12/05/2013

A CRUZ E A ESPADA/ CAPÍTULO 3


-Quis deixar tudo bem claro. Eu não tenho porque mentir pra você. Mas eu quero que você se lembre de que é possível uma cura.
-Como? Ficando meses internado? Perdendo cabelo? Me esquecendo de viver pra conseguir ter um resto de vida?
-Tem que vir aqui pra fazer mais alguns exames, eu me comprometo a acompanhar seu caso. Só peço que não desista sem saber o que vai acontecer.
-Eu... Eu vou pensar no que o senhor me disse. Pior é que eu tinha vindo aqui procurar o exame e achar algum erro nele que... Foi inútil.
-Vem aqui amanhã, eu te prometo que falo com meu colega oncologista.
-Amanhã eu posso nem estar vivo. Se não for pela doença, é porque eu...
-Para. Você tem que lutar até que alguém chegue e te diga “não”. Vem amanhã, e a gente faz mais exames pra saber o que fazer no teu caso.
Quase sem enxergar Dr. Gonçalves por conta das lágrimas, Eric pergunta:
-Já posso sair? Tenho que ver meu tio, ele deve estar preocupado comigo.
-Não faça nada pra se arrepender depois. Talvez você vá precisar de ajuda e ninguém possa te oferecer.
-Eu não vou me matar. Quer dizer... Não agora.
-Eric!
-Pode parar. Pode parar de falar como se eu fosse seu filho. Já disse que ninguém consegue me entender.
-Não posso fazer nada se você não me deixar te ajudar.
-Recuso ajuda. Pode parecer egoísmo da minha parte, mas é a última coisa que eu quero agora. Dá a impressão de que qualquer pessoa vai começar a sentir pena de mim.

XXXXX

-Como é que você fala assim comigo? O que você pensa que eu sou?  Uma mulher que não sabe amar? Ou que escolhe destruir o coração das pessoas que me cercam?
-Às vezes, eu ponho minha cabeça no travesseiro e me pergunto se talvez não seja essa sua diversão.
-Não pode ser amor o que você sente por mim. É uma obsessão. Você acredita que eu amo mais o Eric que é meu amigo do que você que é o meu namorado.
-Graziela, por favor! Só de respirar, você deixa bem claro que é ele o cara em quem você pensa. Você só não está com ele porque ele não quer. Mas eu sou um idiota, que fica insistindo, mendigando sua atenção, enquanto ele, sem esforço nenhum, está no centro dela.
-Pra quê você me quer, Téo? Você fala como se não me amasse, como se quisesse me exibir como um troféu, como se me conquistar fosse uma vitória numa luta que não existe.
-Faço isso porque eu te amo. Eu quero te mostrar que talvez o meu maior inimigo não seja o Eric. É contra você que eu luto. Contra você.
-A chance que eu te dei? O que é que você me diz disso, Téo? Eu abri meu coração. Fiquei desesperada quando eu me declarei pra ele, e não me quis. Daí que você me pediu uma chance e eu te dei! O que você quer mais de mim? Fala!
-Custa se entregar?
-Você não sabe o quanto. Porque além de eu amar quem eu não quero, ainda sofro cobrança de um sentimento que eu não posso dar. Se é a verdade que você quer, eu amo o Eric.
-Podia ter perdido há mais tempo essa batalha.
-Mas por que você está me olhando desse jeito?
-Porque eu devia ter jogado a toalha. Sei lá, eu pensei que com o tempo... Não interessa o que eu pensei. Vai em frente. Agora não pode me acusar de impedimento.
-Nunca foi você. É ele mesmo. Ele... E essa paixão que ele sente pela Sophia.
-Que vai durar por muito tempo, pode ter certeza- Sophia surpreende ambos.
-Eu não estou acreditando... Você estava ouvindo nossa conversa?
-Todos os detalhes. Se o seu namorado vai ficar calado, eu não vou me esconder. Nem vou ficar calada, porque tenho muito ódio pra despejar em cima de você. Quer dizer que eu estava certa? Você é louca pelo Eric?
-E daí? Você acha que, de uma hora pra outra, ele vai terminar o namoro pra ficar comigo?
-Tenho certeza de que não vai.
-Do que você tem tanto medo? Qual é o perigo que eu represento pra você?
-Você não significa nada pra mim. E muito menos pro Eric. Aliás, principalmente pra ele, não é mesmo? Falei com o médico, mesmo não tendo entrado no quarto, e ele disse que meu namorado acabou de receber alta. Ótimo. Não vou precisar ficar aqui. Posso comemorar meu aniversário na festa que ele mandou fazer pra mim, na minha casa. Com licença.
Segundos depois, Téo olha para Graziela, que decide ir atrás de Sophia.
-Graziela, espera! Onde é que você vai?
-Não vem atrás de mim!- na saída do hospital, alcança Sophia, puxando-a pelo ombro- É só por isso que você se interessa? Pela festa que o Eric bancou? Não passa pela sua cabeça que ele quase morreu hoje? Claro que não passa. O que importa é o dinheiro que ele pode te dar.
-Certo, Graziela. Está certa, sim. É só pelo dinheiro que o Eric pode me dar que eu estou com ele. Satisfeita? Confessei! Só que uma coisa você pode ter certeza: ele nunca vai olhar pra você. Nunca! Porque pra ele, você e nada são a mesma coisa...
Graziela perde a paciência e esbofeteia Sophia, que cai no chão e é amparada por Téo.
-Para com isso, Graziela! O que deu em você? Eric?- o rapaz se surpreende ao ver o amigo fora do quarto.
-Dinheiro? É por isso que você namora comigo? Por causa do dinheiro?
-Eric, não foi isso que eu quis dizer! Eu estava fora de mim, a Graziela estava me provocando...
Mancando, Eric vai rapidamente até um ponto de táxi, enquanto Sophia chama por seu nome. Graziela, ao ver o rapaz indo embora, pede para que um taxista o siga. Sophia fica desesperada e Eric fica com mais raiva do melhor amigo.
-Ele conseguiu. Tanto fez que conseguiu. Desgraçado.

XXXXX

Glauco está sentado na piscina de sua mansão, e não escuta o barulho de um veículo se aproximando da sua casa.
-Onde é que o Eric se meteu? Não deu notícia o dia todo... Vou ligar para a casa da Sophia.
Quando o tio de Eric entra, o jovem aparece e se aproxima da piscina, aos prantos. Lembra-se das coisas horríveis que escutou de Sophia e Dr. Gonçalves. Prestes a pegar o telefone, Glauco recebe uma ligação do segurança da casa.
-Dr. Glauco, o Eric acabou de chegar.
-Até que enfim. Mas por que ele não entrou ainda?
Outro táxi chega à residência de Glauco e Eric. Graziela fala com o segurança que está conversando com o patrão.
-O Eric chegou?
-Quem está aí?- pergunta Glauco do telefone.
Eric se desespera cada vez mais e olha seu reflexo na água da piscina. Sem saber nadar, o garoto se atira. Sua queda é ouvida por Glauco, que vai conferir o que houve do lado de fora. Ao vê-lo se afogando, o tio do jovem fica em pânico.
-Eric! Eric! Segurança!
-Que gritos são esses?- escuta Graziela, ainda do lado de fora.
-O Eric está morrendo! Socorro!- grita Glauco.
-Não! Me deixa entrar! Me deixa entrar, ele vai morrer! Deixa eu salvar o Eric, ele não sabe nadar- o segurança tenta impedi-la- Me larga! Me solta! Eric! Eric!

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