01/04/2015

LEVE-ME DAQUI/ CAPÍTULO 1: BREVE

Era o sexto vestido que Karen provava. A cada tentativa, a amiga Lívia ficava confiante, mas sempre se esquecia do quanto sua melhor amiga era vaidosa (e exigente). Abriu rapidamente a cortina do provador e chegou a fazer uma pose.
-E aí?
-Gente, tá muito lindo! Mas você tem corpo de modelo, qualquer coisa fica bem, né, Karen?
-Sério mesmo?
-Sério. Disse isso, inclusive, pra todos os cinco vestidos anteriores. Como eu escolhi o primeiro que vi, acho que já vou sair da loja pronta, pra não correr o risco de perder a festa.
-Não precisa exagerar, né, Lívia? Tenho que arrasar hoje. Quero que Danilo me veja e se morda de ciúmes.
-Não era mais fácil você fazer as pazes com ele?
-Tão fácil assim não tem graça. Eu quero que ele experimente, pelo menos por um tempo, a sensação de que pode me perder. Assim, ele não olha pra nenhuma outra.
-Karen, você tem certeza de que não entendeu errado? Danilo é doido por você, só existe você na vida dele. Não encana.
-Ele é homem, querida. Você já viu homem ser de uma mulher só? Se você me apontar um, é porque ele sabe disfarçar muito bem. Quando a gente foi à balada, ele não tirava os olhos de Isabela. Vamos ver se ele vai se empolgar tanto com ela hoje.
-Não sei se você tá lembrada, mas hoje a festa é na casa dela. Vai fazer um escândalo por causa de Danilo?
-Imagina, não vou fazer nada. Mas isso não impede que eu provoque meu namorado em doses homeopáticas.
-Sabe, eu nunca pensei que você fosse ficar assim por causa de um homem...
-Nem eu, sabia? Mas eu faço qualquer coisa pra não deixar Danilo ficar com outra. Ele é só meu.
-Tudo bem, não tá mais aqui quem falou. Diz que vai levar esse, por favor!
-É... É bonito... Vou levar, mas não sem antes ir atrás dos brincos que vão combinar com ele.
-Ah, não, para de palhaçada! Leva esse vestido, e eu te empresto algum brinco meu, Karen!
-Imagina se eu vou usar aquela bijuteria tua. Não, senhora! Pode me esperar que eu vou comprar um. E fica quieta, que eu vou te levar pra casa de Isabela. Sossega, menina! A gente não vai se atrasar.

/////

Arrumando-se, já em casa, Lívia termina de dar os últimos retoques em seu visual. A mãe, Heloísa, entra em seu quarto.
-Outra noitada?
-Não precisa ficar nervosa, eu não vou demorar.
-O que vai ser dessa vez?
-Aniversário de Isabela.
-Sei, não... Karen pode até se acostumar com essa vida de farra, mas você...
-Qual o problema? A faculdade tá em recesso, e eu não vou ficar a noite toda fora.
-Você sabe que eu fico preocupada do mesmo jeito, minha filha. Sem contar que do jeito que a coisa vai, Karen não anda nada bem.
-Como assim, Mãe?
-Esse ciúme que ela sente do namorado... Vai acabar sobrando pra você.
-Imagina, o que tem uma coisa a ver com a outra?
-Se ela encasqueta com a ideia de que você tá dando em cima do namorado dela, de repente?
-Mãe, não viaja. Nunca que eu ia olhar pro namorado de uma amiga minha.
-Karen anda desconfiada de tudo e de todas.
-Só que a gente é amiga desde o começo da faculdade, antes de ela conhecer Danilo. E eu só falo com ele por causa dela. Também acho que ela exagera nesse ciúme todo. Inclusive, ela falou que vai causar na festa de hoje, só pra provocar ele.
-Toma cuidado, Lívia. Se você achar que ela pode, sei lá, passar dos limites com essa ideia de querer pegar Danilo com outra...
-Mãe, fica tranquila. Eu nunca olhei pra Danilo com outra intenção.
-Não estou tô que você olha. Quero que você não se torne responsável pelo que ela pode pensar.
-Já te disse pra ficar tranquila.
-O amor pode cegar uma mulher, minha filha.
-Mãe, chega desse assunto, tá? Karen sabe muito bem quem eu sou pra dar em cima do namorado dela.
Ouve-se a buzina do carro de Karen, que está à porta da casa de Heloísa.
-Ela chegou.
-Bom, então deixa eu ir logo, que a gente já deve tá muito atrasada.
-Você vem com ela?
-Venho, sim. Pode dormir, viu? A bênção.
-Que Deus acompanhe você- Heloísa leva a filha ao portão da casa, e acena para Karen.
Em frente à residência de Lívia, está o lar da família Figueira. Iolanda, a dona da casa, está à espera do marido e dos filhos. Um deles, Juliano (o mais novo), vem acompanhado do pai. Este, por sua vez, fala de longe ao ver Lívia dentro do carro:
-Boa noite.
Lívia vê pelo retrovisor o rosto do adolescente, e decide ignorá-lo, como também ao pai deste. Karen também não diz nada, reparando ainda na roupa suja que os dois vestem. Heloísa retribui ao “boa noite” dito por Cícero e entra em casa assim que o carro sai daquela rua.

/////

As amigas tem um rápido diálogo no carro.
-Por que você demorou tanto?
-O lado ruim de você ter uma coleção interminável de sapatos é que você pode demorar horas pra achar um par que caia bem com seu vestido novo.
-Já tava achando que você não vinha mais, que o Danilo tinha desistido da festa.
-Falando nele, pega meu celular dentro da bolsa, por favor.
-Você vai dirigir e falar no celular?
-Lívia, a gente não tá na Avenida Caxangá, não, por favor! Só pra sair desse fim de mundo, a gente demora cinco minutos. E eu tô indo devagar, pega o celular pra mim.
Assim que Lívia lhe entrega o aparelho, Karen faz uma ligação para Danilo.
-Onde é que você tá?
-Fui buscar Lívia na casa dela.
-É o quê? A ligação tá cortando.
-Danilo, tá me escutando?
-Karen, quer olhar pra frente, por favor?
-Peraí, Lívia, tô tentando escutar Danilo aqui.
Acende o sinal amarelo, e Karen só consegue escutar ruídos pelo telefone. Lívia olha para a amiga e não presta atenção no semáforo.
-Karen, onde é que você tá? Tá conseguindo me ouvir?
Quando o sinal fecha, Toni vem pela calçada. Ele aproveita a oportunidade e corre para atravessar a rua. Karen ultrapassa a faixa. É exatamente neste momento que Lívia grita:
-Para o carro!

Toni toma um susto ao perceber o veículo encostado à sua perna, assim que Karen freia o carro.

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