-O quê?
-Por acaso, você
tem uma alternativa mais prática que essa? Elimina esse cara de uma vez por
todas, Karen. Essa é a única solução.
-Você enlouqueceu
de vez? Eu não posso fazer isso!
-Não me venha com
seus falsos escrúpulos agora. Foi você que colocou a Lívia em coma, e agora
vamos ter que contornar a sujeira que você fez.
-Fiz por sua causa,
por culpa do que você tinha feito comigo! Agora, você quer que eu dê fim num
cara, que eu mate ele?
-O que isso vai te
custar? Você foi capaz de tentar matar sua melhor amiga só porque soube que ela
tá grávida de um filho meu! Se conseguiu fazer isso sem um pingo de culpa, não
vai ser difícil se livrar de um completo desconhecido.
-Tá bom. Talvez você
tenha razão e essa seja a única saída mesmo. Mas como é que eu faço?
-Muito simples…
Passa com o carro em cima dele.
-Não, eu não posso.
-Deixa de ser
covarde, Karen. Com ele fora do caminho, ninguém vai desenterrar essa conversa
que Lívia teve com o irmão dele. Sem contar que se o próprio falar, quem vai
crédito a ele? Um psicólogo? Você já viu pobre se consultar com psicólogo, Karen?
-A questão não é
essa, Danilo. No dia da festa, eu tava falando com você pelo celular, quando eu
tava dirigindo. Quase que atropelo Toni. Ele sabe qual é o meu carro.
-Por isso, não. Eu
tenho como falar com um amigo meu. Ele te consegue outro veículo, com vidro
fumê, e te entrega o carro na portaria do seu prédio.
-Mas e depois? Eu
vou entregar o carro amassado pra ele?
-Isso é o de menos.
O que foi? Vai amarelar agora?
-Tudo bem. Você tá
certo. É melhor fazer isso o quanto antes. Eu só espero que Toni e o irmão não tenham
aberto a boca pra mais ninguém.
-Calma, Karen. Não
precisa se desesperar. Logo, logo tudo isso vai acabar.
-Percebeu o quanto
eu tô me sujando por você, Danilo?
-Se engana. Você
não tá se sujando. Tá garantindo o meu futuro.
-Quem ia pensar que
o Dr. Rafael ia ter um filho como você?
-E a minha mãe?
Como ela ia imaginar que ia escolher tão mal a própria nora?- sai do banheiro-
Amanhã de manhã, o carro vai pro seu prédio.
-Mas já?
-Perder tempo pra
quê? Se livra logo daquele lixo- fecha a porta.
/////
Ainda de manhã, Rafael
liga para a casa de Heloísa. A doméstica atende ao telefone.
-Alô?
-Bom dia. Eu
gostaria de falar com a senhora Heloísa dos Santos Figueira.
-Sim, é ela. Quem
está falando?
-Aqui é o Dr. Rafael,
Dona Heloísa, que está cuidando de sua filha.
-Ah, sei. Como vai,
Doutor? Aconteceu alguma coisa?
-Eu tomei a
liberdade de ligar porque... Eu preciso lhe dar uma notícia. É sobre a sua
filha.
/////
Lívia continua
vagando pela portaria do prédio onde Karen mora, na esperança de fazer com que
a moça ouça as verdades que tem pra lhe dizer.
-Vai pra onde,
desgraçada? Encontrar com seu namorado, é? Aquele safado? Não fica achando que
isso vai acabar assim, não, Karen. Todo mundo vai saber a assassina que você é-
o carro que Danilo prometeu chega, com o próprio jovem como condutor.
-Pronto. Agora você
não precisa mais se preocupar, meu amor.
-Tem certeza de que
não tem perigo? Ninguém vai me reconhecer?
-De vidro fechado,
num carro diferente?
-O que é que vocês tão
fazendo?
-Mas como é que eu
faço pra encontrar o Toni? Será que ele tá em casa?
-Toni? O que ela
quer com ele?
-É mais fácil ele
estar na igreja. Reparou que o carro do pastor não tá aqui?
-É, tem razão.
-Você mesma disse que
ele vive enfurnado lá.
-Foi, a Lívia me
contou isso, uma vez, quando eu perguntei quem era ele. Mas como é que eu vou
fazer isso? Vou jogar o carro em cima dele perto da igreja, pra todo mundo ver?
-Jogar o carro? Karen,
o que você tá pensando em fazer?
-Claro que não.
Espera ele andar umas quadras, e depois você avança. A igreja você deve saber
onde é.
-Sei. Pastor Homero
tentou me convencer várias vezes de fazer uma visita lá. Que homem irritante,
que saco...
-Chega de perder
tempo. Quando você acabar de vez com Toni, aí você me manda uma mensagem.
-Você não vai fazer
isso, sua louca!
-Me deseja “boa
sorte”, Danilo. Eu vou precisar.
-Que ela te
acompanhe, meu amor... Como te acompanhou no dia em que a Lívia tomou o remédio
que você deu. Agora vai. Vai de uma vez, Karen.
A estudante entra
no carro.
-Karen, você não
pode fazer isso! Karen! Eu tenho que avisar a Juliano- enquanto a moça põe o
cinto, Lívia entra no carro e tenta argumentar mais uma vez- Já não basta o que
você fez comigo, você ainda vai matar o Toni? Desliga esse carro agora, Karen!
Desliga agora!
Tarde demais. Karen
sai em alta velocidade. O porteiro observa a movimentação de Danilo, que volta
para a sua residência a pé.
/////
-Fala, Doutor. Lívia
piorou? Faleceu?
-Não. Os sinais
vitais dela voltaram, Dona Heloísa.
-O senhor quer
dizer que... Ela vai acordar?
-Infelizmente, eu
não posso precisar quando sua filha vai acordar, nem se isso acontecerá. Mas é um
avanço. Ela mexeu uma das pernas, embora não responda a nenhum dos nossos
estímulos.
-Que bom, Doutor...
Graças a Deus- tenta disfarçar sua alegria.
-A senhora não
pensa em voltar aqui, pra vê-la?
-Ainda não, Doutor.
Minha mágoa ainda é muita grande.
-Por favor, não
demore muito. Não é só pra sua filha que a vida pode estar dando uma segunda chance
nesse momento.
-Está bem, Doutor.
Obrigada por ligar. Bom dia- desliga lentamente o telefone, chorando
emocionada.
/////
Toni vem caminhando
da igreja com uma mochila. Abre-a e a confere um dos CDs que traz consigo. Juliano
vai ao seu encontro.
O carro em que Karen
e Lívia estão observa o DJ de longe. Juliano presta atenção apenas em pisar
somente nos quadrados que decoram a calçada recém-construída a poucas ruas de
sua casa. Assim que Toni toma uma longa distância, e se aproxima do irmão
caçula (que ainda não o percebe), a vilã decide acelerar o automóvel.
-Não faz isso com
ele, Karen! Deixa ele em paz!
-Foi isso que eu me
tornei... Uma assassina... Só que mais um crime, menos um crime... Eu vou
conseguir o seu amor, Danilo. E eu vou te provar, mais uma vez, que eu sou a
mulher da sua vida- pisa no acelerador, assim que o rapaz desce à rua, já
olhando pra Juliano.
Lívia se desespera.
Nesse momento, Rafael observa seu corpo na enfermaria, contente com a
recuperação da jovem. Mas o médico se assusta, assim como os outros pacientes,
ao se deparar com a apavorante cena da moça gritando um único nome:
-Juliano!
Lívia brada assim
que avista o irmão de Toni adiante. E ele a ouve.
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