16/05/2013

A CRUZ E A ESPADA/ CAPÍTULO 7

-O que o senhor quer aqui, Dr. Glauco?
-Vamos parar com as ironias, está bem? Estou aqui para falar sério com você.
-Para de botar banca! Você está na minha casa.
-Não precisa lembrar. É com muito custo que estou pisando aqui. Eu vim pedir... Eu vim exigir que você convença sua filha a deixar o Eric em paz.
-Claro. Esqueci que pra falar contigo, tenho que ser exigida de alguma coisa. O senhor não sabe conversar com ninguém sem mostrar que é quem manda. O dono da verdade absoluta.
-A sua petulância também é uma marca registrada, Jacqueline.
-Aprendi a ser assim, quando fui desprezada por você no passado. Tenho sido a pessoa mais infeliz do mundo por sua causa, maldito. Nunca consegui encontrar paz... Porque depositei minhas esperanças em você, da mesma forma que o Eric faz com a Sophia.
-E agora a sua filha deposita as esperanças no dinheiro do meu sobrinho. Tão ambiciosa como você no passado.
-No presente também, Glauco. Cada vez mais.

XXXXX

-Sônia, deixa a gente sozinho, por favor- pede Graziela.
-Com licença.
-O que é que significa isso?
-Ah, minha querida- levanta-se da cama, enrolada num lençol- Não é óbvio? Eu e o Eric voltamos.
-Mentira! É mentira dela, Graziela. Eu não reatei com a Sophia. Eu nem sei como ela veio parar aqui.
-Não sabe, não é, Eric? Mas achou meu número e mandou uma mensagem, pedindo que eu viesse pra cá.
-Grazi, eu não mandei... Foi você, desgraçada- olha para a ex.
-Você não se lembra de nada, meu amor? A ideia de chamá-la foi sua. Eu até estranhei, mas você se justificou, dizendo que precisava esclarecer que eu era a mulher da sua vida, e que não podia mais causar ilusões na Graziela.
-Por favor, Grazi- aproxima-se- Não acredita no que ela está dizendo. Ela está mentindo. O que a Sophia quer é separar a gente.
-Não chega perto de mim, que eu estou morrendo de ódio de você. E pensar que quando eu vim pra cá, eu pensei em... Em dizer tudo aquilo que você queria ouvir, te dar uma chance... Mas eu estava iludida. Nunca imaginei que tipo de canalha era você. Como se não bastasse, você ainda me chama pra compactuar com essa palhaçada.
-Engraçado, não é, Grazi? Vocês se conhecem da vida toda. Como é que você nunca acreditou na falta de caráter dele?
-Cala essa boca! Sai da minha casa agora!
-Se eu sair da sua casa, não significa que você vai consegue me tirar da sua vida. A única coisa que eu lamento nessa história toda, Eric, é que você passou uma borracha em tudo o que a gente viveu até agora, inclusive essa tarde de amor maravilhosa. Sem contar, é claro, a decepção dessa garota. É difícil servir como uma diversão rápida, e depois ser jogada fora pelo homem que ama, não é, querida?
Graziela derruba Sophia no chão com uma bofetada, enquanto Eric assiste a tudo, sem crer que foi capaz de se envolver com sua ex-namorada.
-Pensa duas vezes antes de abrir a boca pra falar comigo, sua nojenta! O que você teve com ele não foi nenhuma tarde de amor, não. Foi um plano a mais pra conseguir arrancar dinheiro dele. Pra amar o Eric de verdade, você teria que ser tão imbecil quanto ele.
-Há poucos dias, eu estava no seu lugar, Graziela. Eu me senti trocada por você, e me tornei a pior mulher do mundo. Só que o mesmo Eric que um dia pensou em me trocar por você foi o homem que me fez sentir mulher de novo.
-Pensa que ele não é o único que pode te fazer sentir alguma coisa. Eu também posso, Sophia. Isso daqui!- Graziela se abaixa e começa a espancar a inimiga.
-Me larga! Socorro! Eric! Para essa mulher, ela está louca!
-De ódio! De ódio de você! Não sabe se respeitar, vagabunda? Eu vou te ensinar! Vadia! Cachorra! Sente agora minha mão! Sente! Desgraçada!
Eric segura Graziela, tentando impedir de espancar ainda mais Sophia. Neste momento, Sônia decide entrar no quarto novamente, assustada com a gritaria.
-Para com isso, Grazi! Para! Olha o que você está fazendo! Calma!
-Me deixa acabar com essa miserável- chuta a barriga de Sophia- Me solta, Eric, me solta! Eu vou acabar com essa infeliz, pra ela aprender que ninguém brinca comigo. Nem você, muito menos ela!- desvencilha-se do jovem e volta a espancá-la, dessa vez puxando os cabelos da moça, que está em prantos.
-Larga a Sophia, chega disso, Graziela! Chega! Você não pode fazer isso. Sônia, me ajuda aqui!- a empregada fica receosa de se aproximar.
-Já mandei você me largar, não mandei?- joga Sophia no chão e esbofeteia Eric- Quer ficar com ela, mentiroso? Quer ficar com ela? Pois então fica! Leva essa cachorra pra onde você quiser! Mas antes, eu vou desfigurar a cara dessa piranha, me larga!- empurra-o contra a jarra d’água, causando-lhe um ferimento grande nas costas e uma queda. Decide segurar Sophia pelos cabelos- Abre a porta rápido, Sônia! Abre!
A empregada fica apavorada, mas atende a ordem de Graziela. Depois, ajuda Eric a se levantar. A amiga do jovem desce às escadas com a rival, que não para de chorar.
-Você vai se arrepender do que está fazendo isso! Eu te juro- Graziela abre a porta e a joga na calçada.
-Jura pro teu namorado, minha filha. Pra mim, não tem que prometer nada. Vocês dois se merecem mesmo. Mas aí é o teu lugar. No chão, como um bicho.
-Graziela, me deixa falar com você. Eu não sei o que aconteceu, mas eu posso te afirmar que não quero mais a Sophia comigo.
-Você não quer agora, mas há pouco tempo atrás, estava com ela numa cama.
-Me escuta, por favor. Tudo isso é um engano, uma armação dela. Ela quer separar a gente.
-E eu quero que você morra! Morra sozinho, sem ninguém do teu lado pra te ajudar, pra dizer que te ama! Como um dia eu já disse a você- vai embora.
-Eric...
-Se você ficar mais um segundo na minha frente, eu vou fazer pior do que a Graziela. Some daqui.
-Vem, Eric. Melhor entrar pra fazer um curativo, está sangrando muito- aconselha Sônia, levando o jovem para dentro da mansão. Começa a chover, e Sophia fica desesperada.
-Abre a porta! Eric, minhas roupas estão aí dentro- ele finge que não escuta- Você não pode me descartar desse jeito. Abre essa porta, Eric! Você e essa desgraçada vão se arrepender do que fizeram comigo! Maldito!

XXXXX

-Só pode ser uma vingança sua.
-Por que eu me vingaria de você, Glauco? Que motivos eu teria?
-Eu te desprezei há anos atrás. Sempre quis me envolver uma mulher que tivesse posição, mesmo porque eu estava ascendendo socialmente. Você jamais me perdoou por isso.
-Acabei me casando, tive a Sophia, fiquei viúva... Por uma dessas coincidências da vida, ela foi estudar na mesma faculdade de engenharia que o Eric. Quando eles se envolveram, pensei que esta fosse a chance de fazer você pagar pelo que fez.
-Quando essa sua mágoa vai acabar, Jacqueline?
-Nunca! Sabia que eu cheguei a sofrer maus tratos do meu marido? Isso poderia ser evitado se você tivesse aceitado o meu amor.
-Sempre fomos ambiciosos ao nosso modo. Mas você era muito mais. Isso me afastava.
-Não estamos no mesmo nível. Nunca estivemos, pelo menos não pra você. Mas isso acabou. Não é só a situação financeira que me preocupa. É destruir você naquilo que você mais ama: o Eric.
-Não se atreva!                            
-E não tem nada que você possa dizer pra convencê-lo do contrário. A Sophia vai reconquistá-lo, e então... Você dirá adeus à sua fortuna e à felicidade do seu sobrinho.
Glauco a agarra pelo pescoço.
-Antes disso, eu te mato, Jacqueline. Destruo você!
Ele é surpreendido com um beijo.
-Veremos.

XXXXX

Graziela chega à sua casa e procura desesperadamente seu diário. Folheia as páginas até encontrar uma que remete ao dia em que Eric começou a namorar Sophia. Há um coração escrito “Graziela e Eric” e o seguinte verso: “Mais de uma vez flagrei seus lábios na intenção do nome de outro alguém”. Em seus dedos, sente as páginas manchadas de lágrimas daquele dia. Elas se misturam às que ela derrama por conta do que presenciou na mansão. Inconformada, rasga as páginas do diário aos prantos. A janela aberta espalha as folhas por todo o apartamento, enquanto Graziela está deitada no chão, sem consolo.
                                                                              
XXXXX

Téo está dirigindo em meio à chuva, quando pensa em Graziela, e nas coisas que disse durante o término do namoro. Sem prestar atenção, derruba alguém que está de branco. Apesar da leve batida, ele fica preocupado e desce do carro. E qual não é a surpresa dele quando vê que a cor é do lençol que cobre o corpo de Sophia?
-Você?
-Sophia? Você está bem?
-Estou. Estou, sim.
-Mas o que houve com você?
-Não quer que eu explique isso assim, no meio da rua, não é? Me tira daqui.

XXXXX

Glauco volta pra casa e estranha que o médico da família está na sala, fazendo um curativo nas costas de Eric.
-Mas o que aconteceu nesta casa?
-Eu fui chamado para cuidar do Eric.
-Eric? O que foi? Está passando mal?
-Não, foi uma briga que tive.
-Com a Sophia?
-Não, com a Graziela.
-Graziela? Eu não entendo.
-Teve o maior arranca-rabo com Graziela e Sophia lá em cima, no quarto do Eric. Sophia saiu toda arrebentada daqui da mansão, Graziela arrastou pelos cabelos- relata Sônia.
-Vocês podem me dar licença? Eu preciso conversar com o meu sobrinho.
-O curativo ainda não está pronto, Dr. Glauco. Eric está sangrando muito.
-Sim, espere no escritório. É um assunto sério que tenho pra falar. Por favor, me deem licença.
-Assim sendo, com licença- retira-se o médico. Sônia vai até a cozinha.
-Eric, essa discussão tem alguma coisa a ver com seu plano que envolvia o Téo?
-Plano? Não sei de plano nenhum.
-Ouvi que você marcou um encontro com o Téo e outro com a Graziela, no mesmo local, em horários diferentes. Alguma coisa você armou.
-O senhor anda me vigiando?
-Escutei por acaso. Mas estranhei muito seu comportamento. Depois, soube que Graziela brigou com a Sophia. Pela briga, não foi por um motivo simples. Brigaram por você. E por conta dessa sua atitude, eu fui investigar e descobri que você estava mesmo me escondendo algo importante.
-Certo... O que o senhor sabe?
-Que você está doente, Eric. Muito doente- Eric decide não mais se fazer de desentendido- Por que você não me disse nada?

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