07/04/2015

LEVE-ME DAQUI/ CAPÍTULO 7: BEIJE-ME

Na emergência do hospital, dois enfermeiros ajudam a colocar Lívia- ainda desacordada e bastante pálida- sobre uma maca. Toni corre junto com eles. Rafael está saindo do local, quando um dos rapazes o avisa sobre a jovem.
-Doutor, me desculpe, mas...
-Calma. O que foi que houve?
-Essa moça entrou aqui desmaiada, com uma hemorragia- avisa o outro enfermeiro.
-Fui eu quem trouxe ela pra cá, Doutor.
-Você é da família dela?
-Não, não. Sou vizinho dela.
-Certo, qual é o nome dela?
-Lívia.
-Tem como entrar em contato com alguém da família dela, pra avisar que ela está aqui?
-Tenho, sim. Mas pelo amor de Deus, salva a vida dela!
-Fica calmo. Eu vou atendê-la agora. Você aguarda aqui, por favor.
-Obrigado, Doutor.
-Podem levar a moça pra sala de medicação- Rafael segue os enfermeiros e se tranca lá, enquanto Toni põe as mãos sobre o rosto e ora pela saúde de Lívia.

/////

Ao resolver tirar um cochilo no meio da tarde, Danilo não poderia imaginar que sua mãe decidiria interrompê-lo.
-Levanta, Danilo.
-Ah, mãe, o que foi agora?
-Toma. Seu celular.
-Quem é que tá me ligando?
-Você é quem vai ligar. Procura na sua agenda o número de Karen e marca um encontro com ela.
-Como é que é?
-Avisa que vai passar no apartamento dela e diz que quer conversar. Sem brigas, sem agressões... Como se os dois fossem pessoas civilizadas.
-A senhora não acha que tá levando isso muito a sério, não?
-O que eu sei é que se eu não conduzisse a situação a ferro e fogo, você continuaria se acomodando. Danilo, tudo que eu quero é evitar um desentendimento entre você e Rafael. Aliás, mais um.
-Mãe, eu não quero voltar com a Karen. Bota isso na sua cabeça.
-A única coisa que consegue entrar na minha cabeça é que você não quer nada! Chega de sempre ter que atender aos seus caprichos. Liga pra Karen e marca um encontro com ela. Agora!
Danilo obedece a mãe e procura o número da ex.
-Tá fora de área.
-Então, mande um recado pela internet.
-Excluí Karen do Facebook.
-Parece que eu, como sempre, vou meter que tomar as rédeas da situação, não é mesmo? Pois muito bem- vai até o guarda-roupa do filho- Diz uma cor.
-Azul?- diz Danilo, sem saber o que a mãe pretende, até que ela joga sobre a cama uma camisa polo dessa mesma cor.
-Veste.
-Mas pra quê isso?
-Pensa que usando aquelas roupas de maloqueiro, com a calça abaixo das nádegas, eu vou te deixar sair de casa? Não, senhor. Pode se arrumar.
-A senhora tá me obrigando a me arrumar todo só pra ver Karen?
-Estou. E pra me certificar de que você não vai mentir dizendo que foi vê-la sem ter visto a cara dela, o motorista vai te levar até o prédio.
-Você só pode tá de brincadeira comigo!
-Brincadeira é o que você faz com essas piranhinhas que você paga com o dinheiro do seu pai. Chega de tolerar seus fracassos, Danilo. Você vai reatar com a Karen, e vai limpar sua imagem pelo Rafael.
-Só na sua cabeça que ela vai me aceitar de volta.
-Vai, sim. Olha pra você. Será que não consegue mesmo fazer a cabeça dela? Mesmo que ela não acredite em nada do que você disser, pode convencê-la. Quantas vezes você não deve ter interrompido as palavras agressivas com um beijo, um carinho, uma noite de amor? Quando você ouvir da boca dessa menina que ela quer mais um beijo seu, vai saber que a batalha finalmente foi vencida. Troque de roupa, que daqui a cinco minutos o motorista sairá- Patrícia sai do quarto, e sua frieza deixa Danilo irritado.

/////

Após algumas horas, Toni continua sem notícias de Lívia. A agonia parece aumentar quando finalmente Rafael volta a dar as caras, com uma expressão preocupante. Para o rapaz, o pior acontece.
-Como é que ela tá, doutor?
-Infelizmente, eu... Não tenho boas notícias.
-Ela faleceu?
-Não. Mas está em coma.
-Mas... Por quê? Como foi isso? O que é que ela tem?
-A paciente...
-Lívia. Lívia é o nome dela.
-Essa moça entrou aqui com uma infecção gravíssima. Por conta disso é que ela entrou em coma.
-Mas ela vai melhorar, não vai?
-Ela pode melhorar, sim. O coma pode ser reversível, já que o que provocou esse estado da consciência é de natureza infecciosa.
-O senhor sabe por que ela tá com essa infecção?
-Eu consegui controlar a hemorragia que ela teve. E também pude identificar qual foi a causa disso tudo. Sua vizinha ingeriu um medicamento que causou esse problema.
-Foi uma alergia que ela teve, certo?
-Não exatamente. O medicamento que ela tomou pode causar infecção caso ela tenha ultrapassado a dosagem recomendada ou tenha passado da validade. De qualquer forma, ela não poderia ter ingerido. Eu vou ter que avisar à polícia.
-Polícia? Só porque ela tomou um comprimido?
-O que Lívia tomou foi um medicamento abortivo, rapaz. Ela tentou tirar o bebê que está esperando.

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