-Outra queima de
arquivo? Você endoidou de vez?
-Vai arriscar
deixar a Lívia viva pra contar o que sabe?
-Pode ser que ela
fique com alguma sequela desse incidente, talvez esqueça do que aconteceu.
-Tá, Danilo, mas
não podemos contar com a sorte toda vez. Você teve um plano bom, OK, mas e
agora? O Toni pode ficar na dele, o que eu duvido muito, na tentativa de
proteger a família dele. Mas e se aquela menina acordar? Como é que a gente
faz? Ela te denuncia por abuso sexual e a mim por tentativa de assassinato.
-E o que você acha
que vai ganhar com a morte dela? Isso só vai despertar mais suspeita.
-Não, não vai, porque
Lívia, pra todos os efeitos, tá com o pé na cova. Só precisa de um
empurrãozinho.
-Então, por que você
não acaba com ela de uma vez? Tem que
ser eu?
-Tem. Porque eu tô
sob suspeita, Danilo. Já você paga de inocente pra todo mundo. Se eu cair, a
primeira coisa que vão pensar é que você foi mais uma vítima minha. Isso até eu
resolver abrir a boca.
-Tá me ameaçando de
novo, Karen?
-Eu tô tentando te
mostrar que dando um fim na Lívia, você vai estar protegendo a nós dois. O
irmão de Toni só teve uma conversa com ela, mas não pode provar, a não ser que
Lívia confirme tudo. Qual é a solução? Acaba com o indício.
-Como é que eu vou
fazer isso?
-Uma visita de
cortesia, afinal vocês mal se conhecem, não é?- Karen o beija ardentemente- Destrói
logo a Lívia, pra gente acabar com esse pesadelo!
-Tá bom, Karen.
Amanhã, numa hora que meu pai não tiver lá, eu faço isso.
/////
O escritório de
advocacia de Silvio Medeiros recebe Patrícia, anunciada pela secretária.
-Pode deixá-la
entrar.
-Sim, senhor. O Dr.
Silvio vai recebê-la agora mesmo.
-Obrigada.
-Patrícia, que
prazer imenso tê-la aqui no meu escritório.
-O prazer é todo
meu, Silvio. Quer dizer, seria se eu não tivesse vindo contar uma situação
muito delicada.
-Por favor,
sente-se. Do que se trata?
-Silvio, o meu
marido, Rafael, ele... Bem, eu descobri que há alguns dias, ele fez um exame,
um check-up, e...
-Continue,
Patrícia.
-Rafael está em
estado terminal. À beira da morte.
-Eu não entendo... Rafael
sempre foi de vender saúde...
-Pois é, acho que
tem a ver com a série de mal-estares que ele vem tendo ultimamente.
-Eu sinto muito,
Patrícia. Não pelo fato de Rafael ser um dos meus mais estimados clientes, mas
pelo amigo que sempre foi.
-Amigo... É
exatamente nesse ponto que eu queria chegar.
-A que se refere?
-Bom, é que... Há
um tempo, meu marido vem tendo uma série de desentendimentos com o nosso único
filho.
-Sim, mas você há
de concordar que Danilo sempre lhes deu trabalho.
-A questão não é
essa, Silvio. O que eu temo é o fato de, nem mesmo sabendo que sua vida está
por um fio, Rafael tenha procurado modificar o testamento.
-Modificar?
-Sim, Silvio. Rafael
sempre nos deu migalhas, temos que conviver sempre com o que ele nos oferece. Eu
sei que eu não vou ficar desamparada em caso de separação ou viuvez, mas o
Danilo pode sair prejudicado dessa estória.
-Continuo não
entendendo, Patrícia. Aonde você quer chegar com essa conversa.
-Eu quero que você
modifique o testamento do Rafael, e faça com que Danilo se torne o maior
herdeiro dele.
/////
Lívia abre os olhos.
Começa a enxergar as coisas à sua volta, como os pacientes que não lhe
percebem, já que a cortina está entreaberta. O único que a vê acordando é
Danilo.
-Você... – fala,
bastante ofegante.
-Sabia que a Karen tá
na mira da polícia por sua culpa?- Danilo fecha a cortina.
-O Toni... Vocês
quiseram... Matar... O Toni?
-Pelo visto, tá bem
informada. Como foi que soube? Toni te contou? Não interessa. Foi a última
conversa de vocês.
-Não faz... Nada...
Com ele...
-Salvo pelo gongo.
Fica tranquila, Lívia. Pelo menos nem ele, nem o retardado do irmão dele, sabe
do principal.
-Infeliz...
-Eu sei que você
quer contar a verdade toda. Só que não vai dar tempo.
-Sai... Sai daqui.
-Vou, sim. Eu vim
pra propor uma troca: saio da sua vida e você da minha- pega o travesseiro da
moça- Pra sempre- Danilo põe o travesseiro sobre o rosto da estudante.
/////
-A senhora enlouqueceu?
Eu não posso fazer isso, não posso trair a confiança do Rafael dessa forma!
-Digamos que não é
uma quebra de confiança, Silvio. É apenas abreviar o tempo que teríamos até que
meu marido se decida caso queira ou não beneficiar o Danilo com uma parcela polpuda
dos seus bens.
-Quem pensa que eu sou pra aceitar cometer um absurdo desses?- Silvio é surpreendido com um maço de dinheiro
jogado em sua mesa.
-Doutor, nem
relógio trabalha de graça. Eu pago muito bem por esse servicinho. E depois que
meu marido se for, pra que Deus o tenha de vez, eu desembolso mais e lhe dou.
Pense com carinho. Sabe que de onde vem esse, tem mais. Adultere o testamento,
e eu pago bem mais do que isso. Até breve, Silvio.
A atitude estarrece
Silvio, que pega o telefone e chama a secretária.
-Pois não, senhor?
-Tem alguma audiência
marcada pra amanhã?
-Não, sua agenda
está livre, Dr. Silvio.
-Não marque nenhum
compromisso pra amanhã. Tenho que resolver uma coisa.
/////
Danilo continua sufocando
Lívia com o travesseiro, silenciosamente. Mas o rapaz é surpreendido por Toni,
que abre a cortina da enfermaria e flagra a cena.
-O que é que você
tá fazendo, desgraçado?- Toni dá um soco no rosto do rapaz, que cai no chão e
solta o travesseiro, para depois sair correndo- Quem é você? Volta aqui!- Toni
vai atrás de Danilo, que passa pelo enfermeiro e sai do hospital- Segura esse
cara, pelo amor de Deus! É um criminoso!
-Mas o que foi?
-Aquele cara tentou
matar a Lívia!
-Quem tentou matar
Lívia?
-Ele!- aponta para
Danilo, ainda visto na rua. Toni ainda tenta alcançá-lo, mas é impedido pelo enfermeiro.
-Você ficou louco? Esse
cara é filho do Dr. Rafael!
-O quê?
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