10/10/2016

WERNECK CAKE: CAPÍTULO 12: O ZORÓ NA PE-SEI-LÁ-QUE-NÚMERO

     Voltando ao apartamento minúsculo dos barracos...
-Vai, Juliane. Fala que história é essa de filho.
-Peter, eu... Eu quero falar... Que... Sobre... Olha, em relação ao... Ao Inácio... Quer dizer, à presença do Inácio... É... Ah, gente... Como é que eu vou falar isso?
-Eu tô sabendo que você trabalha na área de saúde. Talvez eu te leve ainda hoje pra um papo com o fonoaudiólogo... Ô, Juliane, que foi isso que eu ouvi, hein?
-Pior do que o que você ouviu é aquilo que eu ainda tô vendo...- espanta-se Inácio com a situação.
-Ô, meu irmão, não se mete. Na boa.
-Irmão, não: cunhado. É estranho, mas que jeito, né verdade?
-Olha, Peter...
-Não, é sério. Porque é estranho pra caramba eu ir tomar um banho e voltar com um enteado.
-Cala a boca! Deixa eu falar! Que saco!- revolta nossa sensual mocinha- Eu... Tive um filho, sim. Só que por causa do trabalho na clínica, eu pedi pra que o meu irmão cuidasse dele. O Inácio, ele é meu único parente por aqui.
-E eu vim aqui... Seu nome é Peter, né? Então, eu vim aqui pra perguntar se ela podia, por gentileza, tomar conta do Bernardo. O filho dela, sabe?
-Ai, por favor, Inácio! Criança num instante se acostuma com quem tá criando ela. Não pode realmente quebrar esse galho pra mim?
-O problema é que você acredita nessa ideia desde o dia em que saiu da maternidade. E se por acaso não lembra nem da idade do seu filho, isso já tem mais de seis meses!
-Eu prestei vestibular pra saúde, e não pra ciências exatas.
-Vem cá, por que você não falou nada?
-Eu não era obrigada.
-Não? Poxa... A pessoa começa a namorar bem, hein? Troquei uma assassina que levava uma peixeira por uma mãe de família e um cunhado na pochete.
-Eu não acabei ainda de contar.
-Mas eu parei de ouvir. Eu parei contigo. De vez! Que palhaçada é essa? Você... Você namora comigo e não me conta esse tipo de coisa?
-Agora a culpada sou eu? Qual é a próxima? Me cobrar uma pensão alimentícia pelo tempo que a gente tá namorando? Pelas duas horas que já acabaram?
-Pior! As duas horas e o namoro também.
-Peraí... Que ideia é essa?
-Não, depois dessa vou esperar o quê? Tá de sacanagem com a minha cara.
-Espera, Peter, deixa eu te explicar o que aconteceu.
-Não! E vai ser bom não saber de mais nada. Nada!
-Ô, cara! Te liga! Você tá de toalha- alerta Inácio quando Peter já está do lado de fora.
-Relaxa, eu troco de roupa no banheiro lá da entrada da pensão. Fui nele antes de vir pra cá.
-Pra onde você vai. Peter?- chora Juliane?
-Trocar de roupa. Isso não é novela de Carlos Lombardi, não. Depois eu aproveito pra dar uma mijada- bate a porta na cara da... Dona da porta, eu suponho.

*****

   Bom, agora Peter está num ônibus que vai em direção à PE-15 (inventamos a localidade agora, não nos interessava). Dentro do ônibus, ele pensa na vida. Putz grila! Qual? A gente nem contou nada, essa relação dele com Juliane esfriou desde o capítulo passado, está pior do que um suco de goiaba recentemente congelado para picolé.
   Voltando a dar fundamentos para a nossa história, a questão é que Juliane liga diversas vezes para o celular do cara. Só que ele retira a bateria e a joga pela janela do veículo. A ex-fisioterapeuta começa a ficar preocupada com o sumiço do rapaz. Um engarrafamento na rodovia faz com que ele demore ainda mais pra chegar à sua casa (desconsiderando o fato de que nem pra lá ele estava indo). Só que em casa, a moça tem uma ideia.
-Para de insistir, Juliane. Tá se vendo que ele não quer te atender.
-Não tô ligando pra ele, Inácio. Tô ligando pra Carol.
-A moça que trabalha na clínica? Pra quê?
-Eu quero que ela me dê o endereço da casa do Peter. Obviamente, ele deve ter ido pra lá. E como eu não sei onde é, ele não vai esperar eu aparecer na porta dele. Mas eu vou. Vou de todo jeito. Alô? Carol? É Juliane, tudo bem? Como é que tão as coisas aí? Sei... Carol, eu preciso de um favor. Mas eu não quero que ninguém escute que sou eu quem tá ligando. É o seguinte: eu preciso do endereço de Peter. Certo... Certo, eu vou pegar um papel aqui pra anotar... Me consegue um papel, Inácio- ele procura nas gavetas, além de tentar encontrar uma caneta- Pode dizer... Sei...- já anotando tudo- Não, fica tranquila, não tem problema nenhum. Sossega. Eu sei onde é que fica. Vai demorar pra eu chegar lá, agora que eu tô sem carro. Depois eu passo aí pra te explicar tudo, ok? Um beijo. Obrigada.
-Peraí, Juliane: e se esse menino não tiver em casa?
-Aí eu falo com o pai dele. Os dois são mais chegados, seu Arnaldo vai tentar dar um jeito de convencer Peter. Eu só espero que ele não fique contra mim também, senão eu me ferro de vez.
-Então, boa sorte. Vamos ficar na torcida pra que o sogrão seja bem diferente do teu novo namorado.

*****

   O plano de nossa musa era encaminhado perfeitamente. Quer dizer, nem tanto. O chato do Inácio estava atrás dela quando esta chegou ao apartamento do namorado ou ex-namorado, como queiram. Tudo isso era pra tentar convencê-la de que, independentemente de onde ela possa morar, precisava levar Bernardo.
-Escuta só: eu sei que você tá num problema sério com seu namorado, mas eu não posso deixar de falar com você.
-O que é? Pedir pra eu cuidar de Bernardo, de novo? Não entendeu nada do que está acontecendo, Inácio? Meu filho não pode ser uma prioridade agora. Entende isso de uma vez.
-O que eu entendo é que esse problema não é de agora, não. Você vai dar um jeito de adiar sempre.
Juliane bate na porta de Peter.
-Pronto. Pode sair agora?
-Tudo bem. Faz o que você quiser. Eu vou embora.
-Desistiu rápido, hein?
-Olha, Juliane: eu vou buscar o Bernardo e levar o menino pra sua casa. Eu não quero saber a que horas você vai chegar, mas vou ficar esperando.
-Inácio...
-Chega! Por favor... Não tenta ser mais imatura do que esse tal de Peter.
Seu Arnaldo abre a porta, sem ver que Inácio vai embora.
-Juliane? O que houve? Você aqui?
-Eu preciso falar com Peter- invade o recinto.
-Ele não foi atrás de você... No capítulo 10?
-Foi, foi, mas a gente teve uma briga, se desentendeu e agora eu não sei onde ele foi parar.
-Vou ligar pro celular dele...
-Não adianta, nem tenta. Passei o caminho todinho tentando ligar, e ele não atende. Ele não quer falar comigo.
-Muito difícil. Meu filho é doido por você.
-Ele era doido por uma mulher sem filhos.
-Você é mãe?
-É... Sou... Ninguém diz, né?
-Ninguém mesmo... Que pecado.
-O quê?
-Tanta mulher se mata na academia pra voltar ao corpo que tinha, e tu simplesmente... Tá nos trinques!
-O senhor sabe onde ele pode ter ido?
-Pra casa do Santiago, aquele amigo dele, sabe?
-Gente boa.
-Pois é. Só que eu acho difícil ele tá lá essa hora. O menino tem pegar o ônibus da PE-15 pra chegar em casa.
-Mas ele tava nervoso. Era pra ele ter procurado o senhor primeiro.
-Eu estava... Trabalhando.
-Certo. Já vi que ele nem deve chegar cedo- senta no sofá e cruza as pernas (ela trajava uma saia)- Posso esperar?
-Pode, sim. Quer uma água? Acabei de gelar...
-Não, não. Eu tô bem. Vou ficar melhor quando falar com ele.
-Agora que eu tô notando. Com aquela agonia do acidente, eu nem vi. Mas o Peter me contou que você era bem gostosa. Achava que era mentira dele, mas pelo visto...
-Eu- solta um pigarro- acho melhor esperar lá fora.
-Não, pode ficar aí- pede com a mão segurando o braço de Juliane- Se você tiver com vergonha, eu peço desculpas.
-Seu... Arnaldo, né isso? Vê só: a última vez que eu fiquei constrangida por causa de homem, foi quando eu fui ao ginecologista pela primeira vez.
-Aposto que você também deu em cima dele, como de Peter.
-Ele mentiu pro senhor?
-Não, ele te defendeu. Mas eu não acredito. Agora que te vi, menos ainda.
-O senhor quer fazer o favor de parar com isso?
-E se faz de ofendida, é mole? Parar com quê, Juliane? Eu ainda nem comecei.
-Tá se vendo que tu tá bêbado!
-E daí? Qual o problema? Eu ainda posso ver muito bem você e te querer.
-Chega, seu Arnaldo- vira o rosto.
-Pensa que é direito de família- segura-a violentamente- Meu filho pode, por que eu não posso? Hein? Qual o problema de levar você pra minha cama e descobrir o que tanto escondia naquele jaleco? Não é uma boa ideia, meu docinho?
Ela se defende dando um tapa nele. Nesse momento, chega Peter e se espanta com o rosto do pai, marcado pelos dedos da moça.
-O que é isso? Pai, por que ela te bateu?

   Os dois ficam apreensivos e mudos. Enquanto procuram resposta, vamos elaborando o próximo capítulo e deixamos nosso herói com uma cara de quem acabou de perceber o dia às avessas que teve.

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