-Cadê o que
vocês vão me dizer?
-Olha, filho...
-Não me enrola, Pai...
-Peraí, menino. Tá me interrompendo, eu vou
falar como?
-Deixa que eu explico- propõe-se Juliane.
-Tu explica?- assusta-se Arnaldo.
-É, ela explica. Fala, Juliane.
-O negócio é o seguinte: eu quero até pedir
desculpa pro seu pai. É que eu me descontrolei.
-Por quê?- ambos perguntam surpresos.
Principalmente o papai canalha.
-Peter, eu cheguei aqui, desesperada. Queria
saber se você estava aqui. Quando não te vi, perguntei ao seu Arnaldo se ele
tinha alguma ideia do seu paradeiro. Mas ele disse que se a gente brigou, e não
tinha dado notícias até agora, não era ele que ia dizer onde você tava. Aí eu
fiquei p da vida e parti pra cima dele.
-Foi isso mesmo, Pai?
-O que você acha? Que ela me bateu porque viu
uma muriçoca na minha cara e percebeu que não comprei SBT?
-É SBP, meu filho...
-Isso, Juliane. Ela perdeu a cabeça, mas tudo
bem.
-Pai, isso não tem nada a ver com ela. Não tá
se vendo que uma mulher dessa não faz isso por uma besteira?
-Então, é por quê? Olha, Peter, ela me contou
a versão dela e eu dei crédito a você. Agora, se resolva aí com essa menina,
que eu não tenho nada a ver com isso. A bronca é de vocês.
-Pede desculpa pra ele. Vai, anda.
-Eu mesmo não.
-Pede ou sai. Minha paciência já se esgotou.
Quando eu penso que não vou mais ter susto por tua causa, tu vem e me apronta
uma dessa. Fala. Ou nesse caso- abre a porta- nem precisa voltar.
Juliane olha pro rosto de Arnaldo, e demonstra
ódio ao falar, mas não deixa Peter notar isso.
-Desculpa, seu Arnaldo. Eu fiquei
descontrolada com tudo o que aconteceu, só foi isso. O senhor me perdoa?
-É... Claro. Claro, minha filha. E... Desculpe
ter falado com você com ignorância. Não vai acontecer de novo... -
impressiona-se Arnaldo com a capacidade cênica da mulher.
-Não vai mesmo- interrompe Peter- Agora,
passa. Passa, que eu quero falar com você no corredor. Olha, Pai, eu acho que
eu vou demorar, mas eu vou te contar tudo em detalhes.
-Não quer que eu vá com você, não, filho?
-Não precisa. Vou resolver isso sozinho. Não
foi o senhor mesmo que me deu esse conselho? E então? Vem, Juliane.
Ela sai do apartamento com medo, pensando que
ele tivesse escutado alguma coisa, ou mesmo que tivesse discutido com Inácio
quando o irmão fora expulso do prédio. Mas sentiu algo pior do que o medo: o
nojo de pedir desculpas pela reação intempestiva que teve. Nem é preciso dizer
que Arnaldo também gelou.
No corredor, Juliane vai direto ao ponto.
-Pra você não falar na frente do seu pai, só
pode ser o que eu tô pensando. Vai logo com isso, me dá um fora.
-Vai pra casa do teu irmão e pega teu menino.
Você vai ficar aqui com ele.
-Como é que é?
-Você vai morar comigo.
-Não dá, eu não posso. Não faz muitas horas
que você se irritou comigo por eu ter te escondido o meu filho.
-Peguei o ônibus num trânsito infernal, sem
saber pra onde ia. Sabe o que foi que fiz? Desci pra falar com Santiago.
Lembrei que hoje era o dia de folga dele. Contei a tua história. Sabe o que foi
que ele falou? “Aquele material todo já tem filho? Leva, que tá na promoção.
Mulher gostosa tem que aproveitar, porque depois só restam duas pra tu admirar:
tua mãe antes de tu nascer e tua filha antes de tu morrer”.
-Realmente, o Santiago é como um irmão pra
você...
-Pois é. Pena que não é. Ele me aconselhou a
ir atrás, como da vez que eu entrei na clínica a pulso.
-Mas como é que eu vou vir pra cá com
Bernardo? E teu pai?
-Painho tá tranquilo, eu peço a ele pra ele
ajudar a gente a criar teu menino. Nunca peço nada, nem ele é de me negar nada.
Não é possível que agora eu vá ter essa surpresa. Já basta a de hoje mais cedo.
-Peter, tem certeza que é isso mesmo? Você me
quer aqui, com você?
-Eu te queria hoje de manhã, agora de noite e
pra sempre. Agora para de me enrolar e me dá um beijo, vai.
E o clima romântico num corredor tão vazio e
esquisito que mais parece a Bat Caverna, os dois trocam aquela beijoca (o
vocabulário foi velho pra caramba, mas a gente não quer citar “Aquele beijo”,
por não estarmos aqui a fazer propaganda gratuita de novela). Logo eles tratam
de dar as mãos e descer as escadas, na esperança de terminar a nossa narrativa
com um final feliz. Ainda vai render isso daqui, nem se acanhe.
*****
O caso é que Peter destranca a porta. Seu
Arnaldo está dormindo no sofá. Assusta-se ao ver o filho segurando uma mala e
Juliane, o Bernardo.
-Juliane, segue o corredor e entra na segunda
porta da direita. Daqui a pouco eu levo as coisas lá.
-Peter, o que houve? Quem é esse menino? Filho
dela?
-É, Pai. O próprio.
-Pra onde esses dois vão? Já são mais de onze
horas da noite, eles vão pra onde, numa hora dessas?
-Não vão pra canto nenhum. Eles vão parar
aqui.
-Meu filho, você trouxe Juliane e o filho dela
pra morar aqui?
-Trouxe. Por quê? O senhor tem algum problema
com Juliane pra não querer ela aqui?
Seu Arnaldo tenta arranjar uma desculpa. Mas
ele só consegue no capítulo 14.
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