SETE MESES DEPOIS...
Uma coletiva de imprensa é
agendada na delegacia onde trabalham Iago e Leandro. O primeiro responde às
perguntas do repórter, cujo tema foi a apreensão de um assassino em série.
-Em que local a polícia
encontrou o criminoso?
-Rastreamos os números de
telefone, e algumas contas que ele mantinha na Suíça, com diversos nomes
diferentes. Só precisamos de quase um mês para localizá-lo.
-Como o senhor, delegado, vê
a rapidez com que o caso desse serial
killer foi solucionado, enquanto o paradeiro de Bruno Reinchenbach, que era
visto como uma prioridade para a polícia, está há quase um ano longe do alcance
da justiça?
-Quem disse que o Bruno
Reinchenbach deixou de ser prioridade? O que acontece é que... – tenta
convencê-lo– Bruno é um suspeito bastante fechado. Nem as pessoas que o
conhecem de toda a vida sabem do paradeiro dele.
-Sim, mas não são elas que
devem saber, e sim a polícia.
-Mas ele não foi descoberto,
OK?- responde rispidamente- Isso não significa que o caso foi arquivado, mesmo
porque existem provas suficientes que o apontam como culpado pelos crimes dos
quais está sendo acusado. Podemos voltar ao assunto principal da coletiva?
Leandro, de longe, comenta
com Novaes.
-Iago já não tem mais como
enrolar os jornalistas.
-Nem o público, Leandro. Todo
mundo quer saber se tem alguma pista sobre Bruno.
-Parece que aquele pilantra
foi engolido pela terra...
-Será que ele não foi pro
exterior, como esse serial killer do
qual o Iago falou?
-Não. Estava sem dinheiro,
sem documentos, sem passaporte. E certamente alguém que tivesse visto o teria denunciado.
Sabendo do quanto Bruno é perigoso, ninguém ia escondê-lo.
-Imagino a agonia de Valentina
em não ter notícia, pista nenhuma sobre o cara que matou a irmã dela...
-Nem fale disso, Novaes. Valentina
“tá” cada vez mais insuportável. Virou uma obsessão. Não tem um dia que eu não
tome café da manhã e ela me cobre explicações sobre o paradeiro desse cara.
Tenho saído de casa em jejum até pra evitar briga.
-Leandro, numa boa... A tua
mulher “tá” exagerando.
-Eu sempre soube que a Virna
e a Valentina eram muito unidas, mas daí a não ter outro assunto, outra coisa
pra se preocupar? Parece que nem deu tempo de sofrer pela morte da irmã. O que
ela tem por esse Bruno já é doença. É por isso que eu odeio aquele idiota mais
do que já odiava. Ele “tá” acabando com o meu casamento. Vai ter uma hora que
eu vou chutar o balde.
-Mas você ama a sua mulher.
-Eu sei, Novaes. Mas não
posso me sacrificar o tempo todo por uma tragédia da qual não tenho culpa. Você
acredita que a minha mãe foi internada há uns meses e eu não fui visitá-la
porque achava que Valentina precisava mais de mim que minha mãe?
-E como é que ela “tá”?
-Agora, melhor. Mas se eu
soubesse que esse tempo ia passar e a Valentina continuasse assim... Não
pensava duas vezes antes de viajar pra Alagoas.
|||||
Marisa segura a mão de Giovanna,
que está no centro cirúrgico.
-Chegou o dia, minha filha.
Finalmente, o meu neto vai nascer. São e salvo.
-Giovanna, você vai ter que
me ajudar. Eu quero que você faça força pro seu filho nascer- adverte o médico.
-Doutor, não deixa nada de ruim
acontecer com o meu bebê, por favor- a moça fica nervosa.
-Fique tranquila. Não ouviu o
que sua mãe disse? Seu filho vai nascer são e salvo.
-Mãe, fica comigo, por favor-
pede quando as dores do parto se intensificam.
-Ele já está vindo!
-Vou ficar com você pra sempre,
meu amor. Confia em mim- Marisa acalma a filha.
Em seguida, o médico retira o
bebê do ventre de Giovanna, enrolando-o numa toalha e fazendo com a bailarina o
segure nos braços, emocionada.
|||||
-“Confia em mim”... A frase
que eu mais falei no ouvido dela- diz Bruno, agora com os cabelos maiores e de
barba.
-Não se atormente, filho.
-Como não? Eu já “tô” há sete
meses aqui. Se não tivesse acontecido nada daquilo, hoje eu ia estar com o meu
filho nos braços. E eu não consegui descobri nada, padre.
-A paciência é uma das maiores
virtudes do ser humano.
-E eu sou paciente?
-Depois que veio parar aqui,
mudou bastante.
-Eu não mudei nada, padre.
Apenas me dei o direito de ficar resignado.
-É um personagem, então?
-Não, padre. Não posso mentir
numa igreja. Infelizmente, irônico também não posso ser. Eu acho que é o que me
resta agora. O comodismo.
|||||
Iago está atendendo a uma
ligação, em sua sala.
-Faz o seguinte? Fala com o
Novaes, que ele vai verificar isso pra você. Eu ainda tenho que avaliar alguns
inquéritos, depois eu posso olhar o seu problema com calma, tudo bem? OK, até
logo.
Valentina entra na sala e vê
Iago.
-Eu quero falar com você
agora!
-Não sabia que você vinha
aqui, Valentina...
-Se soubesse, teria feito o
quê? Fugido? Pra não me encontrar?
-Que bobagem é essa?
-Eu quero saber o que foi que
vocês conseguiram descobrir sobre o paradeiro daquele cafajeste.
-Infelizmente, nada.
-Agora, um matador, que só
começou a ser procurado não faz nem um mês, a polícia conseguiu encontrar! O
homem que matou a minha irmã e o funcionário do Mentes, além de ter quase
matado a mulher, está sabe-se lá onde já tem sete meses! Como é que você quer
que eu me acalme?
-Baixe o tom de voz! Se tem
uma coisa que eu tenho feito, tenho vivido só pra isso, é pra encontrar o
Bruno.
-Grande tempo que você tem
dedicado! Por que você não me aparece com o Bruno aqui? Na minha frente? Se
fosse o Leandro à frente do caso, aquele cachorro já tinha aparecido aqui!
-Quem vai encontrar o Bruno
sou eu, não ele! Eu quero encontrar pra você, pra que você se convença, de uma
vez por todas, de que o Leandro não te ama mais do que eu!- Leandro escuta o
diálogo, mas se mantém discreto.
-De novo isso, Iago? Essa mesma
ladainha toda vez que estamos a sós?
-Você sabe que eu sou capaz
de tudo pra entregar a cabeça dele de bandeja. Tudo porque eu te amo. Porque eu
sempre amei você, mesmo você me deixando pra casar com o Leandro.
-Foi um erro que eu cometi,
eu assumo. Não aguento mais essa carência do Leandro, essa mania que ele tem de
ser carinhoso o tempo todo, a vontade que ele tem de ser pai... Eu não suporto
isso.
-Valentina, não se esqueça do
que me prometeu quando sua irmã morreu. Você me disse que quando eu conseguisse
prender o Bruno, largaria o Leandro pra ficar comigo- o marido da dona de casa
fica boquiaberto com a revelação.
-Acha que eu não vou cumprir
isso?
-Eu já fiz muito por você, e
sabe bem disso.
-Acaba com o Bruno. Põe ele
na cadeia e eu te dou o que você quiser.
Leandro estranha o silêncio
que toma a sala. Caminha até a porta e abre sem ser percebido. Ele encontra
Valentina e Iago aos beijos. Ambos não o veem, fazendo com que ele saia pasmo
com a frieza da esposa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário