16/10/2016

WERNECK CAKE/ CAPÍTULO 26: CONQUISTAS COM ANTIDOPING



-Peter, eu tô só conversando com ela. Não precisa ficar com a pulga atrás da orelha.
-Eu tava atrás da porta e escutei tudo. Deixa a menina em paz.
-Meu irmão...
-Solta o braço dela agora. Ou quer que vá aí soltar?
Lívio larga Juliane e Peter abre a porta para que ele saia. Ele segue atrás pra comprovar se ele não tenta mais nada. Ainda dentro do banheiro, nossa heroína suspira e chora baixo, com medo de que Peter tenha reconhecido sua voz.
-Eu preciso sair daqui. Preciso sair desse emprego de uma vez.

*****

-O que deu em você, hein?
-Posso perguntar a mesma coisa. Entrar no banheiro e dar em cima da menina? Você já imaginou se ela grita mesmo e chama a polícia?
-Peter, quem vai acreditar nessa fulana?
-Não dá pra acreditar em tu.
-Olha só, nem todo mundo trata bem as mulheres que nem você.
-Lívio, não é questão de quem você encontra. É de saber tratar um ser humano.
-Só que ninguém mais me empata. Eu não vou desistir. Não descanso enquanto essa tal de Nuelle dançar o pole dance dela em cima da minha cama. Mas, por enquanto, muito obrigado por nada.
-Disponha- ironiza. E ambos saem da casa.
Juliane se recompõe do susto causado por Lívio e tem a coragem de encarar o namorado pela primeira vez desde que passou a dançar, mas ainda não diz nada.
-Tá tudo bem contigo?- pergunta Peter, e ela responde com a cabeça que está- Tem certeza? Porque o Lívio pode ter te machucado.
-Não... – solta um pigarro e começa a disfarçar a voz- Não precisa se preocupar. Eu já tava saindo daqui quando esse homem me encontrou. Acho que por hoje, ele não tenta mais nada. Mesmo assim...
-O quê?
-Obrigada por ter me defendido.
-Imagina. O meu amigo exagerou mesmo dessa vez.
-Pra você ver como dois caras podem ser diferentes e amigos ao mesmo tempo.
-Como assim? Tá querendo dizer que eu não devia querer conversa? Tem alguma coisa dele que eu não sei?
-Isso, eu não sei. Mas a mentira pode não durar tanto tempo assim.
-Credo, parece até minha namorada falando.
-De vez em quando, a gente tem que cruzar com gente sensata por aí. Eu cruzei contigo, você com a sua namorada. Valeu... – entra no Camaro amarelo... Digo, no camarim.
Nosso protagonista fica pensando se Lívio é de péssima índole para deixar as mulheres com pé atrás. Como estava de saída mesmo, decide ligar para a namorada e perguntar como está seu enteado. É o tempo de a dançarina chegar ao camarim, onde deixou o celular em modo normal. O problema é que quando ele liga, toca bem alto o refrão de uma música com coreografia coqueluche, conhecida como “Gangnam Style”.
Psy causando frisson e suspense nos personagens, quem diria?
Pois bem, acontece que Peter ouviu lá de fora (como é possível?) o ringtone. Ela, logicamente, ficou atônita, mas esperou que a ligação caísse por si mesma. Quando isto ocorreu, pôs o aparelho no vibracall. O cara achou aquilo estranhíssimo, mas tentou fazer a ligação.
-Oi, amor.
-Juliane, você tá onde?
-Em casa, ué.
-Ué? Por que “ué”?
-É que hoje eu fiquei cansada demais e vim da escola direto pra casa.
-Olha, eu te liguei agorinha e tu não atendeu. Onde é que você foi?
-Tava botando o Bernardo pra dormir. Hoje, mais inquieto do que nunca.
-Certo, eu liguei pra te dizer que eu já tô indo pra casa.
-Você não tinha uma... Uma reunião com o tal Lívio?
-Cansei do Lívio por hoje. Beijo, amor.
-Beijo, te amo.
Explicaremos agora como Juliane chegará mais rápido à sua casa do que Peter. Novamente, tem o celular em mãos.
-Carolina?
-Oi, Juliane. Tudo bem?
-Eu preciso que você me faça um favor.
-O que houve, Ju? Que voz de assustada é essa? Aconteceu alguma coisa?
-Depois eu te explico. Você pode me buscar com a sua moto?
-Claro.
-Tudo bem, mas vem logo, por favor. Anota aí, eu vou te dar o endereço.
Não dissemos que um dia a recepcionista prosperaria? Agora Carolina esbanja uma Shineray!

*****

Passados alguns dias, a saga de Juliane para esconder o novo emprego de Peter continua. Quando sai da Upa, para em uma lanchonete que fica na mesma rua.
-Quanto é um pastel de carne?
-É R$ 1,70- responde o vendedor.
-Me dá um, por favor- ela dá o dinheiro e o rapaz embrulha- Obrigada.
Carolina passa com sua moto ao largar do emprego e encontra a amiga e ex-colega de trabalho, quando esta está a caminho do ponto de ônibus.
-Juliane?- estaciona.
-Oi, Carol- as duas se beijam- Tá indo pra onde?
-Pra casa, e você?
-Pra casa. De shows.
-Juliane, você não acha que é muita pretensão achar que pode sustentar três pessoas dançando pole dance? No hospital, dá muito bem pra ganhar mais.
-Não é questão de dinheiro e sim de tempo. O Peter tá envolvido com esse negócio de música. Pensa em largar o emprego de cobrador e quando tem um tempo livre, tá lá. Enfiado naquele lugar, conversando sobre música com aquele cafajeste do Lívio.
-Por que você não diz de uma vez que esse Lívio tá tentando enganar o Peter?
-Falei assim por falar, entende? Também não posso ser tão clara assim. Senão ele desconfia. Se bem que ele já soltou duas indiretas.
-Acha que ele sabe e tá escondendo o jogo?
-Não faço ideia. Mas prefiro nem fazer, sabe? Isso só vai me deixar mais nervosa do que eu já estou.
-Que é que você tem?
-Além de falar do Lívio, que é o cara que embrulha o meu estômago, tem ainda o pastel que eu comi. Devia estar estragado. Vou descer antes e parar na farmácia pra comprar um laxante.
-Deixa que eu te levo. Lá mesmo, na farmácia, toma o remédio.
-Nem em sonho. Vai que eu passo mal em cima do cano. Eu aguento até o fim da apresentação. O problema é que hoje a Nieta me mandou esperar os boleros dela terminarem.
-É demais, hein? Sobe, que te levo pra farmácia. De lá, a gente passa na casa.

*****

Quando chegam à casa de shows, as meninas se despedem.
-Juízo, Juliane.
-Manda lembranças pro Santiago, Carol- e a gata entra.
O celular de Carolina toca. Só mesmo nessa web novela, o homem é mais grudento que a mulher.
-Oi, Santiago.
-Carolina, ligou uma moça da clínica dizendo que você esqueceu a bolsa lá.
-Não é possível, eu vou ter que voltar.
-Onde você foi? Não chegou até agora.
-Encontrei Juliane no meio do caminho. Ela tava passando mal e eu fui à farmácia com ela pra comprar um remédio.
Já que Carolina estava em frente a uma casa de shows, impossível quem está do outro lado da linha não escutar o barulho provocado por Nieta ao microfone.
-Bem-vindos ao “Bolero da Bodega”. Vamos começar com o clássico “Onde estará?”.
-Que lugar é esse, Carolina?
-Ah... - gagueja- Do... Do caminho da farmácia. Tchau!- desliga abruptamente.
Segundos suficientes para Santiago ficar com a pulga atrás da orelha.

*****
Lívio continua com os seus planos de destronar Peter do cargo de compositor dos Homens-incógnita. Mas sua nova preocupação é como obter um show particular de Nuelle em seu apartamento. Pra isso, ele tem uma ideia bastante clichê. Espera as apresentações de Juliane e Nieta terminarem.
Jujuba está arrumando sua bolsa no camarim, quando o vilão bate a porta.
-Quem é?
-Sou eu, Lívio.
Ela põe a máscara rapidamente e vai atendê-lo.
-O que você quer?
-Falar com você.
-Você quis dizer: ʺme embebedarʺ?- afirma ao vê-lo com dois copos de cerveja.
-Olha, Nuelle, você tem que me ouvir. Eu vim aqui te pedir desculpas pelo que aconteceu outro dia.
-Isso já passou, não tem mais importância.
-Sério?
-Sério. Sai!
-Espera... Eu queria te pedir uma coisa, já que não existe mais nenhuma desavença entre a gente.
-O quê?
-Queria que a gente fizesse um brinde, pra esquecer essa confusão e começar uma amizade. A gente pode ser amigo, não pode?
-Não sei...
-Por favor, Nuelle. É de coração.
-Tudo bem. É bonito mesmo o que você tá pensando em fazer. Mas só tem uma coisa: eu não bebo. Será que dá pra pegar uma Coca-cola pra mim?
-Tudo bem, eu já volto- sai Lívio, todo empolgado.
Como não é boba desde os tempos em que Leilah era a vilã do folhetim, Juliane imita o Pedro Bial e dá aquela espiadinha pela fechadura. Vê Lívio no bar, comprando a tal Coca-cola. Só que ele tira a alça de alumínio e põe um sonífero.
-Desgraçado!- sussurra enquanto espera ele entrar.
-Pronto, cheguei. Tim-Tim.
-Tim-Tim, Lívio.
Tim-Tim mesmo, pois um dos dois está prestes a cair, como o sinal da Tim.
Juliane bebe a Coca-cola inteira.
-Nossa, que sede, hein?
-Deu pra perceber que sou quente, tenho que matar a sede de todas as formas. Inclusive, daquelas que ninguém imagina.
-Uau!
-Olha, eu preciso ir ao banheiro. Você pode me esperar lá fora?
-Por mim, tudo bem.
-Já volto, querido- entra nele com a bolsa. Tranca a porta e bebe o laxante que foi comprado na farmácia. Logo, provoca o próprio vômito e dá a descarga.
Ao sair de lá, sem a bolsa, simula um mal-estar.
-Nuelle, o que é você tem?
-Me sentindo tonta. Vendo tudo escuro de repente. O que tá rolando comigo?
-Calma, procura descansar...
Juliane finge um desmaio.
-Nuelle! Nuelle, acorda! É, vamos ver se agora você me recusa.
Mal sabe ele que está em uma farsa que pode abalar a sua relação profissional com o Peter. Mas como a Juliane vai escapar do apartamento do cara?

Nenhum comentário:

Postar um comentário