-O que vocês querem aqui?- pergunta Glauco.
-Nossa, Dr. Glauco. Que maneira de falar.
-É a única que eu tenho, Sophia.
-Calma aí. O que foi que aconteceu pra você falar desse jeito com
a minha filha? Só por causa de um desentendimento bobo que ela teve com o seu
sobrinho?
-Desentendimento, não. Término.
-Isso foi o que Eric disse pro senhor?
-Não, isso foi o que a Graziela me contou.
-Graziela... Sempre essa mosca morta tentando atrapalhar o meu
namoro com o Eric. Será que o senhor não vê?
-Com muita clareza, eu enxergo que você ainda se sente a namorada
dele. Mas acontece que eu finalmente percebi o quanto você é prejudicial para o
meu sobrinho. Agora, sou eu quem não quer nenhuma aproximação dele contigo.
-O senhor vai se opor ao nosso romance, é isso?
-Ao romance, não. À possibilidade de vocês reatarem, porque o
romance não existe mais e nem pode continuar a existir.
-Glauco, você não pode fazer isso com a minha filha. Fica ridícula
a forma passional com a qual você se comporta.
-Passional foi o Eric ontem, que tentou se matar na piscina
justamente por causa desse término, dona Jacqueline.
-O Eric? Eu tenho que ir vê-lo, o senhor não pode me impedir.
-Já estou fazendo isso, minha querida. E insisto: enquanto o Eric
não estiver à vontade para falar com você, eu vou respeitar o direito dele e
não interferir.
-Parece que você não preza pela felicidade do seu sobrinho como
alega.
-Muito pelo contrário, dona Jacqueline. Só que eu não permito que
o Eric seja importunado desta maneira. Por isso, eu peço que vocês saiam e só
voltem quando o Eric deixar vocês virem.
-Sinto muito, Dr. Glauco, mas enquanto minha mãe e eu não o
virmos, não vamos embora daqui.
-Ficaram surdas?- Eric aparece no portão- Não ouviram o que eu
pedi pra ele dizer? Nenhuma das duas vai entrar aqui.
-Eric, meu amor, você foi levado ao erro pela Graziela. Nunca me
passou pela cabeça me aproximar de você por causa de dinheiro.
-Não foi bem isso que eu ouvi você dizendo pra ela.
-Aquela mulher me tira do sério! Qualquer um pode ver que ela está
te manipulando pra que você se separe de mim.
-Lava a sua boca quando for falar da Graziela, entendeu? E depois,
Sophia, qual é o problema? Se ela estiver me manipulando mesmo, não é nada
diferente do que você tem feito até agora.
-Ouça bem, Eric: eu não vou admitir que você faça calúnias contra
o nome da minha filha e da minha família.
-Quem é você pra admitir alguma coisa, Jacqueline? E de onde você
tirou a ideia de que o nome da sua família precisa ser preservado? Vocês estão
falidas, quase hipotecando a casa onde vivem! Se eu não fosse tão idiota, já
tinha me livrado das duas faz tempo. Só fico imaginando as noites que levava a Sophia pra casa, quando ela ainda não tinha o carro que eu dei.
Nessas noites, quando eu virava a esquina, vocês devem ter curtido muito com a
cara do otário aqui.
-Não é nada disso, Eric! Você está transtornado! Se eu estou aqui,
implorando pra ficar com você, é porque meu sentimento é o mais sincero.
-Tantas formas de conseguir o que você tanto quer... Por que você
não se aproximou de algum motorista no meio da rua e deu o seu preço?
Sophia avança contra o ex, mas sua mãe a contém.
-Minha filha, olha a compostura, por favor. Para com isso.
-Compostura foi uma coisa que você se esqueceu de dar, sogrinha.
-Quer seu carro? Faz tanta questão dele? Pois eu devolvo. Porque
eu prefiro ficar sem ele a levar seus desaforos pra casa. Nunca vou te perdoar
pelo que você está fazendo comigo.
-Quites.
-Vamos embora, mamãe- vai até um ponto de táxi.
XXXXX
No apartamento de Graziela, a campainha toca. A jovem vai atender.
-Eric? O que você está fazendo aqui?
-Nada. Eu não estou fazendo. Mas vou fazer aquilo que você sempre
quis.
Eric a puxa, sente a respiração ofegante da amiga e o seu coração
disparado, mas decide não esperar mais para trocar um beijo.
-Para, para com isso. Que loucura é essa?
-Abri os olhos. Finalmente percebi o quanto você me ama, a maior
parte desse tempo em silêncio. Me lembrei do seu desespero tentando me salvar,
dizendo que não podia me perder.
-As coisas não são tão simples assim.
-Por que não?
-Porque você ama a Sophia.
-Isso foi um erro que eu cometi. Mas eu me arrependo. Juro pra
você que não quero mais ficar com ela.
-Tudo isso é pra esquecê-la, como eu tentei fazer quando passei a
namorar o Téo.
-Por acaso, é nele que você pensa quando diz que não pode ficar
comigo?
-Claro. Não tem motivo para ele ficar com mágoa de mim. Eu preciso
pensar, você me pegou de surpresa.
-Eu sempre consigo o que eu quero, e sei que o seu coração eu
também vou ter. Pode ter certeza- fecha a porta.
-O que eu faço agora?-encosta-se à parede.
XXXXX
Glauco está na cozinha quando decide ir até a sala. Ele vê o
sobrinho ligando para Téo.
-Téo? Sou eu, Eric.
-Oi, Eric- fala descontente- Tudo OK depois do acidente?
-Ainda está doendo o pé, mas depois passa.
-Poxa, velho, se você estiver precisando de alguma coisa...
-Na verdade, eu queria que fosse àquela lanchonete do shopping
hoje à tarde.
-Mas pra fazer o quê lá?
-Quando você chegar, eu te explico. Pode ser às duas e quinze?
-Por mim, tudo bem. Talvez eu chegue mais cedo, porque vou
resolver uns assuntos da faculdade. A gente se vê lá, então. Abraço.
Liga agora para Graziela, que fica receosa a atender. Glauco
observa tudo.
-Grazi?
-Oi, Eric. O que foi?
-Preciso falar com você.
-Olha, se for pra falar sobre o que aconteceu de manhã...
-Calma. Eu preciso conversar contigo. Vamos marcar de falar na
lanchonete do shopping?
-Pra quê isso agora?
-Confia em mim. É um papo sobre o nosso futuro.
-“Nosso futuro” não existe, Eric, entenda.
-Você precisa ir. É caso de vida ou morte. Juro que não vou tentar
nada.
-Certo. A que horas eu tenho que estar lá?
-Duas. Está bom pra você.
-OK- desliga.
-Sinto muito, Téo, mas eu não vou me sacrificar. Não vou ficar
longe de quem me ama- após pensar em voz alta, vai até a garagem, onde dá
ordens ao motorista para levá-lo ao shopping. Glauco percebe o plano do rapaz e
fica intrigado.
XXXXX
Jacqueline e Sophia voltam pra casa.
-Achei sublime a sua interpretação, minha filha. Essa sua pose de
ofendida poderia me convencer, se eu não soubesse quem é você.
-Mãe, você pirou? Estou ofendida, sim. O Eric não precisava ter
dito todas aquelas coisas. Você não devia ter me segurado quando eu fui bater
nele.
-Calma, que você vai ser recompensada em breve.
-Já estou sendo, com as humilhações que eu venho sofrendo
ultimamente.
-Porque você quer, não é? Mas um trunfo você tem.
-Do que está falando?
-Quando você falou de “devolver o carro”, eu tive uma ideia que
fará você reatar com o Eric.
-Não vai me dizer agora que você quer que eu devolva mesmo o
carro?
-Mais do que isso: você vai drogar o Eric.
-O quê?
-Você vai dopar o seu ex-namorado.
XXXXX
Graziela chega à lanchonete onde está Eric. Ele está logo à porta.
-Vim pra cá, como você me pediu.
-Agora, a gente vai ter uma conversa definitiva.
-Eu disse a você que não ia continuar com aquela conversa do
apartamento. Vou embora daqui.
-Não, Graziela. Você não pode ir. Se você não me quiser, você vai
estar jogando sua felicidade no lixo. E a única chance que tenho de ser feliz
com alguém junto.
Téo vem logo em seguida. Eric o vê e, propositalmente, dá um beijo
em Graziela. Quando o jovem percebe o casal, não sabe quem tomou a iniciativa e
fica arrasado. Ela, por sua vez, segura o rosto dele, demonstrando gostar
daquele beijo mais demorado.
Para Téo, era o fim de um relacionamento que nunca começou
realmente, devido à falta de envolvimento de Graziela e à presença ativa de
Eric. Agora proposital.
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