24/05/2013

A CRUZ E A ESPADA/ CAPÍTULO 12



-Isso é mentira! Isso é mentira- Jacqueline grita, inconformada- A Sophia está grávida, sim! Está esperando um filho seu.
-Você fez mal em não abrir o exame antes de sair de casa. Te poupava dessa vergonha. Se não acredita, leia então- entrega o exame.
-Não pode ser.
-Mãe, isso é impossível.
-Esse exame... Ele só pode estar errado. Vocês têm que acreditar em mim. A Sophia está...
-Cala a boca, Jacqueline- interrompe Glauco- Acabou a farsa. Seu teatro não tem mais sentido. Você não vai me atingir, por mais que queira ou aja pra isso. Sua filha sabe o porquê do seu plano?
-Eu não admito que você me ofenda!
-Certo. Tenho que ficar calado, na minha casa, pra escutar as suas sandices? Pois muito bem, todos agora vão saber por que a Sophia se aproximou do Eric. A Jacqueline e eu tivemos um romance no passado, muito antes de casarmos. Mas eu a desprezei porque queria subir na vida. Pouco tempo depois, eu me arrependi da minha escolha. E quando fiquei viúvo, até tentei procurá-la para tentar voltar com o nosso relacionamento. Só que... Quando eu vi a mulher amarga na qual ela se transformou, ambiciosa e perigosa, finalmente entendi que precisava me afastar dela.
-Sendo assim, que sou eu pra negar, não é, Glauco? Seu tio está certo, Eric. Tudo foi um golpe pra destruir sua família perfeita. Se ele- aponta para Glauco- conseguiu subir na vida passando por cima dos meus sentimentos, por que eu teria consideração com alguém dessa família? A verdade é que a Sophia foi instruída por mim. Ela não gosta de você. Pra ela, é um sacrifício ter que conviver com você- Eric vai fechando a mão direita- Seu valor é o dinheiro dos Ávila. Mas pra ela, nem o dinheiro conta. Porque você não passa de um inseto que a gente consegue esmagar...
Perdendo a cabeça, o jovem acerta um soco em Jacqueline, que cai ao chão, completamente tomada pelo ódio à família Ávila que só aumenta.
-Não toca na minha mãe! Não toca na minha mãe, desgraçado- Sophia bate em Eric, e Glauco tenta separá-los.
-Me larga, não encosta em mim, Sophia! Não encosta, senão eu acabo com você!
-Acaba! Bate, sem-vergonha! Eu quero ver se você é homem pra repetir comigo o que você acabou de fazer com ela!
-Não seja por isso...
-Chega, Eric! Chega! Se controla!- Glauco o afasta de Sophia.
-Deixa, Glauco. Deixa ele bater. Quero ver se o inseto tem coragem, se bem que um inseto tem mais valor do que você.
-Desgraçada!
-O que a minha mãe falou foi pouco perto do que eu fiz pra me vingar. Sabe como foi que eu me vinguei naquela noite em que você me humilhou na festa?
-Nem mais uma palavra! Fora da minha casa! Eu vou chamar os seguranças- anuncia Glauco.
-Vamos sair daqui, sim, Glauco. Mas uma coisa eu aviso: nem que eu perca tudo o que tenho, você e o Eric vão pagar por cada humilhação que a minha família está passando.
-O preço está sendo pago, Jacqueline. Mas não somos nós que estamos pagando. Você vai demorar com suas ameaças de sempre ou a segurança terá de ser acionada? Sumam daqui. E não voltem nunca mais. Do contrário, são vocês que vão se arrepender.
Jacqueline se reergue e toma a filha pela mão, saindo da mansão em seguida. Eric dá um abraço no tio, emocionado.
-Obrigado por ter me contado a verdade. Obrigado por ter me protegido, por ter mostrado a verdade, tio.
-Me perdoa por não ter te contado tudo antes. Mas eu passo por cima de quem for pra não deixar que esmaguem você. Eu te criei pra vencer. E isso você vai conseguir, ainda que eu não esteja mais aqui.
-Não fala isso nem brincando. O senhor é a minha família. Se eu te perco, eu...
-Tudo bem, tudo bem... Não vamos falar disso agora. É um momento de alegria. Seus olhos foram abertos. Daqui a pouco, a Graziela e você vão abrir os corações para o amor mais puro. Mas antes, você tem que resolver as pendências do seu passado.
Os empregados ficam emocionados com o novo abraço trocado e batem palmas. Eric, por sua vez, acredita que o conselho do tio é válido e decide acertar as contas com alguém que precisa ter uma conversa séria.

XXXXX

O dia amanhece. Jacqueline não conseguiu dormir e Sophia não conseguiu se abrir com a mãe para contar o que havia acontecido.
-Tão perto... Tão perto de destruir aquele canalha do Glauco... E eu falhei. Onde eu errei pra que isso acontecesse, onde?
-A senhora nunca me contou essa estória de ter namorado o Glauco Ávila na juventude...
-Era uma coisa que cabia a mim e a ele. O Eric, mesmo, não sabia de nada. O que me intriga é como esse exame deu negativo. Eu falei com o médico e pedi pra ele colocar o contrário do exame... A não ser que...
-Que o quê?
-Que você esteja grávida!Grávida de outro homem, de quem estava contigo naquele táxi- agarra-lhe- Quem é ele? De quem se trata? Eu preciso saber a verdade! Quem é o pai do seu filho?
-Mãe... – surpresa com a notícia de que está grávida.
-Fala de uma vez. Fala, Sophia! Quem é o pai dessa criança?
-É o Téo! Pronto, falei! É o Téo!
-Téo... Mas o único Téo que eu conheço é o... Era essa a vingança contra o Eric? Irresponsável! Você engravidou de um homem que sequer te dirige a palavra, apenas pra atingir o namorado rico, milionário e que ainda está interessado em você! Ainda por cima com o amigo de infância dele. Você me prejudicou e enterrou a chance de nos tirar da miséria! Maldita!
-Eu amo o Téo. Eu me descobri apaixonada por ele. Aconteceu de um jeito que... O Eric nunca conseguiu despertar isso em mim.
-Nojo. É isso que eu sinto por você. Asco! Isso não vai ficar assim. Eu não lutei tanto pra nada. Não vai ficar assim!
-Mãe! Onde é que a senhora vai?
-Se você inventar de vir atrás de mim, eu cometo uma loucura. Me deixa, Sophia! Me deixa!- bate violentamente a porta.

XXXXX

Dr. Gonçalves chega à casa de Eric.
-Eric Ávila, por favor.
-Um minutinho que eu vou chamar. O senhor é quem?
-Sei quem ele é. Pode sair, Sônia.
-Com licença.
-O senhor aqui? Como soube o meu endereço?
-Procurei pela lista telefônica. Eric, precisamos conversar sobre uma coisa muito séria.
-Se for sobre o exame, eu não quero saber.
-Você tem que me escutar.
-Escutar o quê? Pra vir me procurar, só pode ter descoberto que o meu caso é mais grave. Ou que não tem solução...
-Você não tem nada!
-O quê?
-Você não tem nada.
-Calma aí... Explica isso direito.
-O laboratório ligou pra mim e confirmou que o seu exame teve o resultado trocado acidentalmente. Você está ótimo de saúde. Quem está doente é outra pessoa.
-Não acredito... – sorri, aliviado- Eu vou viver. Viver, doutor. Faz tempo que eu não consigo dizer isso: “viver”! Pra mim, não tinha mais solução. Eu nem quis procurar ajuda!
-Não souberam explicar como isso aconteceu, mas quem está doente é um rapaz da sua idade, que fez o exame um dia antes do seu. Agora, eu vou ter que procurar esse rapaz e dar a notícia. Téo Andrade.
-O que tem o Téo Andrade?
-Ele está doente. Ele recebeu o diagnóstico de que estava bem, enquanto você... Bom, eu achei que era minha obrigação de te contar a verdade.
-O Téo... O Téo... Que loucura é essa?
-Você conhece o Téo Andrade?
-É meu melhor amigo. Foi meu melhor amigo. Eu... Eu preciso contar pra ele. Ele vai ficar arrasado. Obrigado por ter falado a verdade, doutor. Eu vou à casa dele. O Téo- as lágrimas vêm à tona- tem que saber a verdade. Sônia!
-Pois não, Eric?
-Manda o motorista preparar o carro. Eu vou... À casa do Téo.

XXXXX

Téo olha para a sua mala, quase pronta, quando a campainha toca. Ele vai atender sem saber que Jacqueline está escondida, observando Eric à porta.
-Eric. Acertou meu endereço novo. Quando eu morava no apartamento com a Graziela, nem passava lá. Só tinha tempo pra Sophia.
-Posso entrar?
-Fala daí.
-Eu tenho uma coisa séria pra falar com você.
-Sabe que eu também? Queria muito te ver e contar a verdade.
-Verdade? Que verdade?
-A Sophia não adiantou os detalhes? Pensei que ela já tivesse falado, e por isso tinha vindo aqui.
-Qual o assunto que você tem com ela?
-Nenhum. Ate porque a gente foi pra cama sem assunto nenhum.
-Do que você...
-Surpreso? Não sei por quê. Afinal, você não terminou com ela? Não estavam livres e desimpedidos? Aliás, livres, não, não é? Pelo menos você tem a Graziela como prêmio de consolação.
-Você não fez isso. Não, Téo. Você é...
-Seu melhor amigo? Aquele pra quem eu me abri e disse que queria investir na Graziela, porque sempre fui apaixonado por ela em silêncio? Aquele que quando soube que você tinha dado um fora nela, não perdeu tempo e foi sincero com você? Se você tivesse se apaixonado por ela antes, eu tinha tirado meu time de campo, porque você era como um irmão pra mim. Eu sempre te respeitei. Mas essa palhaçada que você fez comigo, de esfregar na minha cara qual era a preferência dela... Você não acha, realmente, que eu ia ser bonzinho com você, acha?
-Usar a Sophia pra se vingar de mim? Foi isso o que você fez?
-Você usa as pessoas como quer- levanta a voz- A gente tem que seguir as regras do jogo que você dita, desde sempre. Só tem uma coisa que eu lamento nisso tudo: foi não saber se contigo, ela teve a mesma sensação de prazer que teve quando eu trouxe a Sophia pro meu apartamento.
Eric dá um soco em Téo, que cai ao chão. Logo, ele levanta o amigo, agarrando-o pelo colarinho.
-Você não podia ter feito isso comigo!
-Era pra eu ter consideração por você? Que ficou o tempo todo minando meu namoro com a Graziela? Que ficava como um fantasma cercando a gente? Se tem alguém pra se queixar, “meu amigo”, esse alguém sou eu.
-Desgraçado!
-Mas não pense que tudo vai se resumir à vingança, não. A Sophia é a mulher que eu quero, e eu vou lutar por ela. Porque eu sei muito bem que, mesmo que você fique com a Graziela, é a Sophia quem você ama!
-Eu vou acabar com você!- novamente, desfere outro soco, sem esperar que o amigo revide duas vezes.
-Não volta mais aqui! Se você voltar, eu acabo com a sua vida.
-Quero ver se você vai conseguir com o pouco tempo que te resta de vida.
-Isso é uma ameaça?
-Não, isso é a vida, que vai te dar o troco- aperta o botão do elevador. Um garoto está passando pelo corredor com sua bola. Vendo que o elevador não funciona, decide descer às escadas. Jacqueline está escondida, ainda observando a briga entre Eric e Téo, que segue o rapaz.
-O que você quis dizer com “pouco tempo”, Eric?
-Não chega perto de mim. Não chega perto porque senão eu mato você. Eu jogo você dessa escada!
Uma moça põe a cabeça para fora da porta e grita.
-Júnior, vem pra casa agora. Rápido!
A criança, assustada com a cena, corre para dentro do seu apartamento.
-Mata nada. Quero ver você ter tanto ódio quanto eu tenho de você.
-Como é que a gente chegou a isso? Você era meu confidente, meu amigo, meu irmão.
-Tudo destruído por você mesmo. Agora, chega de conversa. O que você quis dizer com “pouco tempo”?
-Descubra sozinho, se puder- continua descendo às escadas. É nesse momento que Jacqueline o surpreende.
-Téo?
-Quem é a senhora?
-Eu sou a mãe da Sophia. A mulher que você engravidou.
-O quê?
-A minha filha está grávida, Téo. Grávida de um filho seu. Você a engravidou naquela noite, em que pegaram um táxi juntos.
-Isso é verdade?- sorri- Eu tenho que... Tenho que falar com ela. Mas... Como foi que ela descobriu?
-Eu vou te contar como. Nós estávamos na casa do Eric, tentando convencê-lo de que a Sophia estava esperando um filho dele. Subornei um médico e o mandei falsificar um exame de gravidez- fala pausadamente enquanto chora e assusta Téo- Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que ela estava mesmo grávida e que eu tinha perdido a chance de voltar a ser rica? Tudo por sua culpa, porque você a seduziu.
-A senhora usou a Sophia pra dar um golpe no Eric? Como é que a senhora faz isso com a sua filha?
-Não me importa se ela é minha filha ou não. Eu tenho poder sobre a vida dela e vou fazê-la tirar essa criança. Porque eu não vou sustentar filho e um pé-rapado como você. E assim, o Eric vai voltar pra ela e ninguém vai impedir.
-Eu vou. Sophia não vai tirar criança nenhuma, ainda mais sendo minha. Eu não vou deixar que a senhora toque na Sophia.
-Sabe por que eu estou contando tudo pra você? Porque eu tenho certeza de que você não vai abrir sua boca- aproxima-se.
-Não só pro Eric, mas pra polícia também. Porque se a senhora fraudou, ou mandou fraudar algum exame, a justiça vai saber. Eu pago qualquer preço pra Sophia não sofrer as consequências da sua maldade. Nem ela, nem meu filho. Como é que a senhora tem tanta certeza de que eu não vou...
Jacqueline, violentamente, empurra Téo escada abaixo. Desce lentamente e ao se abaixar, percebe que os braços do jovem estão com sérias escoriações e manchas. Ela põe sua perna direita sobre o pescoço do estudante e fala.
-Morre! Morre, maldito. Se você quiser ver seu filho, vai conhecê-lo no inferno!- sai alguns minutos depois de Eric. Já na rua, completa- Prédios sem câmeras escondidas, sem porteiro, sem gente na rua... Um perigo, que lástima... – Jacqueline põe seus óculos escuros e chama um táxi.

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