04/10/2016

WERNECK CAKE/ CAPÍTULO 4: FINS E AUSÊNCIAS

Sabe por qual motivo não apresentamos até aqui o nome do adolescente? Porque não nos interessava; relatar as relações físicas de Juliane era para nós muito mais útil (não somos bestas). Mas vamos mudar de polo: partamos para o drama rasgado de novela das oito dos anos sessenta. Sabe qual o motivo que impede Peter de pegar a fisioterapeuta? A crença de que era muita areia pro caminhãozinho dele? Certo, isso também. Mas ele namorava Leilah, uma jovem bonita. Muito não, pois estaríamos enaltecendo nossa amada profissional da saúde. Isso não impedia, entretanto, que o rapaz pudesse sentir atração, como mostramos no capítulo anterior. Já confidenciava o quanto era difícil controlar-se perto dela, ao seu amigo Santiago. Como em uma festa de aniversário que muitos colegas de sua sala foram.

-Sem querer, você derramou Coca-Cola nela? ʺSem quererʺ? Veio em boa hora, isso sim.
-Tá bem difícil, hein, Santiago? Toda tarde ter que ir na fisioterapia e fazer aquela cara de leso, de quem não quer nada, com aquele "tipão" do lado...

É aí que Leilah chega, mas os meninos não a veem. Sinto um cheiro de "ele se lascou" no ar...

-Putz, cara... Vai me dizer que com uma mulher daquelas, todo dia na tua frente, você ainda não pegou?
-Não, besta. Esqueceu que tenho namorada? É lógico que Juliane não está interessada, senão eu já tinha percebido atenção. Lembra que eu te falei que ela pediu pra eu mudar de conversa quando eu olhei por dentro do jaleco?
-Por dentro do jaleco... Eu já tinha dado um jeito daquele jaleco não me aparecer nunca mais na vida. A mulher dando sopa e você preocupado com besteira. Sabe de que mais? Pra mim, você não quer entregar o jogo: já pegou Juliane, sim, e não quer falar.
-Eu não sou doido de dizer que estou interessado nela, que acho ela gostosa e que quero pegar. Aí eu estaria mentindo- escutando o "suficiente", Leilah dá o fora, irritada- Mas eu não quero terminar com Leilah por isso. É fogo de palha, meu irmão. Passa. 
-Vamos ver até quando essa calma toda. 
  Alguns minutos depois, Leilah é vista tomando uma taça de cerveja, coisa que ela não faz com frequência. Já é o máximo pra ela entornar a garrafa de Skol inteira (não façam isso!). Peter se aproxima e dá-lhe um beijo no pescoço. Ao virá-la, nota que ela está diferente.
-Você tá bem?
-Tenho motivo pra não estar?
-É que você não é de beber.
-Deu vontade, só isso. O que você falou com o Santiago?
-Assunto de homem.
-Mulher, pra traduzir.
-Relaxa, amor- tenta beijá-la na boca, quando toca uma música eletrônica.
-Vamos dançar?- desvia do beijo.
-Agora!
Todos se divertem. Leilah dança de maneira ousada, talvez por conta do efeito da bebida (acha que acreditamos nisso?) e logicamente, Peter se surpreende. Santiago também se diverte, mas olha uma cena incomum: a moça agarra um garoto desconhecido da festa, e reproduz os passos da mesma maneira, deixando o namorado enciumado. Tasca um beijo daqueles em que o corno procura um buraco pra enfiar a cara. Mas a única coisa enfiada mesmo foi a mão de Peter no meio dos "cornos" do moço. Leilah desaba no chão, aos risos, e Santiago tira Peter de cima, enquanto outros separam o menino que foi agredido. O adolescente não quer conversa: trata de se mandar da festa. No jardim, Leilah corre atrás e provoca.
-Coitadinho de você. Não aguentou saber que podia ser trocado por outro.
-Você não podia ter feito isso. Na frente de todo mundo, me fazendo passar vergonha. Não era nele que eu devia ter socado. Era você!- grita.
-Não é na frente do povo que tá te deixando com raiva. É descobrir que eu posso te trocar por esse, como por qualquer outro. Ou vai dizer que você nunca me traiu? Acha que eu não escutei tua conversa?
-Dane-se! Dane-se você e o que você acha que escutou! Eu quero que você se exploda!- sai da casa.
  Enquanto isso, Leilah chora no jardim pela vergonha que passou. E na rua, Peter anda totalmente desconcertado, o bichinho... Foi andando pelas ruas da cidade, ruas tão distantes da sua casa que reproduziam o caminho da clínica (pra quê pegar ônibus. não é?). Não tem ninguém na avenida, um misero mosquito pra contar história. Do nada, surgem alguns carros que participavam de pegas. O segundo veículo, porém, andava passando por calçadas, o motorista estava aparentemente bêbado... Ao notar que ele perderia o controle, o cara trata de correr, mas é atropelado em frente à clínica. 
  Uma moça olha do edifício empresarial onde funciona o estabelecimento e entra em pânico. Na hora, Juliane sai de sua sala e pergunta o que houve. A moça relata tudo e ambas descem para socorrer a vítima. A fisioterapeuta se surpreende quando percebe que é Peter, que não está desacordado. Pede ajuda à Carolina- a recepcionista da clínica que testemunhou o acidente- para levá-lo à clínica. Ao que demonstra, sua torção havia piorado, e sofria leves escoriações.

Quando entra na clínica, é levado por Juliane à sala da ortopedista, que largou mais cedo, e tira um raio-X. Felizmente, o tornozelo não foi prejudicado, mas Peter sentia muitas dores. Ela o massageava, garantindo que estaria tudo bem a tempo, mesmo vendo o cara se debulhar em lágrimas. Após muitos minutos, as dores aliviam mais, e a moça pede que ele tome um anti-inflamatório. Mas o rosto do cara ainda estava molhado.
-O que aconteceu, rapaz?
-Eu tinha vindo de uma festa, e de repente vieram uns carros... O resto você já viu.
-Não. Falo do seu rosto. Não é só dor que sente. Tem mais alguma coisa.
Peter se acaba de chorar novamente.
-Vai começar tudo de novo, essa não... Esse capítulo 4 não termina?
-Eu posso confiar em você pra contar?
Com ar sedutor, sem ser vulgar, Juliane responde.
-Você pode contar comigo pra qualquer coisa, Peter.
-Tem certeza?
-Até pras coisas que você é incapaz de imaginar- chega perto do rosto dele.


*****



São asteriscos pra mudar de cena, relaxe. O capítulo está rolando. Como o pai de Peter deu pela falta do filho, e Leilah morava no mesmo prédio, ambos ficaram apreensivos. O garoto chega com um gesso no pé e uma faixa enrolada no antebraço. Às seis da manhã.
-Filho, ainda bem que você chegou- dá-lhe um abraço, mas o cara só olha pro rosto de Leilah, sua ex-namorada. Nesse instante, ela pergunta:
-O que houve com você? Por que está desse jeito?- ao perceber que ele não colaborava com o diálogo, disparou- Com quem você estava?
Ui, agora a coisa ficou séria!

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