28/04/2015

LEVE-ME DAQUI/ CAPÍTULO 26: EU NÃO SEI, NÃO... EU NÃO SEI!

Já amanheceu o dia. Danilo continua sangrando, devido a pancada sofrida na madrugada. A mancha escorre em seu rosto, e é nesse momento em que ele levanta o rosto. Toma um susto ao ver Karen com uma arma em punho, no quarto do hotel, com travesseiros e lençóis arrumados em pleno chão, com a porta da varanda aberta.
-Bom dia, meu amor. Que noitada emocionante você deve ter tido, hein? Só acordou agora...
-O que foi que você fez, infeliz?
-Nada. Só dei o meu jeito pra impedir que você passasse o resto dos seus dias na cadeia.
-Você ficou doida de vez? Me desamarra agora! A polícia tá atrás de você pelo que você fez com a Lívia e o Toni!
-Atrás de mim em que parte do planeta, Danilo? No meu apartamento? Seu bobo. Não tá vendo que eu arrumei outro ninho de amor pra gente?
-Você não ia me deixar assim, algemado, com as pernas amarradas numa cadeira, se quisesse meu bem. O que você quer?
-Ah, Danilo... Tantas vezes você me fez essa pergunta... E ainda não sabe a resposta? Tudo o que eu mais quis foi ser amada por você... Mas você nunca se deu a oportunidade de me conhecer.
-Conhecer quem, Karen? Uma mulher totalmente perturbada? Uma desequilibrada? Um monstro?
-Tudo o que veio antes de você me minar, antes de você me destruir pouco a pouco. Eu adorei tentar me livrar do crentelho chato, da lambisgóia da minha melhor amiga, mentir pra doméstica suburbana... Mas eu falhei em tudo. Tanto que agora a polícia tá no meu rastro. Vai ver que... Se eu te matar, isso pode servir de compensação.
-Você podia ter mandado alguém fazer isso na delegacia, não é?- debocha.
-Podia, sim, mas não ia ter o mesmo sabor de acabar com você com as minhas próprias mãos. Você me tornou um lixo de mulher, o pior ser humano que existe na face da terra...
-Cala essa boca, Karen. Tudo o que você fez foi porque quis. A única coisa que eu te pedi, e que você não soube fazer, porque é uma incompetente, foi dar um fim no Toni!
-Esse só foi mais um dos meus sacrifícios.
-Caprichos! E se você não conseguiu com ele, comigo muito menos.
-Quer apostar?
-Karen, não brinca comigo.
-Se você quiser sair vivo daqui, Danilo, vai ter que fazer o que eu mandar. Eu fujo, vou pra um lugar em que você não esteja e faço você escapar daqui num piscar de olhos. Só que você vai ter que provar que me ama.
-Até quando você vai continuar com essa palhaçada? Mete uma coisa na sua cabeça: o que a gente teve foi química, atração sexual, relação de conveniência!  Parece que eu vou ter que ser mais claro: Não te suporto!- grita pausadamente.
-Pode ser. Mas só tem duas saídas, Danilo: ou você faz exatamente o que eu quero hoje ou vai ter que escolher entre a cadeia e o inferno! Você não tem muito tempo pra pensar.
-Tudo bem. Eu faço o que você quiser. Agora, me tira daqui.
-Ainda não, meu amor. O espetáculo vai começar dentro de alguns minutos.

/////

Patrícia recebe a notícia de que Danilo não está mais na delegacia.
-Como assim, sumiu? Como foi que ele fugiu?
-Nós não sabemos, Dona Patrícia. A polícia foi ao apartamento de Karen Martins de Souza, mas...
-Bando de incompetentes! É isso que vocês são! Se o meu filho tiver correndo perigo, eu vou denunciar vocês por negligência! Já não bastasse essa prisão absurda do Danilo, agora nem o paradeiro dele vocês... – Patrícia se cala ao ler uma mensagem enviada por Karen.
-Chame a polícia e a imprensa. Danilo está comigo no Hotel Lux Night. Vou libertá-lo assim que chegarem.
-Dona Patrícia, ainda está na linha?
-Estou, Delegado. Acabo de descobrir que meu filho está com a Karen.
-Calma, pode ser uma armadilha.
-Não, eu sinto que não. Karen mandou uma mensagem pra mim, dizendo pra avisar a vocês e à imprensa. Disse que vai soltá-lo assim que chegarmos ao local indicado.
-Diga onde é. Eu vou acionar os reforços.

/////

Rafael está em seu consultório, quando Fabiano entra.
-Doutor, tem uma pessoa querendo falar com o senhor.
-De quem se trata?
-Se identificou como Silvio, mas não disse qual era o assunto.
-Tudo bem. Deixe entrar.
-Com licença- assim que Fabiano se retira, o advogado entra.
-Dr. Silvio, que surpresa!
-Como se sente, Rafael?
-Afogado no trabalho. Pra ver se eu consigo esquecer o que tem me acontecido nas últimas horas. Acredito que já saiba da prisão de Danilo.
-Danilo? Mas por quê?
-É uma longa estória, Doutor. Mas eu prefiro não tocar nesse assunto. Enfim, o que lhe trouxe aqui?
-Rafael, quando eu perguntei como se sentia, eu estava me referindo ao seu estado de saúde.
-Me sinto bem, Dr. Silvio. O que aconteceu?
-Bem que eu desconfiava... Rafael, eu vim tratar de um assunto delicado com você.
-Sou todo ouvidos. Algum problema?
-Ontem, a sua esposa veio me procurar pra que eu mudasse o seu testamento.
-Como é que é?
-Sim, ela chegou a solicitar que eu fizesse do seu filho o maior beneficiado.
-Eu não acredito que Patrícia teve estômago pra fazer isso comigo! Como é que ela pôde tramar isso nas minhas costas?
-Eu sei que é um assunto delicado e muito pessoal, Rafael, mas sua esposa disse que fazia isso por conta do seu quadro de saúde. Ela disse que você era vítima de uma doença terminal, segundo um check-up que você havia feito.
-Foi então que ela pensou em garantir o futuro do Danilo... Porque sabe que são farinha do mesmo saco, que escondem as verdades de mim, que tramam tudo pelas minhas costas...
-Como seu advogado, eu me senti na obrigação de avisar. Mas não quero causar nenhum tipo de desavença entre você e sua esposa.
-Um a mais, um a menos... Nos habituamos a nos ferir, Silvio.

/////

Patrícia chega junto com a polícia, gritando o nome do filho na rua.
-Karen Martins de Souza, sabemos que Danilo de Carvalho Tosak está sob seu poder. Renda-se agora mesmo, antes que meus homens invadam o quarto em que estão.
A moça leva Danilo até a varanda do prédio.
-Danilo! Meu filho!- Patrícia se desespera ao ver a noiva do rapaz armada.
-Fica frio, Delegado! Eu vou me render, mas antes a gente vai barbarizar contando umas coisinhas...
-Tá falando do quê, Karen?
-Tô falando que você vai assumir que abusou da Lívia e tentou matá-la.
-Claro que não vou fazer isso! Aí sim é que eu não saio da cadeia!
-Melhor você abrir a boca e falar tudo que eu disser. Quer que eu acabe com você aqui mesmo, na frente das câmeras de TV? Olha que a audiência vai disparar também, viu? Conta a verdade.
-Mãe... Aquela acusação de que eu tinha estuprado a Lívia... É verdade! E eu quis acabar com ela no hospital.
-Finalmente admitiu!
-Não, Delegado! Não! O senhor não está vendo que ele tem medo daquela psicótica? Ela está apontando uma arma pra ele! Ela está obrigando meu filho a mentir!
-Mãe, acredita em mim! O que eu falei é verdade!
-E eu dei ouvidos a ele- Karen continua descontrolada- Tanto que eu tentei matar o Toni atropelado, porque ele sabia de quase tudo!
-Tudo o quê?
-Eu soube que a Lívia tava grávida do Danilo e dei pra ela um remédio chamado LMD. Menti dizendo que não ia ter efeito colateral nenhum, mas tinha. E eu dei pra ela beber, pra que ela perdesse o bebê e morresse. O carro que eu dirigi quando fui à vila onde o Toni mora, foi o Danilo que me arranjou. Tudo por causa do amor que tenho por esse homem!
-Karen, acaba logo com isso... – Danilo suplica.
-Deixa o meu filho em paz, sua louca!
-O show só tá começando, Patrícia! Tanta questão fez de que eu fosse sua nora, e agora dá esse escândalo em praça pública? Que vexame!
-Karen, se renda agora mesmo. Ou eu vou dar ordem pros meus homens entrarem!
-Faz isso, Delegado. Quem arrombar essa porta primeiro vai encontrar dois cadáveres: o meu e o dele! Eu vou soltar o Danilo, sim! Na hora que eu quiser!- põe o rapaz para dentro do quarto, deixando Patrícia ainda mais desesperada.
-Já fiz o seu número, Karen! Agora me tira daqui!
-Comecei a me divertir, é verdade. Mas está na hora de nós dois rirmos de tudo isso como se não houvesse amanhã- abaixa a arma- Tira a roupa.
-O quê?
-Danilo, o hotel tá cercado de policiais, não temos toda a manhã pra isso! Tira a roupa! O que é? Você acha que eu deixei meu amplo apartamento, uma cobertura com vista pro mar, pra se enfiar em qualquer espelunca? Não, meu amor! Te trazer pra cá tem um propósito romântico: ficarmos a sós. E finalmente, ouvir você dizendo que me ama- Karen liga o microssystem e põe um CD, repetindo uma música- Lembra dessa? Sempre eu dizia, quando a gente brigava, que essa música resumia bem a gente. Tá esperando o quê pra tirar a roupa e me amar pela última vez?
Danilo se despe, ao mesmo tempo que Karen. Ela se aproxima de um dos travesseiros que estão no chão e solta o revólver, colocando-o por debaixo do objeto. Em tom baixo, ela acompanha a canção:
-“Ele quer me destruir. Eu não sou ninguém até a hora de acordar, até mais além. Como vês, o amor vai carregar as coisas na hora que ele chegar, vai levar tudo que conseguir chutando as paredes que eu construí”...
A voz cessa quando Danilo cede aos desejos íntimos de sua perigosa noiva, que esquece completamente da situação de perigo em que ela mesma os colocou. Havia vontade de se sentir amada, mesmo quando não podia ser. Isso a faz se esquecer da arma, que Danilo tira debaixo do travesseiro. Ele deixa de estar sobre a moça e aponta a arma para a jovem.
-Se eu fosse você, não ia tentar virar o jogo, Karen. Eu movo todas as peças, e sou obrigado a descartar uma delas: você.

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