-Isso só pode ser armação. Uma intriga criada
por essa menina.
-O senhor nem tente me fazer duvidar dela.
-Por quê? Por acaso tem confiança nela?
-Mais do que no senhor.
-Deixa de ser palhaço, Peter. Faz menos de um
ano que você se envolveu com essa sujeitinha.
-Veja lá como fala. E eu não me envolvi com
ela. Tudo que aconteceu é invenção, foi invenção da cabeça da Leilah.
-Me poupe, meu filho. Acha mesmo que eu vou
acreditar que nesse tempo todo, só indo pra clínica, nunca tentou nada com essa
vagabunda?
-Agora ela é vagabunda, né? Porque te chutou
mais de uma vez. Nem pensa que vai me enrolar! Quer saber de uma coisa? Eu não
sou obrigado a dar explicação nenhuma. Acredite naquilo que quiser. E nem o
senhor tem obrigação de me escutar ou acreditar no que eu digo. Tá vendo você?
Na primeira oportunidade, o senhor insinuou que meu lance com Juliane começou
com uma mentira. E eu nem precisava esperar o dia pro senhor me dizer isso.
Sempre deu razão à Leilah. Só mudou de lado quando ela provou que era capaz de
matar a minha mulher.
-Muito orgulho pra quem tem pouca coisa- agora
somos nós que temos raiva do personagem. Pouca coisa? Aquela miragem médica de
Boa Viagem?
-Minha! Minha mulher. Não sua. Nunca foi sua.
-Tão sua que se engraçou com o rapaz que é o
pai do bebê. Rapaz esse que ela não teve coragem de dizer o nome. Vai ver você
não sabe porque nem do filho ela tem certeza.
-Toma vergonha, Pai! Para com isso. Você tem
inveja de mim. Logo o senhor, que viveu comigo, cuidou de mim. Eu esperava isso
de qualquer um, menos de você. Na primeira briga que eu tive desde que eu
comecei a namorar, você já tratou de chamar a Juliane de paçoca de jaleco?
-Deixa de ser infantil. Foi docinho de
fisioterapia.
A confirmação esquentou os ânimos! Peter tenta
sair.
-Se você abrir essa porta pra sair com essa
galinha e a traidora da sua mãe de caso pensado, não precisa voltar.
Peter pensa em largar a mala,
seus dedos quase a soltam. Olha pro pai e diz:
-É sério isso?
-Nunca falei tão sério, Peter. Larga essa
mala.
-Obrigado pela ameaça. Mas minha mulher você
não leva pra cama nem a pau!
A porta se fecha. Arnaldo fica boquiaberto com
a frieza de Peter. Entra em seu consciente e percebe que perdeu o filho por
causa de tentativas frustradas de pegar a nora. Encosta sua mão na chave,
pensando que logo, seu filho voltaria.
Azar o dele. Peter continua irredutível, desce
às escadas e entra numa deslumbrante limusine pertencente à Ester. Dentro do
carro, chora abraçado com a mãe, pelos laços que acaba de romper com o pai.
Juliane não se aproxima do rapaz. Enquanto tenta ninar Bernardo, e vê o veículo
sendo conduzido por um homem que mais parecia um guarda-roupa de tão grande,
chora discretamente, achando ser a culpada do drama familiar. Perto do
namorado, tenta conter-se. Além de sexy, é sensível. Quando a Mattel vai mandar
uma bonequinha dessas lá pra casa, hein? (não nos critique, isso é melhor que
“docinho de fisioterapia”. Cantada barata!)
*****
São 22:14 (somos tão exatos
quanto um episódio de Três Espiãs Demais). Peter já está acomodado na mansão de
Ester. Aliás, deixe-nos ressaltar: uma das mais belas residências de Apipucos!
Juliane e Bernardo estão em sua cama, dormindo. Abraçados. Mãe e filho observam
a cena. Até que um tom de seriedade, em lugar do de tristeza, entra em cena.
-Meu filho, eu preciso ir ao meu gabinete. Há
alguns detalhes da filial da gravadora em Goiás que preciso resolver ainda
hoje.
-Tudo bem, Mãe. Eu não quero te atrapalhar.
-Nunca, meu amor. Eu só quero que você fique
bem.
-Com isso que meu pai fez... Tentou fazer...
Fica bem difícil.
-Nunca esperei isso do seu pai. Quer dizer, no
segundo ano de casamento, sim. Ele deu em cima até da minha mãe, mas isso é
outro assunto.
-Vem cá, Mãe: você nunca me explicou direito
porque se separaram...
-Peter, eu deixei que seu pai te criasse
porque na época, o meu negócio estava em ascensão e eu não queria te fazer
sofrer com a mãe ausente e presente ao mesmo tempo, sabe? E depois, seu pai
sempre teve mais amor a você. Eu achava até que me pedissem ajuda.
-Então, foi por quê? Mulher?
-Olha, filho... Eu não quero falar disso. Eu
prometi que nunca diria. E vou manter minha promessa. Pelo menos, até o fim
dessa postagem. Depois não sei- beija sua testa- não precisa de nada?
-Vai tranquila, coroa.
Peter faz com que sua mãe saia com um sorriso
do quarto, como se houvesse a certeza de que ele fosse superar seu dilema. Ao
chegar ao escritório, permanece altiva, como se pudesse segurar o mundo. Até
que se depara com um rapaz de porte atlético sentado em sua mesa.
-Como foi que entrou?
-Seu mordomo abriu. Já me conhece há muito
tempo pra esperar que diga meu nome no portão.
-Eu disse que era pra ficar sem aparecer por
um tempo. Meu filho tá morando aqui.
-Sim, o que é que tem?
-Com a mulher e o enteado.
-Mas tu nunca disse que ele é casado! Peraí, o
boy não tem só dezesseis anos?
-Depois eu te conto, mas é que é uma história
complicadíssima. Por favor. A gente marca de se ver no lugar de sempre...
-Não vai dar pra esperar, Ester!
-O que foi?
-Eu preciso de mais mil e quinhentos reais pra
comprar os manuais da faculdade.
-Você disse que estava trabalhando numa
lanchonete.
-Pagam mal, não tem cacife pra me dar essa
grana toda. A prova é na sexta.
-Depois a gente resolve isso. Agora, você
precisa fazer um favor pra mim, Raí.
-Pode pedir que eu te dou o que quiser.
Principalmente porque já sei tudo o que você quer de mim de cor.
-Eu cheguei de viagem e não consegui me
divertir. Dá pra contornar esse problema pra mim?
-Pra você, não. Contigo. Aqui.
E os dois dão aqueles beijos
avassaladores, tipo daqueles que quando o espectador presta atenção, a pessoa
já está casada com oito filhos, de tantos cortes nas cenas “editadas” pela
censura. O tal Raí derruba tudo que está em cima da mesa, deita a Ester lá e
continua com sua sessão de beijos, como um rato de academia morrendo de sede
(ok, foi péssima, mas é pra saberem a intensidade da cena). Só que Peter abre a
porta do gabinete, e os dois ficam sem saber o que fazer. Começa o
interrogatório.
-Mãe? O que a senhora tá fazendo com o cara
com quem a Leilah me botou gaia?
Viu? Muito fácil descobrir quem era Raí.
Finalmente demos um nome e uma finalidade para o rapaz: envolver-se com 66% das
mulheres importantes na vida de Peter. Os outros 34% correspondem à Juliane.
Aliás, que correspondência maravilhosa...
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