Passados uns dias, surge na nossa
historinha pra boi dormir a belíssima Ester Werneck, descendente de
norte-americanos que teve a infelicidade de ser a mãe de Peter, e por isso,
disputar títulos de beleza com aquela mulher indescritível que é nossa heroína
Juliane. A magnata da indústria fonográfica- sinal de que ela vai entrar em
falência daqui a alguns anos- esteve viajando por cidades do sudeste do país,
divulgando novas bandas que pretendem estourar nas rádios, no Vagalume e
no Letras.mus.br.
Mas chega desse papinho empresarial. O fato é
que um dia depois daquele suspense do vídeo, ela volta para a capital e, como
sua volta foi anunciada pelos meios de comunicação (aham!), Peter e Juliane
decidem procurá-la. Logo, ela simpatiza com a moça, e não vê problemas com a
faixa etária dela. Claro que entre ela e o adolescente não há nenhuma diferença
abismal de idade, mas romances assim despertam o ibope de qualquer novela como
a nossa.
Dando um pouco mais de ação ao
capítulo, ou dando alguma ação mesmo, os dois chegam ao apartamento e conferem
seu Arnaldo paparicando Bernardo, como um avô bem aplicado e carinhoso.
-Onde vocês estavam? Demoraram tanto.
-Eu fui procurar algumas clínicas de
fisioterapia, pra ver se eu consigo descolar alguma coisa. Pelo menos meu
antigo chefe não fez queixa nenhuma.
-Nem teria como, amor. Você não fez nada.
-Agora, né, Peter? Agora eu moro contigo. Mais
suspeito do que isso, impossível.
-Só que antes, Pai... A gente passou na casa
da minha mãe.
-Ester? Mas ela não estava viajando?
-Voltou há uns dias. Não tinha ligado ainda
porque tava resolvendo uns lances da gravadora dela.
-Sua mãe ainda tem aquele vício triste dela de
pegar menino novo?
-Como assim, Peter? Ela é o quê? Um tipo
feminino particular de MC Sheldon? Só nos novinhos?
-Desde que ela se separou, resolveu curtir com
os meninos da minha idade. Fazer o quê? É a vida dela, ué. Mas até onde eu sei,
pode ficar tranquilo, Pai. Desta vez, parece que ela sossegou o facho. Vamos,
Juliane?
-Vamos, amor.
Os dois entram no quarto, mas Arnaldo sente
que a volta da ex-esposa pode trazer novidades até então impensáveis. Ele,
assim como nós, fica apreensivo pra saber o que Ester pode aprontar. Se é que
vai aprontar alguma coisa.
*****
Muito na cara que pretendemos
fazer com que ela faça algo que dê uma reviravolta na história. Por enquanto,
porém, bastam a presença e as menções à Ester para fazer com que Arnaldo
pudesse pirar com a visita que sua ex pretendia fazer.
Toca a campainha. Isso depois de uns cinco
dias após a última cena.
-Ester? Você aqui?
-Tudo bem, meu querido?- já vai entrando-
Conte as novidades. Acostumado com o bebê?
-É, vou levando aos poucos. Daqui a pouco
Bernardo vai correr pelo apartamento todo. A sorte é
que eu não cuido dele sozinho. Juliane e Peter se revezam.
-Ah, tadinho. Parece que o trabalho deles
com o bebê vai aumentar. Já, já você vai se ver descansado de tanto trocar
fralda, não é?
-Por quê? Que história é essa, Ester?
Saem do quarto Peter, Bernardo (em seu colo) e
Juliane. O casal leva duas malas e uma mochila com as roupas da criança.
-Onde é que vocês vão com isso?- procura
entender Seu Arnaldo.
-Juliane, leva a tua mala, por favor. Me espera
lá fora, no carro. Mãe, segura o Bernardo e a mochila dele. Já, já, eu desço.
Juliane fecha a porta, e Ester logo a auxilia.
Ambas fecham a porta, sem dar qualquer explicação.
-Meu filho, o que foi que houve?
-Sair com as malas na mão não é nada pro senhor?
A gente tá indo embora.
-Que história é essa, Peter? Vocês vão pra
onde?
-Eu vou pra casa da minha mãe. Eu já falei com
ela, e ela falou que vai receber a gente sem problema nenhum.
-Pra quê isso? Me explica? O que é que tu tá
me escondendo?
-Eu nada, mas o senhor tem muito pra me dizer.
-Que absurdo é esse, meu filho? Se eu falei
alguma coisa...
-Falou, não. Fez! Eu nunca que ia dizer que o
senhor é um canalha, mas eu tive essa surpresa.
-Peter!
-Fica quieto! E assiste. Assiste até o final!-
enquanto grita violentamente, tira do bolso a câmera que emprestou a Juliane.
-O que tem aqui?
-Vê! Eu quero ver o senhor assistindo, e
negando depois que não deu em cima da Juliane!
Arnaldo fica sem chão ao descobrir que o filho
já sabe de suas investidas de canastrice.
-Quem mentiu pra você, Peter...
-Mentira uma ova! Você tava em dando em cima
da minha mulher, e vem me dizer que isso é mentira? Assiste essa porcaria de
vídeo- aperta a câmera, que executa o vídeo, sem áudio- você mentiu antes e tá
mentindo agora? Nega agora que você deu em cima da mulher! Nega, Pai! Fala!
Os olhos de Arnaldo marejam, e a
voz do canalha some de vez. Sem contar que a gente prepara a pipoca no
microondas pra acompanhar o resto da novela familiar.
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