-Não. Fui ao seu quarto.
Procurei em suas gavetas e encontrei o exame de sangue que dizia o que você
tinha.
-Eu não queria que o
senhor soubesse.
-Que justificativa você
me daria?
-Não sei. Não pensei em
contar pra ninguém. Muito menos pra você.
-Eu era o mais interessado,
você não pensou nisso?
-A única coisa que me
veio à cabeça é que você era quem mais ia sofrer.
-Por isso mesmo. Há
muito tempo que o senhor deixou de ser meu tio e passou a ser meu pai.
-Nós vamos procurar um
médico e...
-Não. Não até eu ter
certeza.
-De quê?
-De que eu vou enfrentar
tudo isso ao lado da Graziela, que é a garota que me ama de verdade.
-Você não ama a
Graziela.
-Como é que você pode
saber o que sinto?
-Amor nasce com a convivência,
no dia-a-dia, e não de uma hora pra outra. O que você quer é fugir do que sente
pela Sophia, que nada mais é do que uma paixão doentia.
-Eu sei, eu sei disso,
tio- levanta-se e anda pela sala- Mas como eu posso tirar a Sophia da mente?
-Tem que se lembrar do
motivo que te afastou dela. A ambição não leva a lugar nenhum.
-Uma vez, você me disse
o contrário.
-Só que eu nunca pisei
em ninguém, nem ousei passar por cima das pessoas. E o que a Sophia está
fazendo é muito pior. Ela sabe que você conhece o verdadeiro caráter dela e
mesmo assim, consegue te seduzir.
-Eu não me deixei
seduzir por ela, eu tenho certeza de que não aconteceu nada.
-O que explica, então, a
atitude da Graziela? Uma crise violenta de ciúmes? Eu não acredito nisso.
-A Sophia... Veio me
procurar pra devolver a chave do carro...
-E depois...
-Não sei de mais nada,
não consigo lembrar. Tio, eu acho que ela me dopou, colocou algum remédio...
Não sei... Quando eu acordei, a Graziela tinha nos surpreendido na cama, sem
roupa...
Glauco chega perto do
rosto de Eric.
-Você andou bebendo.
-Claro que não, tio. Que
ideia é essa?
-Você bebeu, Eric. Pode
até não se lembrar com detalhes do que houve entre você e Sophia, mas você se
embriagou. Fez de caso pensado. O que aconteceu no seu quarto foi por conta
desse amor obsessivo que você faz questão de nutrir por essa moça.
-Eu não amo a Sophia!-
brada.
-Não minta pra mim.
Minta pro seu coração. Porque enquanto eu viver, com ela você não fica- vai ao
escritório.
-Meu tio tem razão. Eu
não posso amar a Sophia, nem enganar a Graziela. Mas como eu posso tirar de mim
o que sinto? Como?- pensa.
XXXXX
O carro de Téo deixa
Sophia na porta de sua casa.
-Eu não sei nem como
agradecer a você pelo que fez por mim.
-É o mínimo. Mas acho
que você devia conversar.
-Se eu te contasse que
esses machucados foram causados pela sua namorada, você acreditaria?
-Graziela não é mais
minha namorada. E não acredito que ela fez isso.
-Mas fez. E sabe por
quê? Porque me viu com o Eric na cama.
-Reataram? Mas o Eric...
Eu vou te contar... Isso também é pedir pra ser enganado.
-Olha aqui, eu não
admito nenhum tipo de gracinha, entendeu? O que eu sinto pelo Eric é muito
sincero. Aquilo que eu falei foi... Um rompante. Uma coisa sem importância.
-Não é o que o Eric
pensa. Tanto que ele está com a Graziela.
-Ele apenas alimenta a
ilusão dela, mas sabemos que isso não vai pra frente. Você sempre vai ser o
apoio dela quando o Eric me escolher.
-Porque você não viu os
dois se beijando, como eu vi. Seu ex-namorado ligou pra mim e armou pra que eu
visse os dois juntos.
-De qualquer forma, eu
venci a Graziela. E ela vai ter que se contentar com você.
-Quem sabe você também
não se contentaria?
-Isso me soa uma
proposta de vingança. Uma troca de casais. O Eric rouba a Graziela de você e,
em contrapartida, você fica comigo.
-Talvez seja uma boa
ideia. Morro de vontade de dar o troco no meu melhor amigo.
-Fica tranquilo. A
Graziela só vai reatar o namoro contigo porque ela não tem mais opção. Com o
que aconteceu hoje, vai ser muito mais fácil de ter o Eric de volta. Obrigado pela
carona- desce do carro, ainda na chuva.
XXXXX
O médico particular da
família Ávila volta ao escritório.
-Fez o que eu mandei,
doutor?
-Sim, coletei o sangue do Eric e dei pontos
no ferimento. A amostra está aqui. O que eu faço com isso?
-Eu quero que o senhor mande o sangue do meu
sobrinho para um laboratório e veja se ele está com algum problema de saúde. Se
estiver, quero detalhes sobre a gravidade. Tudo em segredo.
-Posso mandar para um laboratório de
confiança hoje mesmo. Mas não entendo por que este procedimento é confidencial.
-Desconfio que o Eric esteja doente, mas
quero ficar a par de tudo antes mesmo dele.
XXXXX
Jacqueline volta para a sala e vê Sophia
entrando.
-Minha filha, o que aconteceu?
-Aconteceu que seu plano saiu melhor do que a
encomenda.
-O Eric fez isso com você? Ele desconfiou de
alguma coisa?
-Desconfiou, mas não é dele a culpa de eu
estar assim. Foi a Graziela.
-Graziela? Esse nome não me é estranho... Não
é a amiga de infância que é louca por ele?
-Essa mesmo. Eu mandei uma mensagem pra que
ela pensasse ser ele o remetente, marcando um encontro. Quando ela chegou e nos
viu sem roupa em cima da cama... Nossa, ela ficou possessa e partiu pra cima de
mim e do Eric.
-Sophia, você se arriscou demais à toa. Qual
a finalidade de dar atenção a essa fulaninha, minha filha?
-Porque você não sabe o que eu descobri: o
Eric foi o responsável pelo término do namoro dela. Ou seja, não demorou nada
pra gente romper e ele correr atrás de outra. Isso, mamãe, é marcar território!
-Tem razão. Pensou bem, Sophia. Agora, só
falta resolver o problema do exame de gravidez.
-Como é que a senhora vai resolver isso?
-Eu tenho meus contatos, meu amor. Por
enquanto, você vai cuidar desses ferimentos e ficar quieta. Mas dentro de
alguns dias, você vai ao Eric dizer que está grávida.
XXXXX
Graziela sai do banho num roupão para atender
à porta de seu apartamento. Ao abrir, logo se decepciona.
-Pensei que a gente não fosse se ver tão
cedo.
-Vim até aqui porque é uma emergência.
-Com esse buquê de flores na mão?
-Cada minuto que eu passar sem você vai ser
pior pra mim. Pega. É seu. Meu coração também é, Graziela.
-Obrigada- cheira as rosas, jogando o buquê
pela janela.
-Não acredito que você fez isso.
-É o mesmo que aconteceu com aquelas flores
que você comprou quando caiu da moto. Certas coisas nunca chegam ao seu
destino. As flores não chegaram pra Sophia, e o meu amor não chegou ao seu
coração.
-Dá pra tirar a Sophia da pauta ou está muito
difícil de implicar comigo, Graziela?
-Não, Eric. Infelizmente, não. Aquela imagem
de vocês na cama não me sai da cabeça. Mas quem sabe se eu não lembrar mais
ainda, eu me esqueço de você de uma vez por todas?
-Cala essa boca. Eu sei que você me quer.
Está magoada comigo, mas eu não tenho como provar que a culpa daquele incidente
não foi minha.
-Foi minha! Eu podia ter sido poupada disso,
sabia? Se não fosse a minha burrice, nessa hora eu estaria feliz do lado de
Téo.
-Tenho certeza que sim. Ainda mais porque ele
sabe o quanto você me ama.
-O amor passa.
-E por que o meu pela Sophia não pode passar?
-Porque você não faz muita questão disso.
Quando faz, me usa como teste. Se a gente não der certo, você vai se envolver
com outra. É a lei natural. Você tem sempre que escolher.
-E o que você está escolhendo é a sua
infelicidade longe de mim.
-Melhor do que ficar entre a cruz e a espada,
esperando ser feliz ou você respirar, dar um sinal de vida ou dizer que me ama
com sinceridade.
-Quanto tempo mais você acha que pode ficar
longe de mim?
-A minha vida toda bastou pra isso.
-Eu não sou de desistir fácil, Graziela.
-Assim que você sair daqui, a Sophia vai
voltar a ocupar seus pensamentos.
Ele arranca o roupão da jovem e põe a mão no
seu pescoço.
-Não me pergunta por que eu mudei tanto
depois desse acidente. Sente minha mudança. Já se lembrou de quantas noites você
se imaginava sentindo isso? Só esse gesto? Eu quero te fazer sentir mais. Eu
quero me sentir feliz, Graziela. Me dá uma chance. Realiza o teu sonho: ocupa meus
pensamentos agora. Depois, cabe a você se quiser me fazer pensar só em você.
Eric e Graziela trocam um beijo apaixonado.
Desta vez, ela segura os braços do jovem e não resiste mais. Ele a leva para o
quarto, e o medo que ambos têm da felicidade acaba momentaneamente.
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