Na emergência do
hospital, dois enfermeiros ajudam a colocar Lívia- ainda desacordada e bastante
pálida- sobre uma maca. Toni corre junto com eles. Rafael está saindo do local,
quando um dos rapazes o avisa sobre a jovem.
-Doutor, me
desculpe, mas...
-Calma. O que foi
que houve?
-Essa moça entrou
aqui desmaiada, com uma hemorragia- avisa o outro enfermeiro.
-Fui eu quem trouxe
ela pra cá, Doutor.
-Você é da família
dela?
-Não, não. Sou
vizinho dela.
-Certo, qual é o
nome dela?
-Lívia.
-Tem como entrar em
contato com alguém da família dela, pra avisar que ela está aqui?
-Tenho, sim. Mas
pelo amor de Deus, salva a vida dela!
-Fica calmo. Eu vou
atendê-la agora. Você aguarda aqui, por favor.
-Obrigado, Doutor.
-Podem levar a moça
pra sala de medicação- Rafael segue os enfermeiros e se tranca lá, enquanto
Toni põe as mãos sobre o rosto e ora pela saúde de Lívia.
/////
Ao resolver tirar
um cochilo no meio da tarde, Danilo não poderia imaginar que sua mãe decidiria
interrompê-lo.
-Levanta, Danilo.
-Ah, mãe, o que foi
agora?
-Toma. Seu celular.
-Quem é que tá me
ligando?
-Você é quem vai
ligar. Procura na sua agenda o número de Karen e marca um encontro com ela.
-Como é que é?
-Avisa que vai
passar no apartamento dela e diz que quer conversar. Sem brigas, sem
agressões... Como se os dois fossem pessoas civilizadas.
-A senhora não acha
que tá levando isso muito a sério, não?
-O que eu sei é que
se eu não conduzisse a situação a ferro e fogo, você continuaria se acomodando.
Danilo, tudo que eu quero é evitar um desentendimento entre você e Rafael.
Aliás, mais um.
-Mãe, eu não quero
voltar com a Karen. Bota isso na sua cabeça.
-A única coisa que
consegue entrar na minha cabeça é que você não quer nada! Chega de sempre ter
que atender aos seus caprichos. Liga pra Karen e marca um encontro com ela.
Agora!
Danilo obedece a
mãe e procura o número da ex.
-Tá fora de área.
-Então, mande um
recado pela internet.
-Excluí Karen do
Facebook.
-Parece que eu,
como sempre, vou meter que tomar as rédeas da situação, não é mesmo? Pois muito
bem- vai até o guarda-roupa do filho- Diz uma cor.
-Azul?- diz Danilo,
sem saber o que a mãe pretende, até que ela joga sobre a cama uma camisa polo
dessa mesma cor.
-Veste.
-Mas pra quê isso?
-Pensa que usando
aquelas roupas de maloqueiro, com a calça abaixo das nádegas, eu vou te deixar sair
de casa? Não, senhor. Pode se arrumar.
-A senhora tá me
obrigando a me arrumar todo só pra ver Karen?
-Estou. E pra me
certificar de que você não vai mentir dizendo que foi vê-la sem ter visto a
cara dela, o motorista vai te levar até o prédio.
-Você só pode tá de
brincadeira comigo!
-Brincadeira é o que
você faz com essas piranhinhas que você paga com o dinheiro do seu pai. Chega
de tolerar seus fracassos, Danilo. Você vai reatar com a Karen, e vai limpar
sua imagem pelo Rafael.
-Só na sua cabeça
que ela vai me aceitar de volta.
-Vai, sim. Olha pra
você. Será que não consegue mesmo fazer a cabeça dela? Mesmo que ela não
acredite em nada do que você disser, pode convencê-la. Quantas vezes você não
deve ter interrompido as palavras agressivas com um beijo, um carinho, uma
noite de amor? Quando você ouvir da boca dessa menina que ela quer mais um beijo
seu, vai saber que a batalha finalmente foi vencida. Troque de roupa, que daqui
a cinco minutos o motorista sairá- Patrícia sai do quarto, e sua frieza deixa
Danilo irritado.
/////
Após algumas horas,
Toni continua sem notícias de Lívia. A agonia parece aumentar quando finalmente
Rafael volta a dar as caras, com uma expressão preocupante. Para o rapaz, o
pior acontece.
-Como é que ela tá,
doutor?
-Infelizmente,
eu... Não tenho boas notícias.
-Ela faleceu?
-Não. Mas está em
coma.
-Mas... Por quê?
Como foi isso? O que é que ela tem?
-A paciente...
-Lívia. Lívia é o
nome dela.
-Essa moça entrou
aqui com uma infecção gravíssima. Por conta disso é que ela entrou em coma.
-Mas ela vai melhorar,
não vai?
-Ela pode melhorar,
sim. O coma pode ser reversível, já que o que provocou esse estado da
consciência é de natureza infecciosa.
-O senhor sabe por
que ela tá com essa infecção?
-Eu consegui
controlar a hemorragia que ela teve. E também pude identificar qual foi a causa
disso tudo. Sua vizinha ingeriu um medicamento que causou esse problema.
-Foi uma alergia
que ela teve, certo?
-Não exatamente. O
medicamento que ela tomou pode causar infecção caso ela tenha ultrapassado a
dosagem recomendada ou tenha passado da validade. De qualquer forma, ela não
poderia ter ingerido. Eu vou ter que avisar à polícia.
-Polícia? Só porque
ela tomou um comprimido?
-O que Lívia tomou
foi um medicamento abortivo, rapaz. Ela tentou tirar o bebê que está esperando.
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