14/10/2016

WERNECK CAKE/ CAPÍTULO 17: QUANDO PERSONAGENS SEM NOME GANHAM DESTAQUE



-Isso só pode ser armação. Uma intriga criada por essa menina.
-O senhor nem tente me fazer duvidar dela.
-Por quê? Por acaso tem confiança nela?
-Mais do que no senhor.
-Deixa de ser palhaço, Peter. Faz menos de um ano que você se envolveu com essa sujeitinha.
-Veja lá como fala. E eu não me envolvi com ela. Tudo que aconteceu é invenção, foi invenção da cabeça da Leilah.
-Me poupe, meu filho. Acha mesmo que eu vou acreditar que nesse tempo todo, só indo pra clínica, nunca tentou nada com essa vagabunda?
-Agora ela é vagabunda, né? Porque te chutou mais de uma vez. Nem pensa que vai me enrolar! Quer saber de uma coisa? Eu não sou obrigado a dar explicação nenhuma. Acredite naquilo que quiser. E nem o senhor tem obrigação de me escutar ou acreditar no que eu digo. Tá vendo você? Na primeira oportunidade, o senhor insinuou que meu lance com Juliane começou com uma mentira. E eu nem precisava esperar o dia pro senhor me dizer isso. Sempre deu razão à Leilah. Só mudou de lado quando ela provou que era capaz de matar a minha mulher.
-Muito orgulho pra quem tem pouca coisa- agora somos nós que temos raiva do personagem. Pouca coisa? Aquela miragem médica de Boa Viagem?
-Minha! Minha mulher. Não sua. Nunca foi sua.
-Tão sua que se engraçou com o rapaz que é o pai do bebê. Rapaz esse que ela não teve coragem de dizer o nome. Vai ver você não sabe porque nem do filho ela tem certeza.
-Toma vergonha, Pai! Para com isso. Você tem inveja de mim. Logo o senhor, que viveu comigo, cuidou de mim. Eu esperava isso de qualquer um, menos de você. Na primeira briga que eu tive desde que eu comecei a namorar, você já tratou de chamar a Juliane de paçoca de jaleco?
-Deixa de ser infantil. Foi docinho de fisioterapia.
A confirmação esquentou os ânimos! Peter tenta sair.
-Se você abrir essa porta pra sair com essa galinha e a traidora da sua mãe de caso pensado, não precisa voltar.
    Peter pensa em largar a mala, seus dedos quase a soltam. Olha pro pai e diz:
-É sério isso?
-Nunca falei tão sério, Peter. Larga essa mala.
-Obrigado pela ameaça. Mas minha mulher você não leva pra cama nem a pau!
A porta se fecha. Arnaldo fica boquiaberto com a frieza de Peter. Entra em seu consciente e percebe que perdeu o filho por causa de tentativas frustradas de pegar a nora. Encosta sua mão na chave, pensando que logo, seu filho voltaria.
Azar o dele. Peter continua irredutível, desce às escadas e entra numa deslumbrante limusine pertencente à Ester. Dentro do carro, chora abraçado com a mãe, pelos laços que acaba de romper com o pai. Juliane não se aproxima do rapaz. Enquanto tenta ninar Bernardo, e vê o veículo sendo conduzido por um homem que mais parecia um guarda-roupa de tão grande, chora discretamente, achando ser a culpada do drama familiar. Perto do namorado, tenta conter-se. Além de sexy, é sensível. Quando a Mattel vai mandar uma bonequinha dessas lá pra casa, hein? (não nos critique, isso é melhor que “docinho de fisioterapia”. Cantada barata!)


*****

    São 22:14 (somos tão exatos quanto um episódio de Três Espiãs Demais). Peter já está acomodado na mansão de Ester. Aliás, deixe-nos ressaltar: uma das mais belas residências de Apipucos! Juliane e Bernardo estão em sua cama, dormindo. Abraçados. Mãe e filho observam a cena. Até que um tom de seriedade, em lugar do de tristeza, entra em cena.
-Meu filho, eu preciso ir ao meu gabinete. Há alguns detalhes da filial da gravadora em Goiás que preciso resolver ainda hoje.
-Tudo bem, Mãe. Eu não quero te atrapalhar.
-Nunca, meu amor. Eu só quero que você fique bem.
-Com isso que meu pai fez... Tentou fazer... Fica bem difícil.
-Nunca esperei isso do seu pai. Quer dizer, no segundo ano de casamento, sim. Ele deu em cima até da minha mãe, mas isso é outro assunto.
-Vem cá, Mãe: você nunca me explicou direito porque se separaram...
-Peter, eu deixei que seu pai te criasse porque na época, o meu negócio estava em ascensão e eu não queria te fazer sofrer com a mãe ausente e presente ao mesmo tempo, sabe? E depois, seu pai sempre teve mais amor a você. Eu achava até que me pedissem ajuda.
-Então, foi por quê? Mulher?
-Olha, filho... Eu não quero falar disso. Eu prometi que nunca diria. E vou manter minha promessa. Pelo menos, até o fim dessa postagem. Depois não sei- beija sua testa- não precisa de nada?
-Vai tranquila, coroa.
Peter faz com que sua mãe saia com um sorriso do quarto, como se houvesse a certeza de que ele fosse superar seu dilema. Ao chegar ao escritório, permanece altiva, como se pudesse segurar o mundo. Até que se depara com um rapaz de porte atlético sentado em sua mesa.
-Como foi que entrou?
-Seu mordomo abriu. Já me conhece há muito tempo pra esperar que diga meu nome no portão.
-Eu disse que era pra ficar sem aparecer por um tempo. Meu filho tá morando aqui.
-Sim, o que é que tem?
-Com a mulher e o enteado.
-Mas tu nunca disse que ele é casado! Peraí, o boy não tem só dezesseis anos?
-Depois eu te conto, mas é que é uma história complicadíssima. Por favor. A gente marca de se ver no lugar de sempre...
-Não vai dar pra esperar, Ester!
-O que foi?
-Eu preciso de mais mil e quinhentos reais pra comprar os manuais da faculdade.
-Você disse que estava trabalhando numa lanchonete.
-Pagam mal, não tem cacife pra me dar essa grana toda. A prova é na sexta.
-Depois a gente resolve isso. Agora, você precisa fazer um favor pra mim, Raí.
-Pode pedir que eu te dou o que quiser. Principalmente porque já sei tudo o que você quer de mim de cor.
-Eu cheguei de viagem e não consegui me divertir. Dá pra contornar esse problema pra mim?
-Pra você, não. Contigo. Aqui.
    E os dois dão aqueles beijos avassaladores, tipo daqueles que quando o espectador presta atenção, a pessoa já está casada com oito filhos, de tantos cortes nas cenas “editadas” pela censura. O tal Raí derruba tudo que está em cima da mesa, deita a Ester lá e continua com sua sessão de beijos, como um rato de academia morrendo de sede (ok, foi péssima, mas é pra saberem a intensidade da cena). Só que Peter abre a porta do gabinete, e os dois ficam sem saber o que fazer. Começa o interrogatório.
-Mãe? O que a senhora tá fazendo com o cara com quem a Leilah me botou gaia?
Viu? Muito fácil descobrir quem era Raí. Finalmente demos um nome e uma finalidade para o rapaz: envolver-se com 66% das mulheres importantes na vida de Peter. Os outros 34% correspondem à Juliane. Aliás, que correspondência maravilhosa...

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