06/11/2014

MENTES/ CAPÍTULO 19: MAS, NA VERDADE, EU NÃO QUERO LHE ENGANAR

-Por favor, procure se acalmar. Isso não vai lhe fazer bem. Está delirando por conta da febre.
-Eu sei o que “tô” falando! Aquela infeliz quis botar a culpa em mim! Invadiu... – grita de dor.
-Calma, por favor! Você sabe que eu vou cuidar de você.
-Quero falar com a minha mulher... Pelo telefone...
-Já liguei várias vezes pros números que você me deu, meu filho. Ninguém atende.
-O senhor não entende... Só preciso ver a Giovanna... Mais ninguém.
-Quem é essa Virna? E a irmã de quem estava falando agora pouco?
-Me acusaram... De assassinato... Essa mulher, a Virna, era minha secretária... Mataram.
-Misericórdia... Mas por que acham que você é o culpado?
-A irmã dela... É quem diz que eu sou o culpado... Como eu não fui preso, ela deu um jeito de... Das pessoas pensarem que eu sou um assassino.
-Jeito? Que jeito ela deu?
-Eu guardava... Um explosivo no meu escritório... Ela roubou e colocou no carro de um funcionário meu... Todo mundo... Pensou que a culpa fosse minha...
-Tudo isso que você está me contando é monstruoso, meu filho.
-Por isso que eu não quero... Ir pro hospital... Me internaram como louco, e eu fugi... Se me encontram, vão me mandar de volta pra lá... Ou pra cadeia...
-Eu não sei, mas algo dentro de mim diz que eu preciso ajudar esse rapaz- pensa Felipe- Não se preocupe com isso. Eu não vou te denunciar. Mas você também terá que me prometer que não vai fazer nada sem me consultar. Pense muito bem antes de tomar alguma atitude precipitada.
Bruno, apesar da saúde fragilizada e do modo brusco de tratar as pessoas à sua volta, se sente amparado pelo padre, podendo, ainda que pouco tempo, se sentir aliviado diante de todas as tragédias que o rodeiam.

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Ainda naquela madrugada, Leandro desce pela escada de sua casa e atende ao telefone. Valentina continua na cama.
-Alô?
-Leandro? Sou eu, Beatriz.
-Beatriz? O que houve? Aconteceu alguma coisa com mainha?- fala baixo, com o intuito de não preocupar a esposa.
-Foi internada de novo, Leandro.
-Ainda aquela suspeita?
-Não quer se alimentar, se sente fraca. Achei melhor trazer ela pro hospital.
-E o médico disse o quê?
-Fez uns exames, mas o resultado só fica pronto no fim dessa semana.
-Eu disse tanto que era pra vocês virem pra cá. Eu tenho trabalho aqui, a minha casa tem espaço pra vocês duas. Mas vocês só querem ficar aí, em Alagoas.
-Também achei que seria melhor mainha ficar contigo, mas ela se recusa.
-Tudo bem. Qualquer coisa, você me avisa.
-Você não vem pra cá? Mainha disse que quer você aqui.
-Eu tenho que falar com Valentina primeiro. Teve esse problema todo da irmã dela, o assassino fugiu... Olhe, “tá” complicado aqui também.
-Certo. Eu aviso a ela. Mando notícias.
-Ligue mesmo. Beijo.
-Quem era, Leandro?- Valentina desce tardiamente.
-Engano.
-A essa hora?
-Procurando uma tal de... Qual era o nome mesmo?- procura ganhar tempo para despistar a mulher- Glória.
-Esse tempo todinho?
-Dizendo pro rapaz que era engano, que não tinha Glória nenhuma aqui. Nem queria desligar o telefone, insistindo comigo. Mas deixa pra lá, vamos pra cama- diz, com pesar.
-Vamos, sim.

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Valentina está varrendo o seu quarto, no fim da manhã seguinte, e para pra pensar.
-Onde foi que você ser meteu, Bruno? Tenho que dar um jeito de atrair você. A polícia tem que continuar te procurando... Ah, já sei o que eu vou fazer- pega o telefone e disca o número da pessoa que contratou o bandido pra dar um susto em Bruno e em Giovanna- Oi, sou eu. Valentina. Tem alguma novidade do Bruno? Que droga! Mas se ele “tiver” por perto, eu sei como vão achar aquele miserável. Você precisa fazer o seguinte...

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Uma pessoa misteriosa entra na casa de Leandro e Valentina e vai até a cozinha. Abre o armário e encontra uma caixa de fósforos. Abaixa-se até a pia, onde há uma garrafa de álcool, juntos com alguns produtos de limpeza.
Sobe às escadas. A porta do quarto de Valentina está encostada, com a chave por fora. Lentamente, e sem fazer barulho, a moça é trancada, mas não se dá conta. Em seguida, a pessoa derrama álcool no corredor e no corrimão da escada para atear o fósforo aceso sobre o líquido.
Valentina sente o cheiro da fumaça e vai conferir o que é. Ao tocar na maçaneta, sente ela quente.
-O que é isso?
Valentina pega o lençol da cama, enrola-o em sua mão e segura na maçaneta novamente. Começa a gritar por socorro ao entender que a porta está fechada por fora.
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Leandro está num botequim, próximo à sua casa.
-Me vê uma dose de uísque, por favor.
-Pra já, delegado- atende-lhe o garçom.
-E aí, homem?
-Iago? Fazendo o quê aqui?
-Ocorrência aqui perto. Agressão contra mulher. Parei um minuto e vim aqui tomar um café. Posso acompanhá-lo?
-Que formalidade é essa, homem? Não precisa nem perguntar.
-O que foi? Que cara é essa? E por que você está aqui, em vez de estar em casa, aproveitando sua folga?
-Evitando Valentina.
-Sério isso? Por quê?
-Promete que não conta pra ninguém?
-Fala.
-Já faz um tempo que a gente se planeja pra ter um bebê. Mas depois do que houve com a Virna, ela só fala de vingança, de justiça... Vinte e quatro horas por dia.
-Mas isso é natural, Leandro. A irmã dela não morreu acidentalmente, foi assassinada.
-Só que eu acho que isso virou uma obsessão. Faz uns dias que eu tentei... Bom, que eu quis tocar nela.
-E ela?
-Preferiu dormir no sofá do que comigo.
-Que estranho...
-Seu Leandro!- uma garota chega ao botequim, gritando.
-O que foi, menina?
-A sua casa “tá” pegando fogo!
-O quê?
-Tem certeza disso?
-Ninguém “tá” conseguindo abrir a porta. Tem alguém gritando lá dentro.
-A Valentina! Minha mulher!- Leandro corre para socorrer a esposa, seguido de Iago e de outros vizinhos.

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