!
O segurança retira Eric da piscina, e Graziela sai da água. Ele se aproxima do rosto do jovem.
-Ele não está respirando.
-Não pode ser.
-Sai, sai- a moça afasta o segurança e faz respiração boca a boca.
-Reage, Eric. Acorda, por favor- Glauco está mais nervoso ao ver o sobrinho desmaiado.
-Não vou desistir de você. Não vou. Eu te amo e não vou te perder nunca!- Graziela faz novamente respiração boca a boca. Eric começa a tossir e a cuspir água, mas não abre os olhos.
-Não vou morrer, não vou morrer. Você me enganou, só queria meu dinheiro. Desgraçada! Você vai me pagar!- delira.
-Melhor levar ele pro quarto e trocar a roupa- sugere o segurança.
-Ótimo. Leva ele daqui.
-Chamem o médico, ele está com febre.
-Troca a roupa dele, que eu já te alcanço. Graziela, venha comigo até a sala.
-Ele precisa de mim, seu Glauco.
-Meu sobrinho está desmaiado e delirando, ele não deve nem se lembrar do que aconteceu agora. Vem comigo, eu vou procurar na agenda o número do médico.
-Será que ele vai ficar bem?
-Vamos rezar pra que não aconteça nada com ele.

XXXXX

Do seu carro, desce Sophia, que entra em sua residência. Os presentes comemoram a sua chegada com um “Parabéns pra você”. Jacqueline se aproxima e sussurra.
-O que houve com você? Onde é que você estava? Não deu notícias o dia todo, Sophia...
A moça se aproxima da mesa, cheia de taças que os garçons serviriam aos convidados. Num acesso de fúria, ela derruba diversas delas aos gritos, enquanto deixa a maquiagem borrar com suas lágrimas.
-Quem vai ser hipócrita de dizer que só está aqui porque gosta de mim? Todos vocês só vieram pra cá porque o Eric tem dinheiro, enquanto eu estou quase indo à falência.
-Sophia, por favor!
-Não tente me acalmar, mamãe! Você não sabe o que é sofrer em silêncio, fingindo estar gostando de alguém e ver todos os seus planos indo por água abaixo. Não sou mais a namorada de Eric Ávila, e não sendo, podem ir embora daqui.
-Minha filha, não faça isso. Olha o escândalo que você está promovendo!
-Promovida eu fui à namorada dele, mas agora não mais.              Eric Ávila sabe agora que eu sou uma verdadeira alpinista social... Agora sumam daqui. Saiam todos. Saiam! Saiam! Saiam daqui agora!
Horrorizados, todos saem achando que Sophia perdeu a razão. Jacqueline fica possessa com a atitude da filha e a levanta do chão.
-O que foi isso que eu acabei de ver?
-Não suporto mais isso. Não vou me submeter à vontade dele. Eu deixei escapar a verdade, e agora ele está com ódio de mim. Quer saber? Tanto melhor! Porque só assim eu consigo me libertar desse inferno. Inferno esse que você me pôs!
-Cala essa boca, maldita!- bate no rosto da filha- Você vai até a casa dele e vai arrumar uma forma de reconquistá-lo.
-Já falei que...
-Você não tem querer. Não vou passar o resto dos meus dias na miséria porque você não sabe segurar um namorado. Quem é que vai te querer, depois desse vexame? Hein? Tem que ser o Eric Ávila.
-Por que “tem que ser”?
-A minha vontade vai prevalecer. Forje uma gravidez, finja que está muito doente, qualquer coisa. Mas vá à casa dele e faça de tudo para recuperá-lo. Eric Ávila é a nossa única saída. E não ouse me desobedecer! Jamais!

                                                                                       XXXXX               

O médico particular da família Ávila sai do quarto de Eric e vai falar com Glauco e Graziela.
-E então, doutor?- pergunta Glauco, ainda apreensivo.
-Dei um antitérmico para o seu sobrinho. Vamos esperar agora a febre ceder. No entanto, tenho notado que ele ainda está muito nervoso, agitado... Sabem o que pode ter acontecido com ele?
-Sinceramente, eu não faço ideia. Você sabe, Graziela?
-Aconteceram muitas coisas fortes com ele, seu Glauco. Ele sofreu um acidente de moto. Nós tentamos falar com o senhor pelo celular, mas a ligação não quis pegar.
-Bom, não é à toa que ele está nervoso desse jeito.
-E também porque eu tive uma discussão com a namorada dele, e ela acabando falando mais do que devia. O Eric praticamente fugiu do hospital e veio pra cá.
-Tudo isso não faz sentido- raciocina o médico- Por que, então, ele tentou se matar se jogando na piscina? Apenas por conta da briga com a namorada?
-O Eric não raciocina, é capaz de fazer qualquer loucura por conta daquela mulher. Bom, seu Glauco, eu vou embora.
-Mas agora? Meu sobrinho precisa de você, Graziela!
-Ficou bem claro que não. Não foi por mim que ele chamou. Tenho que voltar pra casa.
-Também já está na minha hora, Dr. Glauco. Qualquer coisa, o senhor pode me localizar pelo celular.
-Muito obrigado, doutor- quando está sozinho na sala, reflete- Ele não fez isso só por causa da Sophia. Alguma coisa ele não quis contar. Mas eu vou descobrir o que é.

XXXXX

Graziela volta pra casa e encontra Téo fazendo as malas.
-Conseguiu encontrar o Eric?
-O que é que você está fazendo?
-Não é óbvio, Graziela? Saindo do apartamento. Voltando pra minha casa, de onde eu não devia ter saído.
-Você saiu de lá pra construir uma vida comigo, lembra?
-Lembro. E pra você me dizer isso, só pode ter tido mais uma decepção com ele. O que foi agora? Veio com alguma proposta de ficar com ele agora que ele está livre e desimpedido?
-Tenho medo, às vezes, de descobrir qual é a imagem que você tem de mim.
-O que eu poderia pensar? O óbvio: que você ama o Eric. Sinceramente, não acho isso errado. Uma das coisas que eu mais quero na vida é a sua felicidade. O problema é que eu quero ser feliz com você. Margem pra isso você não dá.
-Téo, me escuta...
-Faço isso sempre. Chega, Graziela. O táxi está esperando lá fora.
-E se eu te pedisse mais uma chance?
Téo deixa a mala cair.
-O quê?
-Tentar de novo, começar outra vez? E se for eu quem tomar a iniciativa de ser feliz dessa vez? Junto com você? Tudo depende do que você me responder agora.
O rapaz olha pra cima e não consegue esconder suas lágrimas.
-Quando eu já estou decidido a mudar, a abrir um caminho novo, quando eu desisto... Você vem me dizer tudo aquilo que eu esperei um ano pra ouvir? Isso, se eu não disser “a vida toda”. Agora, você acha que tem o direito de me colocar entre a cruz e a espada, me dando o poder de definir a sua vida?
-Entre a cruz e a espada, estamos o tempo todo. O direito só é seu porque eu dou a quem me ama de verdade.
-Pois eu vou pensar sobre ele. Agora, Graziela, eu não posso responder pelo futuro, mas tenho certeza de que, neste momento, não quero você- apanha a mala e vai embora.

XXXXX

-Posso entrar?
-Entra, tio.
-Eric, quer conversar?- o sobrinho se mantém em silêncio- Certo... Sei que talvez não seja o momento adequado, mas eu preciso saber: o término com a Sophia foi o motivo pra você ter tentado se matar?
-Tio, por favor...
 -Foi ou tem algo mais?
-Se o senhor já sabe que eu não tenho mais nada com ela, não sei por que me pergunta.
-Desde que seus pais... Enfim, desde que você ficou órfão, eu deixei bem claro que poderia contar comigo. Não acho que você esteja correspondendo às minhas expectativas. Abra-se comigo.
-Não tenho mais nada a dizer, tio. Nada.
-Por mais que você tente me esconder, eu sei que alguma coisa aconteceu desde o acidente de ontem.
-Nós queremos falar com ele agora!- grita Jacqueline.
-A voz da mãe da Sophia- atenta Eric.
-Provavelmente, ela quer saber notícias suas- levanta-se da cama- Eu vou autorizar a entrada.
-Não deixe entrar?
-Mas, Eric...
-Principalmente se a Sophia veio junto com a Jacqueline. Não olha pra mim desse jeito, tio. Faz o que eu estou te pedindo.
-Se você insiste tanto...
Ao chegar ao portão, o segurança se aproxima.
-Essas mulheres querem o ver o Eric, Dr. Glauco.
-São a ex-namorada e a ex-sogra dele. Como você é novo na segurança da nossa mansão, eu não tive como avisá-lo sobre isso. Pode deixar, que com elas eu me entendo.
-Ex-namorada? Glauco, você não vai dar ouvidos ao Eric, que está com raiva da Sophia e...
-Doutor Glauco, Jacqueline. Doutor! E vamos ter uma conversa aqui, do lado de fora da minha casa.

XXXXX

Eric começa a se lembrar do que aconteceu quando se jogou na piscina. Lembra-se que, na água, só lhe vinham à cabeça a decepção com Sophia e o diagnóstico de Dr. Gonçalves. No entanto, outra passagem vem à tona, de um ano atrás.
-Eric, preciso falar com você.
-Você está nervosa, Graziela. O que houve?
-Pra falar a verdade, nem sei como começar. Olha só, eu sei que somos amigos há muito, mas eu nunca tive coragem de contar. Eu sou completamente apaixonada por você.
Em seguida, surgiu a lembrança do momento em que foi resgatado, na mansão.

XXXXX


-Ele não está respirando.
-Não pode ser.
-Sai, sai- a moça afasta o segurança e faz respiração boca a boca.
-Reage, Eric. Acorda, por favor- Glauco está mais nervoso ao ver o sobrinho desmaiado.
-Não vou desistir de você. Não vou. Eu te amo e não vou te perder nunca!- Graziela faz novamente respiração boca a boca.

XXXXX

-Graziela. Apaixonada por mim... Mas será que ela... Será que ela ainda gosta de mim, mesmo depois de... Será que ela vai me querer, depois de eu ter trocado ela pela Sophia? E se a minha melhor amiga for a minha chance de ser feliz antes de morrer?

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