27/10/2015

INTEGRIDADE/ CAPÍTULO 13



-Felipe, abaixa essa arma! Deixa de brincadeira!
-Ainda não se tocasse, não, né, Fred? Isso daqui não é brincadeira!
-Felipe, por favor! Olha o que tu tá fazendo, meu irmão...
-Qual é, André? Vai defender o professor agora? Vai virar puxa-saco, que nem Xande faz? Eu disse que tu ia se arrepender, que tu ia se arrepender das vezes que tu disse que eu não era homem.
-Deixa disso e guarda esse revólver, cara!
-Agora diz que vai sair da sala- levanta-se da cadeira, deixando os outros ainda mais apavorados- Diz que vai sair!
-Você não... Você não vai botar a vida de todo mundo que tá aqui em perigo. Seu problema é comigo.
-Com você, eu não tenho nada. Mas uma coisa eu vou te dizer, que é pra tu não esquecer nunca mais: quem manda aqui nesse lixo sou eu. E não tem Amparo, Lavínia, Gabriel, presidente da república que dê ordem pra mim, não. Se quiser sair, saia! Ninguém quer você aqui! Mas se ficar, pode ficar certo: vai ter que me aguentar.
-Sai daqui, Fred!- Vivi fica desesperada- É capaz dele disparar mesmo. Sai daqui!
Fred sai correndo e se tranca na sala dos professores. Felipe, por sua vez, chega ao centro da sala, sob os olhares amedrontados de todos e mostra que não tem nenhum projétil na arma.
-Onde é que você conseguiu isso?
-Em casa, André. Mas isso é o de menos. O negócio é o seguinte: o que aconteceu aqui, morre aqui. Porque quem abrir a boca pra contar o que aconteceu, eu boto bala aqui dentro, entendeu?


Xande sai completamente esbaforido da sala de Amparo, que misteriosamente está sem dar notícias há vários capítulos, mas deixa a sala aberta para promover a já citada "barriga". Nessa hora, Gabriel chega esbaforido à escola.
-O Fred já tá em aula?
-Já...
-O que é que você tem? Sua irmã piorou?
-Não, foi outra coisa.
-Você tá indo pra sala, Xande?
-Tô, sim. Vamos- ambos vão até a sala 04.


Com a incômoda sensação de ser seguido, Fred anda apressadamente, olhando para trás diversas vezes. Ele paga a passagem de ônibus e o cobrador percebe o seu nervosismo.
-Tá tudo bem?
-Tá.
-Mas você tá se tremendo.
-Não é nada, daqui a pouco passa. Obrigado- ele senta numa cadeira isolada, olha para a janela e chora de maneira que nenhum passageiro possa vê-lo.
-Eu disse que tu ia se arrepender, que tu ia se arrepender das vezes que tu disse que eu não era homem. Mas uma coisa eu vou te dizer, que é pra tu não esquecer nunca mais: quem manda aqui nesse lixo sou eu. E não tem Amparo, Lavínia, Gabriel, presidente da república que dê ordem pra mim, não. Se quiser sair, saia! Ninguém quer você aqui! Mas se ficar, pode ficar certo: vai ter que me aguentar- as palavras de Felipe ecoam na mente do futuro docente, que procura se conter na frente das pessoas, sem conseguir segurar algumas lágrimas.


Além do esforço inútil de Fred, há também Xande e Gabriel, que entram na sala, e que veem os alunos sem acreditar nos momentos aterrorizantes que viveram.
-Cadê o professor de vocês?- ao serem questionados pelo jornalista, os estudantes não sabem o que responder.
-Fred encerrou a aula mais cedo?- Xande, sem desconfiar de nada, indaga.
-Ele disse que ia pegar um negócio na sala de Amparo e não voltou até agora- Felipe mente.
-Não, na sala de Amparo ele não tá. Vim de lá agorinha.
-Disse que foi te procurar. Que você tava demorando muito pra voltar com o apagador.
-Pois é... Perdi a noção do tempo mesmo- declara Xande, ainda aéreo com o que leu e ouviu.
-Eu vou procurar Fred.
-Professor Fred?- fala Tenório, o velho guarda da escola- Ele saiu correndo pouco antes do senhor chegar.
-Pra onde ele foi?
-Isso, eu não sei. Mas ele saiu bem apressado mesmo.
-Eu vou mandar uma mensagem no Zap pra ele. Isso tá muito estranho- Gabriel promete averiguar a situação.


Fred desce do ônibus e prossegue até um dos prédios da universidade. Sobe alguns degraus, enfrenta um longo corredor e, ao não ver ninguém, senta à porta de uma das salas e chora, abalado com a experiência que acabou de passar no estágio curricular supervisionado. Depois de um tempo, já não se importa mais o que os transeuntes estão achando de seu desespero, tampouco da falta de empenho em oferecer-lhe alguma ajuda. Só quer chorar.
As mensagens de Gabriel via WhatsApp chegavam a todo momento, mas Fred não o atendia. Precisava de coragem para explicar o que aconteceu, mas não encontrava. Via as notificações, mas não prestava atenção ao remetente. Por enquanto, nada era capaz de acalmá-lo. Só uma pessoa, prestes a chegar naquele local.


Chegou o fim do turno matutino. Gabriel ficou por horas na sala dos professores, esperando alguma notícia de Fred, mas em vão. Ao ouvir o sino tocar, sai do recinto e vai em direção à Vivi.
-Espera. Eu queria falar com você.
-Já sei. Vai me perguntar se Fred deu as caras de novo. Não.
-O que aconteceu pra ele sumir assim? Já faz mais de horas que eu tento falar com ele e nada.
-Bom, eu sei. Mas eu quero que você faça uma coisa em troca.
-Que coisa?
-Você tá de carro?
-Olha, eu não quero me meter em confusão...
-Relaxa, Gabriel. Eu só quero que você me leve ao hospital onde Rayane tá internada.
-E por que você não vai com o irmão dela?
-Se você não percebeu, o clima tá meio pesado desde o dia que ela passou mal.
-Isso tem a ver com o sumiço de Fred, por acaso?
-Também. O culpado é o mesmo.
-Felipe.
-Bom, eu posso te contar quando chegar lá?
-Claro. Eu vou pegar meu notebook na sala dos professores. Você me espera.
-Tá certo.


Júlia chega à sala cheia de pastas e um notebook moderno. Encontra Fred desgostoso com tudo.
-Frederico? Tá fazendo o quê aqui?
-Eu precisava falar com a senhora.
-Hoje é terça-feira. Minha aula com você é na quinta. Aliás, é orientação do plano de aula.
-É urgente.
-Me ajuda com isso daqui, por favor- Fred é solícito, como sempre- Senta aqui. Desculpe se eu não te der muita atenção, mas é que agora eu tenho uma reunião com o núcleo...
-Eu menti pra você, Júlia.
-Sobre o quê?
-Sobre a minha estada na escola.
-Você não começou a dar aula ainda?
-Não. Eu não estou sendo supervisionado por nenhum professor.
-E então... O que você está fazendo na escola, afinal de contas?
-Eu tô dando aula no lugar de uma professora.

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