-Ray? Ray, o que é que você tem?
-Sai de perto de mim! Não encosta em mim!
-Deixa eu te ajudar, Rayane- Vivi pede.
-Nem você, nem ele!
Fred sai da sala dos professores e escuta parte da
discussão. Logo, ele vai correndo em direção ao trio, e Bernardo segue o professor
por reconhecer a voz da irmã.
-O que foi?- pergunta o professor.
-Me tira daqui, Fred! Me tira daqui, que tá doendo.
-Vamos levar ela pro hospital agora- Bernardo toma a
palavra.
-Eu vou com vocês!
-Não! Você não vai pra canto nenhum! Eu já disse que é pra
não chegar perto de mim!
-Que é isso, Rayane? Por que você tá falando assim? Ele é
teu namorado...
-Ele não é nada meu, Fred! Nada meu! Nem ele, nem essa periguete!
-Olha como você fala da minha irmã!
-O que tá acontecendo?- Xande chega.
-Me tira daqui, Xande! Me leva pro hospital, por favor!
-Eu já disse que eu te levo, que eu vou com você...
-Não vai!- a agressividade de Rayane contra Felipe causa
estranhamento em seu irmão.
-Eu vou chamar um táxi- Fred tem um lampejo- Você vai
comigo e com seu irmão, tá bom assim?Agora fica calma, por favor!
Sábado, 10 de outubro
de 2015...
-Já é meia-noite e a gente ainda tá esperando notícia?-
Fred fica impaciente.
-O que foi que você fez com a minha irmã, infeliz?
-Eu não fiz nada.
-Fez, sim. Fez, e com ajuda dessa daí.
-Olha aqui, garoto, você vê lá como fala com a minha
irmã.
-E você fica na sua, tá legal? Você só tem essa fala!
-Dá pra todo mundo ficar quieto? O médico tá chegando!
-Eu trouxe notícias de Rayane. Aliás, o Sistema Único de
Saúde me paga muito bem pra dar informações somente sobre essa paciente.
-Por favor, Doutor, como é que tá a minha irmã?
-Bom, ela não quer que eu revele sobre o estado de saúde
a ninguém.
-Por quê? A Ray tá mal?
-Até que não. A única coisa que ela me pediu pra dizer é
que só quer ver uma pessoa nesse momento. Onde está o namorado dela?
-Sou eu... Quer dizer...
-Pode entrar. Ela está lhe esperando.
-Com licença- Felipe entra de cabeça baixa. Mandando a
decência às favas, Fred, Xande, Bernardo e Vivi escutam atrás da porta- Você
pediu pra falar comigo?
-Pedi.
-Ray... Ray, por favor, deixa eu explicar o que
aconteceu...
-Felipe... Se eu tivesse ouvido de outra pessoa... Mas eu
ouvi de você. Ouvi que você não queria ter esse filho comigo.
-O que você queria? Que eu te desse um abraço? Te desse
os parabéns? Eu não quero ser pai, entende isso.
-O problema não é esse!- grita- O problema é que... Você
ia me pedir pra tirar esse filho.
-Tá bom, Ray. Se você acha que eu vou te pedir pra
escolher, é isso aí. Ou você fica com esse bebê ou fica comigo.
-Essa escolha não existe mais, Felipe. Não tem mais bebê
nenhum pra você se preocupar.
-Você... Você perdeu?
-A criança e o namorado também.
-Não faz isso com a gente, por favor.
-"A gente" não existe mais, Felipe. Porque eu
não vou ficar com medo do dia que você vai olhar pra mim e dizer: "cansei".
Eu não vou ficar com medo de ter que respeitar suas condições.
-Ray, não faz isso com a gente, por favor. Não faz isso
com a nossa história.
-Quem fez foi você, que se cansou bem rápido.
-Rayane, eu juro que não tive nada com Victória. Eu amo
você!
-Não me interessa! Faz o que você quiser, mas fica longe
de mim. Sai daqui- vira o rosto.
-Eu sei que você gosta de mim, Rayane.
-Isso me serve de quê? Um dia, você vai olhar pra minha
cara e dizer que eu não sou tão especial assim. Antes que você dê um pé na
minha bunda, eu vou cair fora de tudo que a gente teve junto. Finge que eu não
existo, por favor...
-Rayane, me escuta...
-Sai!- Rayane dá uma bofetada no rapaz. Em seguida, ele
acata a ordem e sai do quarto, sob os olhares incrédulos do pessoal. Felipe sai
do hospital apressadamente, mas é seguido por Fred.
-Felipe, espera!
-O que você quer?
-É verdade o que ela falou?
-O que ela disse?
-Que você falou que não queria esse filho. Foi isso que ela escutou você falando pra
Victória?
-Não queria mesmo, não. Mas quer saber de uma coisa, Professor?
É até melhor que esse bebê tenha morrido.
-Você não sabe o que tá falando...
-Sei. Pode apostar que eu sei. Depois, ela vai me
procurar, como sempre faz.
-Não é porque o bebê dela morreu que ela não te quer
mais. É porque você não sabe ser um homem.
-Eu jurei pra mim mesmo que eu ia fazer você engolir
isso.
-Antes, aprende a ser homem, Felipe. O que você fez com
essa menina nem um bicho faz. Mas até que eu te dou um pouco de razão. Já
imaginou se esse bebê viesse ao mundo e descobrisse o tipo de pai que é você?-
Fred vai embora, chocado com a desfaçatez do estagiário.
-Você é que vai aprender a ser homem, cara. Não perde por
esperar.
Terça-feira, 13 de outubro
de 2015...
Fred recebe uma mensagem de Gabriel, assim que chega à
escola.
-Tô num engarrafamento triste aqui na Avenida Armagedon.
Provavelmente vou chegar no terceiro horário.
-Sendo assim, vou dar aula sem meu estagiário pela
primeira vez. Que coisa estranha falar "meu estagiário"... Eu, hein?-
Fred vai para a sala- Bom dia, pessoal.
-Bom dia.
-Ué, cadê o apagador daqui?
-Sumiu, professor. Aliás, vem sumindo muitas coisas
ultimamente- André faz insinuações.
-Como a vergonha na cara de alguns professores- Felipe
parte para a provocação.
-Isso é uma indireta pra alguém, Felipe?
-Lógico que não. O que eu quero falar, eu falo na cara!
-Bom, eu tenho uma atividade hoje, e vocês vão ter que
copiar. Xande, você pode pegar o apagador pra mim na sala dos professores?
-Certo. E se não tiver lá?
-Passa na sala da direção e pega um apagador na mesa de
Amparo.
-E se ela não tiver nenhum disponível?
-Vá ao banheiro e pegue o rolo do papel higiênico.
-OK-
o nerd vai à procura do apagador perdido.
Como bem devem imaginar, o primeiro lugar que Xande vai à
procura do apagador não tem o utensílio. Veja o nível da escola de referência!
A solução é procurá-lo na sala de Amparo. A porta está aberta, mas a diretora
não está. O estudante procura na mesa, mas tem uma pasta que lhe chama a
atenção.
-DOCUMENTO CONFIDENCIAL: LISTA DOS SELECIONADOS E
SELECIONÁVEIS PRO INTERCÂMBIO.
Bastou ler a palavra "confidencial" para o aficionado
por ufologia inventar de abrir sem autorização. Ninguém está vendo seu primeiro
erro nessa estória mesmo... Abre-o e fica incrédulo com o que lê.
Mas toma um susto tamanho quando:
a)
Amparo
chega;
b)
Toca
o telefone.
Marcou a segunda? Muito bem, vai tirar nota máxima no
Enem. E resolve atender.
-Alô?
-Não diga "alô", diga "Alô, Christina"!
-Quem deseja, por obséquio?
-Aí é da Escola Antonio Nipo?
-Sim. Quem é?
-Aqui é da Secretaria de Educação do Estado.
-Glup!
-Bom, já está na hora de falarmos sobre a primeira
avaliação de vocês.
-Grande coisa.
-Grande mesmo, se você não passar, repete de ano.
-Uau! Brilhante dedução!
-Felipe, eu tô tentando dar minha aula. Mas com suas
ironias a cada trinta segundos tá difícil. Vem cá, e vocês dois, hein?-
volta-se para André e Bernardo- Jogando dominó na minha aula?
-Se fosse Lavínia, não tava nem aí- Bernardo explica.
-É, Fred. Amparo tá cansada de ver a gente fazendo
partida e não diz nada- André corrobora para o clima hostil.
-Amparo não ganha pra dar aula. Eu ganho- Fred, coitado,
mente sobre um salário que não recebe- E meu nome não é Lavínia.
-Ah, não. É Frederico. Tua mãe devia te odiar pra colocar
um nome desse em tu. Vai ver porque facilita na hora de botar um apelido. "Paçoca"
é um nome bom, sabia?
-Pelo menos eu não tô mais insuportável do que de
costume.
-De costume mesmo. Tá pensando que alguém aqui gosta da
tua aula?
-Só você que não gosta.
-Olha que se eu perguntar, a resposta não vai ser a que
você quer ouvir. Você pensa que a gente vê sua aula porque gosta?
-Mas não seja por isso, Felipe- abre a porta da sala- Fique
à vontade. Eu só deixei fechada pra ninguém pedir a toda hora pra ir ao
banheiro. Mas se quiser tomar a iniciativa, é toda sua.
-Acho que é você quem vai pedir pra sair.
-Você acha que eu não percebi o seu joguinho, hein? Me
desestruturar como fez com Lavínia?
-Quer ver se eu não consigo? Galera: quem aqui odeia a
aula dele, levanta a mão!- a turma em peso concorda com o quase marginal- Viu
só? Só aquele puxa-saco do Xande gosta da sua aula.
-E Rayane. Porque tá muito na cara que ela não pensa quando
tá do seu lado.
-Vai partir pro pessoal agora, é?
-E jogar baixo como você tá fazendo? Não, Felipe. A gente
é muito diferente pra usar a mesma tática. Mas tudo bem. Hoje realmente vai ser
difícil de continuar. Amanhã eu volto.
-Fica aí. Pode ficar no lugar, Professor!
-Você vai sair da sala? Você e a sua corja, que se juntam
pra atrapalhar a minha aula? Acho que não.
-Nós dois vamos ficar na sala!
-Hoje, eu não divido minha sala com você nem mais um
segundo. E que se dane o que Amparo vai dizer por eu ter abandonado a sala de
aula.
-Que se dane você!- Felipe surpreende negativamente a
todos ao retirar uma arma da mochila e apontar para o novo docente.
-Ficasse doido, Felipe? Abaixa isso! Abaixa- André clama
para o amigo.
-Eu quero ver se ele vai mesmo sair da sala. Você vai dar
essa aula até o final, porque se você colocar o pé pra fora da sala, eu atiro
em você!
Nenhum comentário:
Postar um comentário