Certa de que sua rival tinha empacotado, eis que o
disputado Peter chega. Menino, quando ele viu a outra estatelada no chão,
correu para socorrê-la, em vão.
-Leilah! Leilah! O que houve com você? Fala comigo!
Você não pode me deixar! Acorda, por favor.
-Ela não vai acordar- adverte Juliane, olhando do
carro- Não há nada pra fazer no caso dela, Peter- sai o carro lentamente- Vocês
se perderam um do outro aos poucos. Eu fiz que isso virasse fato consumado de
vez- Peter se abaixa, alisando o rosto de sua ex. Muito abatido, ele escuta a
frieza de sua amante- Nunca tocaria nessa idiota, mas foi pra me defender...
-Se defender de quê? Você pensa que vai me enganar
com essa história, psicopata vagabunda... - tenta bater no rosto de Juliane.
-Escuta!- impede-o- Leilah iria à polícia pra
contar sobre nós dois. Eu não jogaria o que eu construí no lixo por conta de
uma vadiazinha que namorava contigo. Ela não podia ser conformar e deixar teu
caminho livre? Não, só se contentou quando veio aqui me ameaçar!
-Ela estava totalmente descontrolada. E depois que
eu passei a noite fora, chegou até a me bater.
-Mais uma prova de que você passou muito tempo ao
lado de uma descontrolada. Se não fosse comigo, pensa: ela teria essa mesma
reação. Com qualquer mulher!
-Tem razão. Faz muito tempo que eu queria terminar
e não tive coragem pra isso. Mas chegar a esse ponto? Pra você matar? Entende
agora que a culpa disso tudo é minha? Você sujou seu nome, acabou com sua
carreira por minha culpa...
-Mas eu me apaixonei por você. Por isso mesmo que
eu quero correr o risco. Ninguém vai desconfiar, as pessoas vão supor que isso
foi um acidente. E depois, não vai ser o primeiro risco. Lembra quando percebi
o quanto você ficou triste depois dos chifres que ela te botou?
-Juliane...
-Shiu- aproxima-se dele- Você sempre me pareceu tão
frágil, e talvez quando você deixou cair essa máscara de esperto, daquele que
tem o pé no chão, eu pude perceber que, na verdade, a Leilah não te dava a
sensação de que um dia, os riscos e a falta de limites podiam tomar conta da
sua vida. E por isso, eu tomei essa ideia pra mim. Aliás, você pra mim- frisa.
-Não, eu não posso. Eu quero você, mas não posso.
-O que te impede não existe mais.
-Ainda bem, minha filha. Aliás... Até que um dia!
E os dois trocam beijos ardentes próximos ao capô
do carro, desconsiderando a Leilah ao lado. De repente, a imagem vai se
afastando deles, como se estivesse subindo e avistando o triângulo, numa imagem
marcante. Ao fundo, um grito, e de repente...
*****
-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!
Rá! Pegadinha do Mallandro! Iê, iê! Tudo era um
pesadelo de Leilah. Pior que a mulher sonhou Juliane exatamente como ela é (pra
você perceber o nível de insegurança da mulher). Não vamos narrar que ela mijou
na cama, seria desprezível.
*****
No outro dia, Peter vai à clínica. Mais uma vez,
Priscila se atrasa e não está no local. Ao chegar, questiona Juliane.
-O que houve com a Priscila?
-Não sei, ela já devia ter chegado. Acho que foi
trânsito. Tenho a impressão de que ela anda de charrete, só pode.
-É até melhor. Ela é muito amiga de Leilah, talvez
ela queira tentar juntar a gente de novo.
Juliane, irritada, para de examiná-lo.
-Duas coisas: Priscila não vai fazer isso. Não tem
nada a ver com o trabalho dela... E depois, se arruma, vai pra uma festa, mas
vê se esquece dessa fulana.
- (rindo) Tá com ciúmes, Juliane?
-Ciúmes e doses cavalares de bom senso. Um de nós
precisa ter, pelo menos, isso.
-Ela foi minha namorada por dois anos. Me botou
gaia na frente de todo mundo. Humilhação, cara... Dá pra esquecer, apagar isso?
Deletar?
-Peter, tem casamento que dura cinquenta anos, e
nenhum dos velhos tem coragem de botar a dentadura e dizer: ʺpronto, acabouʺ! Será que você, com
dezesseis anos, não pode inflar o seu ego e dizer que superou a crise de
caráter dessa tal de Leilah?
-Desculpa- levanta-se da cama- Mas eu prefiro ver
você agindo com essa superioridade toda depois de ser traída.
-Você já tá vendo, querido. Não se preocupa. Todo
mundo sobrevive a isso. Você é o único que morre por causa de mulher. Isso é
ser qualquer coisa, menos homem.
-Para com isso.
-Não entendeu ainda que se ela foi capaz de trair
você, significa que foram dois anos perdidos, convivendo com alguém que seria
capaz de te trair? A mulher não podia dar um fim no namoro? Tinha que se agarrar
com a primeira calça que viu?
-Cala a boca! –já havia alterado o tom de voz. Ao
perceber que foi indelicado demais, decidiu sair- Eu vou embora. Desculpa...
Perdi a cabeça, perdi o controle. Eu nem sei mais o que é isso, mas... Não
posso ver você e descontar o ódio, a raiva que eu tenho.
-O fato, Peter- aproxima-se do rosto dele- é que
você tem que dar um jeito de se esquecer dessa menina.
-Já que tem tanta certeza do que tá dizendo, com
essa facilidade toda, mostra então como é que eu tiro Leilah do pensamento.
-Tem que se interessar por outra mulher. Ou vai
dizer que desde que começou a namorar ficou cego, a ponto de ninguém mais te
despertar qualquer interesse?
-Essa... Regra vale... Pro seu caso, inclusive?
-Vai começar o queijo...
-Você mesma notou uma vez que eu não parava de te
olhar, imaginando, pensando como seu corpo é. Principalmente se ele tiver perto
do meu.
-Vou ter que obrigar alguém a escutar que minha
relação dentro da clínica não vai ser mais do que profissional?
-Eu não tô te pedindo nada. Não teve um minuto que
eu dissesse pra ela deixar de ser profissional. A minha, Juliane, é que não
precisa ser desse jeito. E se quer tanto que eu esqueça da minha ex, devia me
ajudar com esse problema.
-Quê que é? A última bolacha do pacote resolveu me
desafiar dentro da minha própria sala? Eu passo seu caso pra outra pessoa e no
mesmo instante, você baixa sua guarda, tá entendendo? Perdi a conta de quantos
meninos iguaizinhos eu já dei o fora. Qual o seu problema?- começa a se irritar
e sai de perto- Em vez de tomar coragem pra resolver seu lance com a gaieira da
sua namorada, decidiu se tornar mais um que quer ser dispensado?
-(segura a Juliane com força, como se fosse bater
naquele rosto lindo, bem desenhado, esculpido sem botox ou tratamento estético
das “Mulheres ricas”, da Band)- Por que não me dispensou ainda? Hein? A porta
tá meio aberta, bem fácil pra me mandar embora, me encaminhar pra outra
fisioterapeuta. Eu me abri depois que saí da festa, e você fez com que aquela
fosse a melhor noite da minha vida. Se é tão difícil admitir que tá com as mãos
geladas porque não aguenta ficar perto de mim, sem esconder que eu tô te
causando tanta surpresa, nem se dê ao trabalho de responder. Só me beija.
-Já falamos tudo, Peter. Eu vou chamar a segurança.
-Ótimo. Porque é o que tá te faltando e é o que
você pode ter comigo.
Os dois estão prestes a trocar o famoso beijo-
cinco capítulos pra não rolar nada, além das especulações de Leilah e do
público, é chato demais. Não é que os belos olhos de Juliane vêem Priscila
assustada em frente à porta.
-O que tá havendo aqui?
-Er... Onde é que você tava, Priscila? A Carolina
já... Já ligou pro teu celular não sei quantas vezes e você não... Não
atende...
-Não precisa gaguejar, Juliane. Esses protestos no
centro que deixam o trânsito horrível. Tudo bem, Peter?
-Tudo. Tudo OK, Priscila- tenta disfarçar o
constrangimento da cena.
-Eu sei que está bem. Com a minha falta, a Juliane
resolveu subir o horário dela. Ótimo. Porque seu semblante não dá pra esconder
a animação com a minha ausência.
-Bom, ele já tá entregue, Priscila- recompõe-se do
susto- Acredito que é suficiente por um único dia.
-Não, Juliane. A consulta tá bem longe de terminar.
-Querido, eu já acabei! E se você não se importa,
gostaria de fazer com os outros pacientes o mesmo que fiz contigo: subir o
horário.
Com raiva, Peter dispara ao direcionar-se à
Priscila.
-Ah, tenha certeza que o horário vai ser a única
coisa a subir hoje. Porque tem gente que faz questão de jogar minha autoestima
num barranco!
-Vamos, Peter?- pergunta Priscila, assustada com a
situação.
-Agorinha.
O rapaz passa na frente, e Priscila olha pra
Juliane como se repudiasse o comportamento da amiga, imaginando que sua
sensualidade seria capaz de provocar até mesmo um paciente de maneira
proposital. Juliane pega o telefone, disca um ramal e diz:
-Carolina, pede pro próximo entrar daqui a cinco
minutos, por favor.
-Ok, Juliane.
Ao pensar consigo mesma, mostra-se pasma com a
situação tensa.
-Gente, que pirralho é esse? Ainda bem que eu tava
de jaleco!
*****
Leilah está numa lanchonete, próxima ao episódio da
festa. Olha pro relógio e não gosta de ver as horas, como se alguém estivesse
atrasado. De repente, ela vê Priscila chegando e pergunta:
-Onde é que você tava? Tô te esperando faz tempo.
-Hoje a clínica encheu, menina.
-Você me ligou era umas três horas. Quase nunca a
gente sai. Tudo é tão corrido... Mas foi bom você ligar. Queria falar uma
coisa.
-Tudo bem. O que é?
-Pensei no que você disse e acho que me precipitei.
Talvez aquela minha reação quando ouvi a conversa do Peter com o Santiago tenha
mesmo sido exagerada.
-Você vai voltar pro Peter?
-Não, eu vou pedir desculpas. Eu sei que ele não
vai olhar pra minha cara depois do barraco na porta dele. Mas eu não tive
certeza, confirmação nenhuma de que esse interesse por essa tal de Juliane
ficou só nisso.
-Leilah...- pausa pra respirar melhor e dar a
bomba- Eu vou ter que te dar uma confirmação.
-De quê?
-Hoje, quando eu cheguei... Lá na clínica, eu
escutei uma conversa muito estranha do Peter e da Juliane.
-Quanto?
-Cem por cento suspeita.
-O que é suspeito?
-Na noite que ele saiu da festa, ele teve um encontro
com ela, pelo que eu escutei. Cheguei na parte que o Peter falou que aquela foi
a melhor noite da vida dele, por causa do que aconteceu entre eles.
-Eles dormiram juntos, é isso?
-Não sei...
-Não mente pra mim, Priscila!
-Não, eu não sei mesmo o que aconteceu. Eu tinha
largado mais cedo nesse dia. O fato, Leilah, é que quando eu abri a porta, eu
vi os dois quase se beijando.
Os olhos da corna, ou da falsa corna (vamos deixar
suspense) encheram de lágrimas.
-Priscila, você tem noção do que tá dizendo pra
mim?
-Tenho. Infelizmente, o Peter resolveu usar a
Juliane pra te dar o troco.
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