-Eu não tô acreditando. O senhor quer
que eu fique calada? A Carolina engravida e o pai da criança não pode saber?
-Por acaso sua irmã tem certeza dessa
gravidez? Não, não tem. Por mim, o problema já está mais do que solucionado.
-Pai, como é que eu faço pra entrar em
contato com a escola de Londres?
-Não se preocupe, meu anjo. Eu vou
ligar pra explicar sua situação, contar que você mudou de ideia...
-Para! Para de alimentar essa fantasia
na cabeça dela!
-E o que você propõe, Yanna? Que eu
incentive sua irmã a lidar com o fracasso desse romance com um rapaz que a
trata pior que lixo? O meu apoio ela vai ter. Fique tranquila, Carolina. Pode
deixar comigo que eu vou resolver essa situação.
-Obrigada, Pai.
-Quanto a você... Não quero você
falando uma só palavra sobre isso com ninguém, ouviu bem?
-Com ninguém ou com Lucas?
-Está proibida!- altera a voz-
Proibida, entendeu? Eu não vou deixar você interferir no futuro da sua irmã só
porque você idolatra esse romance idiota.
-Ah, mas você pode mexer seus
pauzinhos, não é?
-Chega, Yanna! Você vai fazer
exatamente o que eu estou mandando. Deixa a sua irmã em paz! Se precisarem de
mim, eu estou no escritório.
-Eu quero só ver como é que vai ser
você sozinha, no exterior, cuidando de uma criança! Quero só ver, Carolina!
-Não escutou o que ele disse? Pode ser
que eu nem esteja mesmo grávida.
-Claro. Muito conveniente. Pra você e
pra ele. Mas se você se sente feliz, acredite nessa mentira- Yanna deixa a irmã
sozinha no jardim, saindo apressadamente.
ALGUNS DIAS
DEPOIS...
Lucas está conversando com dois amigos
ao sair da escola, até que uma voz chama:
-Lucas! Vem aqui, por favor!
Desconfiado, o rapaz deixa os dois
moços e se aproxima.
-Eu te conheço?
-Yanna, irmã de Carolina.
-Ah, tá- fica constrangido
inicialmente, mas toma coragem e pergunta- Onde é que ela tá? Faz mais de dias
que eu não vejo ela. Aqui, quase ninguém me conta nada.
-Antes de te conhecer, Carol tinha
feito um teste pra estudar em Londres. Passou, mas desistiu porque se apaixonou
por você. Agora que o namoro terminou, ela resolveu ir pra lá. Viaja hoje.
-Ela... Pediu pra você me avisar?
-Não, ela nunca ia pedir isso. Eu vim
aqui porque ela embarca de oito horas. Passa lá no aeroporto.
-O que é que eu vou fazer? Digo o quê
pra sua irmã, depois de tudo que eu já disse?
-Você deve isso a ela, Lucas. Qualquer
coisa que você fale pode fazer Carolina desistir dessa ideia e ficar aqui.
-Mas eu não posso empatar a vida dela.
Sabe, eu não tenho esse direito, não posso pensar só em mim.
-E não é o que você tá fazendo, com
seu orgulho? Pensa bem, Lucas. Você só tem mais uma chance de ser feliz com
Carolina.
...
Dessa vez, o palco das emoções é o
aeroporto. Raffael dá um apertado abraço na irmã que está se despedindo.
Impaciente, Bernardo comenta:
-Vamos, meu filho, senão sua irmã
perde o voo.
-Sei lá quando eu vou te ver de novo.
-Nas férias eu venho, prometo.
-Agora me deixa dar um abraço também-
Bernardo abre os braços para a filha- Quando chegar, liga pra mim.
-Deixa que eu ligo, Pai- após o
abraço, Carolina fica paralisada.
-O que foi, Carol?- Yanna percebe que
ela vê alguém: é Lucas, a contragosto de Bernardo.
-O que é que você quer aqui?
-Pai, fica quieto- Yanna pede.
-Você aqui, Lucas?
-É. Eu só vim aqui... Vim pra te dizer
que...
-Fala, Lucas.
-Vim pra te desejar uma boa viagem.
Carolina se aproxima do ex-namorado e
fala em seu ouvido.
-Se você me pedir pra ficar, eu largo
tudo agora.
-Não, Carol. A felicidade tá te
esperando- diz, com lágrimas- E ela não tá do meu lado.
-Lucas... Não faz isso com a gente,
por favor- o apelo faz com que o jovem passe a mão no rosto da moça.
-Você merece um cara de verdade, que
goste de você mesmo...
-Se você não gostasse, não estaria
aqui!
-Gosto. Mas eu não posso correr o
risco de machucar você.
-Mais do que tá fazendo agora?
-Carolina, por favor!- Bernardo brada
pela filha.
-Um dia, você vai encontrar alguém que
diga "eu te amo" sem medo, sem ligar pro que os outros vão dizer.
-Por que você não diz?
-Porque longe de mim, esquecendo que
eu existo, você vai tocar sua vida. Antes de me apaixonar por alguém, eu tenho
que aprender a ser feliz comigo.
-Tarde demais. Agora você faz parte de
mim pra vida toda.
Deixando Lucas sem entender o que
disse, Carolina parte para o embarque, sendo seguida dos irmãos e de Bernardo,
que olha o ex-namorado da filha com raiva.
OITO MESES
DEPOIS...
Bernardo liga para a diretora da escola
na qual Carolina se matriculou.
-E como vai a minha menina?
-Muito bem, Dr. Mutarelli. As notas da
sua filha estão entre as melhores de todo o internato.
-Ela costuma sair com as amigas quando
elas visitam a casa dos pais, nos fins de semana.
-Não. Carolina prefere ficar estudando
no quarto. Também são nesses dias que nós chamamos a equipe médica da escola,
pra acompanhar de perto a gravidez.
-Como as meninas estão lidando com a
presença de uma gestante?
-Normalmente, interpretam isso como
algo comum. Fique tranquilo, não há represálias.
-É por isso que eu confio tanto no
ensino de vocês. Nosso país deveria ter esse modelo de ensino tradicional.
-Tentamos uma vez, Dr. Mutarelli. Mas
ser uma escola de referência em nada interfere para atrair pais dispostos a
inserir seus filhos numa instituição de tanto renome como a nossa. Aqui,
abrigando filhos de empresários, o nosso objetivo está sendo plenamente
alcançado.
-Tem toda razão. Bom, eu preciso
desligar. Acabo de sair de casa e tenho uma reunião em quinze minutos. Peça pra
Carolina me ligar mais tarde.
-Está bem. Passe bem, Doutor.
-Até logo.
-Senhora- uma funcionária entra na
sala da diretora.
-O que houve?
-A Maria Carolina Mutarelli... Ela não
está no quarto.
-O quê?
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