05/10/2016

WERNECK CAKE: CAPÍTULO 6: A TRAIÇÃO (VOCÊ QUE ESTÁ LENDO, NÃO VAI DESCOBRIR NADA! DESISTA!)

Certa de que sua rival tinha empacotado, eis que o disputado Peter chega. Menino, quando ele viu a outra estatelada no chão, correu para socorrê-la, em vão.
-Leilah! Leilah! O que houve com você? Fala comigo! Você não pode me deixar! Acorda, por favor.
-Ela não vai acordar- adverte Juliane, olhando do carro- Não há nada pra fazer no caso dela, Peter- sai o carro lentamente- Vocês se perderam um do outro aos poucos. Eu fiz que isso virasse fato consumado de vez- Peter se abaixa, alisando o rosto de sua ex. Muito abatido, ele escuta a frieza de sua amante- Nunca tocaria nessa idiota, mas foi pra me defender...
-Se defender de quê? Você pensa que vai me enganar com essa história, psicopata vagabunda... - tenta bater no rosto de Juliane.
-Escuta!- impede-o- Leilah iria à polícia pra contar sobre nós dois. Eu não jogaria o que eu construí no lixo por conta de uma vadiazinha que namorava contigo. Ela não podia ser conformar e deixar teu caminho livre? Não, só se contentou quando veio aqui me ameaçar!
-Ela estava totalmente descontrolada. E depois que eu passei a noite fora, chegou até a me bater.
-Mais uma prova de que você passou muito tempo ao lado de uma descontrolada. Se não fosse comigo, pensa: ela teria essa mesma reação. Com qualquer mulher!
-Tem razão. Faz muito tempo que eu queria terminar e não tive coragem pra isso. Mas chegar a esse ponto? Pra você matar? Entende agora que a culpa disso tudo é minha? Você sujou seu nome, acabou com sua carreira por minha culpa...
-Mas eu me apaixonei por você. Por isso mesmo que eu quero correr o risco. Ninguém vai desconfiar, as pessoas vão supor que isso foi um acidente. E depois, não vai ser o primeiro risco. Lembra quando percebi o quanto você ficou triste depois dos chifres que ela te botou?
-Juliane...
-Shiu- aproxima-se dele- Você sempre me pareceu tão frágil, e talvez quando você deixou cair essa máscara de esperto, daquele que tem o pé no chão, eu pude perceber que, na verdade, a Leilah não te dava a sensação de que um dia, os riscos e a falta de limites podiam tomar conta da sua vida. E por isso, eu tomei essa ideia pra mim. Aliás, você pra mim- frisa.
-Não, eu não posso. Eu quero você, mas não posso.
-O que te impede não existe mais.
-Ainda bem, minha filha. Aliás... Até que um dia!
E os dois trocam beijos ardentes próximos ao capô do carro, desconsiderando a Leilah ao lado. De repente, a imagem vai se afastando deles, como se estivesse subindo e avistando o triângulo, numa imagem marcante. Ao fundo, um grito, e de repente...

*****

-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!
Rá! Pegadinha do Mallandro! Iê, iê! Tudo era um pesadelo de Leilah. Pior que a mulher sonhou Juliane exatamente como ela é (pra você perceber o nível de insegurança da mulher). Não vamos narrar que ela mijou na cama, seria desprezível.

*****

No outro dia, Peter vai à clínica. Mais uma vez, Priscila se atrasa e não está no local. Ao chegar, questiona Juliane.
-O que houve com a Priscila?
-Não sei, ela já devia ter chegado. Acho que foi trânsito. Tenho a impressão de que ela anda de charrete, só pode.
-É até melhor. Ela é muito amiga de Leilah, talvez ela queira tentar juntar a gente de novo.
Juliane, irritada, para de examiná-lo.
-Duas coisas: Priscila não vai fazer isso. Não tem nada a ver com o trabalho dela... E depois, se arruma, vai pra uma festa, mas vê se esquece dessa fulana.
- (rindo) Tá com ciúmes, Juliane?
-Ciúmes e doses cavalares de bom senso. Um de nós precisa ter, pelo menos, isso.
-Ela foi minha namorada por dois anos. Me botou gaia na frente de todo mundo. Humilhação, cara... Dá pra esquecer, apagar isso? Deletar?
-Peter, tem casamento que dura cinquenta anos, e nenhum dos velhos tem coragem de botar a dentadura e dizer: ʺpronto, acabouʺ! Será que você, com dezesseis anos, não pode inflar o seu ego e dizer que superou a crise de caráter dessa tal de Leilah?
-Desculpa- levanta-se da cama- Mas eu prefiro ver você agindo com essa superioridade toda depois de ser traída.
-Você já tá vendo, querido. Não se preocupa. Todo mundo sobrevive a isso. Você é o único que morre por causa de mulher. Isso é ser qualquer coisa, menos homem.
-Para com isso.
-Não entendeu ainda que se ela foi capaz de trair você, significa que foram dois anos perdidos, convivendo com alguém que seria capaz de te trair? A mulher não podia dar um fim no namoro? Tinha que se agarrar com a primeira calça que viu?
-Cala a boca! –já havia alterado o tom de voz. Ao perceber que foi indelicado demais, decidiu sair- Eu vou embora. Desculpa... Perdi a cabeça, perdi o controle. Eu nem sei mais o que é isso, mas... Não posso ver você e descontar o ódio, a raiva que eu tenho.
-O fato, Peter- aproxima-se do rosto dele- é que você tem que dar um jeito de se esquecer dessa menina.
-Já que tem tanta certeza do que tá dizendo, com essa facilidade toda, mostra então como é que eu tiro Leilah do pensamento.
-Tem que se interessar por outra mulher. Ou vai dizer que desde que começou a namorar ficou cego, a ponto de ninguém mais te despertar qualquer interesse?
-Essa... Regra vale... Pro seu caso, inclusive?
-Vai começar o queijo...
-Você mesma notou uma vez que eu não parava de te olhar, imaginando, pensando como seu corpo é. Principalmente se ele tiver perto do meu.
-Vou ter que obrigar alguém a escutar que minha relação dentro da clínica não vai ser mais do que profissional?
-Eu não tô te pedindo nada. Não teve um minuto que eu dissesse pra ela deixar de ser profissional. A minha, Juliane, é que não precisa ser desse jeito. E se quer tanto que eu esqueça da minha ex, devia me ajudar com esse problema.
-Quê que é? A última bolacha do pacote resolveu me desafiar dentro da minha própria sala? Eu passo seu caso pra outra pessoa e no mesmo instante, você baixa sua guarda, tá entendendo? Perdi a conta de quantos meninos iguaizinhos eu já dei o fora. Qual o seu problema?- começa a se irritar e sai de perto- Em vez de tomar coragem pra resolver seu lance com a gaieira da sua namorada, decidiu se tornar mais um que quer ser dispensado?
-(segura a Juliane com força, como se fosse bater naquele rosto lindo, bem desenhado, esculpido sem botox ou tratamento estético das “Mulheres ricas”, da Band)- Por que não me dispensou ainda? Hein? A porta tá meio aberta, bem fácil pra me mandar embora, me encaminhar pra outra fisioterapeuta. Eu me abri depois que saí da festa, e você fez com que aquela fosse a melhor noite da minha vida. Se é tão difícil admitir que tá com as mãos geladas porque não aguenta ficar perto de mim, sem esconder que eu tô te causando tanta surpresa, nem se dê ao trabalho de responder. Só me beija.
-Já falamos tudo, Peter. Eu vou chamar a segurança.
-Ótimo. Porque é o que tá te faltando e é o que você pode ter comigo.
Os dois estão prestes a trocar o famoso beijo- cinco capítulos pra não rolar nada, além das especulações de Leilah e do público, é chato demais. Não é que os belos olhos de Juliane vêem Priscila assustada em frente à porta.
-O que tá havendo aqui?
-Er... Onde é que você tava, Priscila? A Carolina já... Já ligou pro teu celular não sei quantas vezes e você não... Não atende...
-Não precisa gaguejar, Juliane. Esses protestos no centro que deixam o trânsito horrível. Tudo bem, Peter?
-Tudo. Tudo OK, Priscila- tenta disfarçar o constrangimento da cena.
-Eu sei que está bem. Com a minha falta, a Juliane resolveu subir o horário dela. Ótimo. Porque seu semblante não dá pra esconder a animação com a minha ausência.
-Bom, ele já tá entregue, Priscila- recompõe-se do susto- Acredito que é suficiente por um único dia.
-Não, Juliane. A consulta tá bem longe de terminar.
-Querido, eu já acabei! E se você não se importa, gostaria de fazer com os outros pacientes o mesmo que fiz contigo: subir o horário.
Com raiva, Peter dispara ao direcionar-se à Priscila.
-Ah, tenha certeza que o horário vai ser a única coisa a subir hoje. Porque tem gente que faz questão de jogar minha autoestima num barranco!
-Vamos, Peter?- pergunta Priscila, assustada com a situação.
-Agorinha.
O rapaz passa na frente, e Priscila olha pra Juliane como se repudiasse o comportamento da amiga, imaginando que sua sensualidade seria capaz de provocar até mesmo um paciente de maneira proposital. Juliane pega o telefone, disca um ramal e diz:
-Carolina, pede pro próximo entrar daqui a cinco minutos, por favor.
-Ok, Juliane.
Ao pensar consigo mesma, mostra-se pasma com a situação tensa.
-Gente, que pirralho é esse? Ainda bem que eu tava de jaleco!

*****

Leilah está numa lanchonete, próxima ao episódio da festa. Olha pro relógio e não gosta de ver as horas, como se alguém estivesse atrasado. De repente, ela vê Priscila chegando e pergunta:
-Onde é que você tava? Tô te esperando faz tempo.
-Hoje a clínica encheu, menina.
-Você me ligou era umas três horas. Quase nunca a gente sai. Tudo é tão corrido... Mas foi bom você ligar. Queria falar uma coisa.
-Tudo bem. O que é?
-Pensei no que você disse e acho que me precipitei. Talvez aquela minha reação quando ouvi a conversa do Peter com o Santiago tenha mesmo sido exagerada.
-Você vai voltar pro Peter?
-Não, eu vou pedir desculpas. Eu sei que ele não vai olhar pra minha cara depois do barraco na porta dele. Mas eu não tive certeza, confirmação nenhuma de que esse interesse por essa tal de Juliane ficou só nisso.
-Leilah...- pausa pra respirar melhor e dar a bomba- Eu vou ter que te dar uma confirmação.
-De quê?
-Hoje, quando eu cheguei... Lá na clínica, eu escutei uma conversa muito estranha do Peter e da Juliane.
-Quanto?
-Cem por cento suspeita.
-O que é suspeito?
-Na noite que ele saiu da festa, ele teve um encontro com ela, pelo que eu escutei. Cheguei na parte que o Peter falou que aquela foi a melhor noite da vida dele, por causa do que aconteceu entre eles.
-Eles dormiram juntos, é isso?
-Não sei...
-Não mente pra mim, Priscila!
-Não, eu não sei mesmo o que aconteceu. Eu tinha largado mais cedo nesse dia. O fato, Leilah, é que quando eu abri a porta, eu vi os dois quase se beijando.
Os olhos da corna, ou da falsa corna (vamos deixar suspense) encheram de lágrimas.
-Priscila, você tem noção do que tá dizendo pra mim?
-Tenho. Infelizmente, o Peter resolveu usar a Juliane pra te dar o troco.

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